segunda-feira, 24 de junho de 2013

Casamento com um não cristão

Casamento com um não cristão

Dr. Craig,
Em seu artigo sobre o fracasso, que por sinal acho excelente, o senhor afirma que se casar com alguém que não seja cristão é um pecado:
“Com fracasso na vida cristã, quero dizer o fracasso do crente no relacionamento e no caminhar com Deus. Por exemplo, o cristão pode sentir-se decepcionado e fracassado por se recusar a dar ouvido ao chamado de Deus, por sucumbir à tentação ou por casar-se com um não cristão. Fracassos dessa espécie devem-se ao pecado. É essencialmente um problema espiritual, questão de fracasso moral e espiritual.”
Gostaria de saber como o senhor pode ter tanta certeza de que o casamento com incrédulos é pecado.
Com certeza, não consigo me lembrar de nenhuma ocasião em que Cristo afirma tal coisa. A ordenança de Paulo, “Não vos coloqueis em jugo desigual com os incrédulos” refere-se obviamente a não se ligar a “infiéis” (aos idólatras, por exemplo) e não a uma luta agnóstica pela fé.
Eu, particularmente, acredito que aqui a palavra marcante é “desigual” — com certeza nenhum cristão jamais deveria submeter a sua fé à do incrédulo. Além disso, se Paulo, em 2Coríntios, estivesse falando estritamente de casamento, então estaria contradizendo claramente a declaração de 1Coríntios:
“Mas eu, não o Senhor, digo aos outros: Se algum irmão tem mulher incrédula, e esta consente em viver com ele, não se divorcie dela. E se alguma mulher tem marido incrédulo, e este consente em viver com ela, não se divorcie dele. Porque o marido incrédulo é santificado por causa da mulher, e a mulher incrédula é santificada por causa do marido crente.”
Comentários?
Judith


