quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O caráter de Deus



Há algumas impressões sobre a fé cristã que se tornaram amplamente disseminadas no imaginário dos não-cristão, em certa medida por responsabilidade de uma boa parcela dos próprios cristãos, atráves da promoção de determinadas teologias que se tornaram mais populares ou mais acessíveis, mas que em uma análise minimamente atenta, não encontram o necessário respaldo bíblico de sustentação.

Destaca-se nesse contexto a noção de que Deus é um agente a ser acionado pela fé para atender às demandas dos homens bons sempre que solicitado. Deus aí é quase um gênio da lâmpada a atender desejos. Se Deus não agiu, foi porque a fé da pessoa não atingiu o nível satisfatório para movê-lo de sua posição de mero observador para a de distribuidor de bênçãos.
Por conta disso, surgem também justificativas necessárias para quando o "truque" falha, quando o resultado esperado não é alcançado: Foi falta de fé, foi castigo.


É facilmente perceptível, simplesmente ao ler a Bíblia, o quanto esta "mágica" está distante do discurso bíblico. Sim, porque é algo mais perto da feitiçaria, que busca dominar as forças naturais e sobrenaturais para conseguir alcançar objetivos. Basta observar as palavras do próprio Jesus, às portas da crucificação: "...se possível afasta de mim este cálice, mas que seja feita a SUA vontade" (Mc. 14:36Lc 22:42), ou quando o apóstolo Paulo fala sobre o tal do espinho na carne com o qual ele se debatia e sobre o qual disse "...acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim. e disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza." (II Cor.12:9).

São apenas dois exemplos de casos em que um pedido não foi atendido e não podemos dizer que houve falta de fé.


É verdade que a Bíblia está repleta também de passagens que falam coisas como "...se tiverdes fé e não duvidardes..."ou"...tudo o que pedirdes na oração, crendo, o recebereis..."

Porém, algo importante é deixado de lado, que é mencionado em outro trecho: "Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites." (Tiago 4:3).
Quer dizer, a prática da fé, pressupôe tb uma sintonia com a vontade de Deus. Deus não pode e não vai entrar em contradição consigo mesmo para satisfazer as mais loucas expectativas que um ser humano é capaz de ter.

É verdade também que, por experiência própria, todos nós poderemos nos lembrar de algo não atendido por Deus, que aos nossos olhos estaria longe de ser algo fútil, ou desnecessário. Porém, o ponto aqui é que o relacionamento com Deus, conforme proposto na escritura, vai muito além de uma experiência baseada no pedir e receber, mas em um vínculo crescente de confiança e sintonia com o caráter pessoal deste Deus.


Por isso, também, temos que ter cuidado com explicações simplórias que dizem que Deus não deu por falta de fé, ou por castigo. A Bíblia diz sobre o caráter de Deus: "...para que sejais filhos do Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos." (Mateus 5:45).  Deus, portanto, pode muito bem estar proporcionando coisas boas para quem não merece, não para endossar o que estas pessoas fazem, mas justamente para esta pessoa, quem sabe, finalmente ter um vislumbre da bondade divina ou talvez alguns anos mais para que repense alguns de seus valores.
Nesse contexto, a fé à luz da Bíblia, deixa portanto de ter aquele estereótipo de ser um poder de mover objetos, ou de pensamento positivo, uma coisa quase mágica para fazer "Deus trabalhar para nós" e se torna algo totalmente consistente com confiança que se tem no caráter desse Deus. É a certeza do controle e das melhores intenções dele em tudo, apesar de tudo e apesar das aparências.

Como em uma ilustração que me ocorreu certa vez, sobre a fé no caráter de Deus:
"A fé não é o que te faz colocar a família no carro e ir à praia

num dia de chuva, na certeza de encontrar o Sol por lá.
Fé é o que te dá a certeza de que o mau tempo não será
suficiente para estragar o momento que Deus preparou para você ali."

Confiar no caráter de Deus é mais do que uma busca por realizar desejos e se livrar de incômodos existenciais. Confiar no caráter de Deus é acreditar em um Deus que se relaciona de forma prática e contínua com o homem. É acreditar que Deus tem prazer em atender os anseios do coração humano, mas que também é soberano na sua vontade e esta soberania se manifesta no que é o melhor para nós, que Ele nunca irá nos deixar em falta, nunca irá nos trair e nunca irá nos decepcionar.

"Conheçamos e prossigamos em conhecer o SENHOR". (Oséias 6.3).

Fonte: texto publicado originalmente no site http://razaoparacrer.blogspot.com.br, em 20 de janeiro de 2013, por Hamilton Furtado.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O que a Bíblia diz sobre o Aborto?


Não é novidade o fato de se tirar intencionalmente a vida antes do nascimento. Embora seja recente a adoção de "direitos de aborto" como uma causa política progressiva nas sociedades ocidentais, o aborto tem sido praticado em todas as culturas, desde tempos antigos. Na verdade, uma das principais realizações da disseminação do evangelho no mundo greco-romano foi repelir essa prática, e o seu parente mais próximo, o infanticídio, às margens da sociedade. No paganismo clássico, embora às vezes controverso, o aborto (como a eutanásia) eram comum e amplamente aprovado. Os médicos antigos que faziam o juramento de Hipócrates, cuja visão médica era movida pelo desejo de salvar a vida, e não tirá-la, estavam nadando contra a corrente. Foi a igreja de Jesus cristo que percorreu o mundo romano com um grande movimento em favor da vida, estabelecendo padrões na medicina, na cultura e nas políticas públicas, que ainda condicionam a mentalidade da fragmentada cristandade do século XXI.

Os leitores que buscam aborto em um índice remissivo provavelmente não encontrarão, e como resultado os crentes sugeriram que as Escrituras fazem silêncio sobre o assunto e, portanto, podemos agir como quisermos. Essa conclusão depende de alguns sérios equívocos. Os fundamentos bíblicos de uma ampla proibição ao aborto provocado são profundos, nas doutrinas da criação e encarnação.

O ponto de partida para um entendimento bíblico da natureza humana é a verdade de que seres humanos são criados à imagem de Deus. Está claro, com base em Gênesis 1.26,27, que isso se aplica a todos os que são membros da espécie humana. O Homo Sapiens é diferente de todos os outros "tipos", pelo fato de que trazemos a semelhança com o nosso Criador. Está escrito especificamente que a imagem foi transmitida às mulheres, bem como aos homens, e que permaneceu depois da queda (Gn 9.6). Tal acontecimento se aplica  a judeus e gentios, religiosos e irreligiosos, jovens e velhos, os que estão no auge da capacidade humana, bem como os doentes e incapacitados. A imago Dei é o que nos torna os seres que somos, e existe onde quer que haja membros da nossa espécie e, portanto, é genética.

Enquanto questões extraordinariamente difíceis são propostas pela perspectiva de híbridos de humanos e animais (e, talvez, robôs humanóides), a questão aqui é simples. Se alguém é membro da espécie humana, esta pessoa traz a imagem divina. Portanto, a sua vida é sagrada. Com esta única admissão, encontramos a base para a bioética bíblica, bem como respostas imediatas a muitas das mais incômodas perguntas na medicina e biociência contemporâneas. Ela fornece uma resposta direta à questão do aborto provocado, uma vez que o mandamento "Não matarás" (Ex 20.13), se aplica a todos os seres humanos desde o princípio da vida até o seu fim. E este mandamento está explicitamente enraizado no fato de que somos criados conforme a imagem divina (Gn 9.6), no contexto irônico da instituição da pena de morte: "Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado; porque Deus fez o homem conforme a sua imagem".

Este princípio da espécie é de fundamental importância para o debate sobre embriões humanos, uma vez que cientistas desenvolveram técnicas usando fertilização in vitro e clonagem, tornando possível o uso de embriões para pesquisas destrutivas. A posição da bíblia é inequívoca: os que fazem parte da espécie, feitos conforme a imagem divina, não devem ser assassinados.



O segundo fundamento está na doutrina da encarnação. Para ilustrar este princípio da criação da espécie conforme a imagem, na sua encarnação, o Filho de Deus, a Segunda Pessoa da trindade, assumiu a forma humana, e o fez a partir do princípio da usa existência biológica humana, e o fez a partir do princípio da sua existência biológica humana. Quando, no "sexto mês" (Lc 1.36, uma referência não ao calendário, mas ao avançado estágio da gravidez de sua prima Izabel), o anjo disse a Maria que ela conceberia através de um milagre, teve início a vida humana do Filho de Deus. Pouco tempo depois, Maria visitou Isabel, e nós vemos o primeiro testemunho de João Batista a seu parente e Senhor, como um feto de seis meses no útero de sua mãe, diante da presença do embrião de Jesus, com poucos dias de idade (LC 1.39-45).

Diante dessas declarações teológicas básicas, as muitas referências incidentais à vida ainda não nascida no Antigo Testamento - nos profetas, em Jó, e particularmente nos Salmos - assumem um forte significado (por exemplo, Sl 139.13 e os versos seguintes).

O único texto bíblico que às vezes é oferecido como uma refutação é Êxodo 21.22 e os versos seguintes, passagem que se refere à punição apropriada a ser aplicada se os homens, durante combate, acidentalmente atingissem uma mulher e levassem-na a abortar. Há traduções diferentes da passagem, no entanto, isso não tem relevância para o debate sobre o aborto deliberado, uma vez que se refere ao homicídio involuntário de um filho não nascido, e não a um homicídio deliberado.

Nigel Cameron

Fonte: Bíblia de Estudo - Defesa da Fé - CPAD - págs. 987 e 988


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Os milagres Bíblicos são imitações de mitos pagãos?


Com frequência, aparece a queixa de que os milagres da Bíblia, especialmente os milagres de Jesus, eram motivados ou até mesmo inspirados por relatos pagãos do mundo antigo. Alguns tentam alegar que as curas, a possessão demoníaca, os nascimentos de virgens e as ressurreições eram comuns nos tempos antigos. Assim, esta é uma tentativa de dizer que a Bíblia não é diferente de outros documentos religiosos. talvez os cristãos tenham até mesmo plagiado outras narrativas.

Embora seja verdade que uma miríade de histórias de milagres adornavam o mundo antigo, a consequência não é necessariamente que as Escrituras as duplicavam. Embora promovida em alguns círculos populares, esta suposição é equivocada em vários níveis.

É verdade que alguns acadêmicos enfatizam as similaridades entre narrativas de milagres, pagãs e bíblicas. Mas nós devemos também acentuar as diferenças mais comuns (e profundas). Por exemplo, normalmente há um imenso abismo filosófico entre os antecedentes pagãos e bíblicos, para suas respectivas narrativas de milagres. A mentalidade pagã incorporou mais comumente padrões de natureza cíclica e repetitiva, marcados por ciclos sazonais. Por outro lado, a filosofia judaica da história move-se em padrões lineares, de um evento ao seguinte, culminando do grande clímax de Deus.



Além disto, estas histórias pagãs com frequência dizem respeito a pessoas que nunca viveram na história, como Hércules, da antiga mitologia grega, ao passo que Jesus e outros realizadores bíblicos de milagres viveram, indubitavelmente. Os estudiosos observam que estas histórias pagãs nunca foram influentes na Palestina, onde prevalecia uma mentalidade muito diferente.

Surpreendentemente, nenhuma história de milagres do mundo antigo é sequer candidata a servir de inspiração para os milagres de Jesus. Poucas destas histórias são anteriores ao Novo Testamento e se aproximam dos milagres de Jesus. Assim sendo, é difícil provar uma correspondência.

A respeito da ressurreição de Jesus, a inadequação desta solução proposta fica ainda mais aparente. Os textos afirmam claramente que heróis pagãos proeminentes foram ressuscitados depois das narrativas do Novo Testamente. Os estudiosos sabem que alguns ensinamentos antigos foram copiados do cristianismo, e a ressurreição de Jesus pode ser um exemplo de algo que foi copiado!

Assim, há muitas razões por que as narrativas do Novo testamento não derivaram de textos pagãos. A resposta mais crucial, declarada de maneira clara, é que nós temos muitas razões para crer que Jesus realmente realizou milagres durante o seu ministério. Na verdade, praticamente todos os estudiosos e críticos contemporâneos concordam que Jesus realizou muitos atos que poderiam ser chamados de "milagres" ou "expulsão de demônios".

Acima de tudo, existe uma incrível quantidade de evidência que declara que Jesus realmente ressuscitou dos mortos. por exemplo, nós temos confiáveis narrativas de vários autores a respeito de muitos que pensaram que tinham visto o Jesus ressuscitado. A testemunha mais crucial é Paulo, uma testemunha ocular que forneceu um dos primeiros testemunhos. Assim sendo, não devemos deixar de perceber que inúmeras testemunhas dignas de crédito (incluindo os anteriormente céticos, Paulo e Tiago) estavam proclamando a sua convicção pela qual estavam dispostos a morrer. Longe de estar inspirados por fábulas ilusórias, muitos morreram pela sua crença honesta de que eles realmente tinham visto o Jesus ressuscitado. As estórias pagãs não explicam esta convicção.

Gary R. Habermas

Fonte: Bíblia de Estudo Defesa da Fé - CPAD - Pág. 1504