Conforme você supôs corretamente, Judith, estou considerando as diretivas de Paulo em 2Coríntios 6.14ss. Penso que concordamos que seja pecado fazer conscientemente algo que contrarie uma ordem bíblica. Segundo afirma Tiago: “aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado” (Tg 4.17). Portanto, a única questão é se Paulo ordena aos crentes que não se casem com incrédulos.
Veja, então, o que Paulo diz: “Não vos coloqueis em jugo desigual com os incrédulos” (v. 14). Como poderia ser mais claro? Aqui, a palavra incrédulo é apistos, alguém que não tem fé. Sem dúvida, naquela época a maioria dos incrédulos também estava envolvida com a adoração de deuses pagãos (1Co 10.27). Mas apistos não significa “idólatra”. A palavra para idólatra é eidololatres (1Co 6.9). Incrédulo é alguém em quem falta a fé salvadora, inclusive os idólatras, mas não apenas eles.
Dê uma olhada no modo como Paulo emprega a palavra “incrédulo” em outras partes de suas cartas. Observe como em 1Coríntios 14.22-25 ele usa “incrédulo” como sinônimo para o “estranho”, alguém de fora da comunidade cristã. Em 1Coríntios 6.6, ao proibir processos judiciais entre os cristãos, Paulo está escandalizado com o fato de as disputas precisarem ser levadas à presença de incrédulos e não à presença de irmãos cristãos. Em 1Coríntios 7.12-13, ele se refere à situação de alguém cujo cônjuge é, conforme você observa, um “incrédulo”, ou seja, que não está salvo (v. 16). Acho que seja evidente que incrédulo é quem carece da fé salvadora e, por isso, não faz parte do corpo de Cristo.
Então, será que existe alguma contradição com a ordenança de Paulo em 1Coríntios 7.12-16? Não, de jeito nenhum! Ali Paulo está falando aos casais que eram os dois incrédulos, mas que depois um deles se tornou cristão e, portanto, se acha agora com um cônjuge incrédulo. Essa é, de fato, a situação, conforme evidencia o preponderante princípio de Paulo, aplicado também aos escravos e incircuncisos: “Somente viva cada um como o Senhor lhe determinou, cada um como Deus o chamou” (v. 17). “Cada um permaneça na condição em que foi chamado” (v. 20). Portanto, se você era casada quando foi chamada, Paulo lhe diz para não se separar do seu companheiro incrédulo. Permaneça casada, exatamente como era quando foi chamada para seguir a Cristo, a menos que o companheiro incrédulo deseje se separar.
Paulo, todavia, proíbe os crentes cristãos de se casarem com incrédulos. Por quê? Em 2Coríntios 6.15, ele pergunta: “Que parceria tem o crente com o incrédulo?”. Pode-se ficar tentado a responder à pergunta de Paulo: “Bem, nós dois nos ligamos mesmo em praticar esportes e em atividades ao ar livre” ou “Nós dois nos amarramos em finanças e negócios”. Mas Paulo teria considerado que esse tipo de resposta revela a total falta de entendimento da união conjugal. Para Paulo, a fé em comum em Cristo era fundamental para o relacionamento conjugal. O fato de pouquíssimos casamentos entre cristãos apresentarem hoje a centralidade de Cristo é um testemunho vergonhoso da extensão do quanto assimilamos a visão mundana de casamento. Não surpreende, portanto, que a taxa de divórcios entre casais cristãos seja tão elevada quanto entre os não cristãos.
Tenho o privilégio de estar casado por mais de trinta anos com uma mulher cujo amor está, primeiro e antes de tudo, em conhecer e servir ao Senhor Jesus Cristo. Nosso desejo em comum de conhecê-lo e de servi-lo nos tem unido fortemente. Não consigo imaginar como seria ser casado com alguém que não partilhasse desse primeiro amor em comum. Ele nos tem acompanhado ao longo dos altos e baixos da vida.
Desconheço a sua situação pessoal, Judith, mas se você está considerando a possibilidade de se casar com um incrédulo, gostaria de lhe instar a não fazer isso, não importa o quanto o ame. Obedeça a Deus, dê tempo a ele para trabalhar no coração do seu namorado e, enquanto isso, esforce-se para ser a mulher que Cristo quer que você seja, à medida que o seu caráter é formado em você.
Por outro lado, se já está casada com um incrédulo, nesse caso você deve confessar seu pecado, clamar pelo perdão do Senhor e então obedecer às ordens bíblicas acerca de como a mulher casada com um incrédulo deve portar-se (1Pe 3.1-6).
William Lane Craig
Originalmente publicada como: “Marrying a Non-Christian”. Texto disponível na íntegra em: http://www.reasonablefaith.org/marrying-a-non-christian. Traduzido por Marcos Vasconcelos. Revisado por Mariú M. M. Lopes.


Read more: http://www.reasonablefaith.org/portuguese/casamento-com-um-naeo-cristaeo#ixzz2X9Qc5cmu

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Você lerá que comissão aprovou projeto de cura gay. É uma falsa notícia e aqui se explica por quê.


19/06/2013
 às 3:24

Você lerá que comissão aprovou “projeto de cura gay”. É uma falsa notícia e aqui se explica por quê

Nem tudo se resume à minoria na rua. Há outros assuntos em pauta no país. O blog recebeu ontem quase 300 mil visitas. É provável que alguns novos leitores acabem tomando gosto pela página. Nem todos conhecem os debates travados aqui. Pois bem: nos jornais desta quarta, vocês encontrarão o que já está nos sites e portais. Algo mais ou menos assim: “Comissão de Feliciano aprova projeto da cura gay”. É mentira dupla! Em primeiro lugar, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara não pertence ao deputado Marco Feliciano (PSC-SP). Em segundo lugar, não existe projeto que prevê a cura gay. Isso é uma fantasia do jornalismo militante. Semelhante àquela que sustenta que o Estatuto do Nascituro é “Bolsa Estupro”. Tenho 51 anos. Quando eu tinha 20 e poucos, 30 e poucos e, acreditem, até 40 e poucos, era proibido fazer militância política em redação. Cada um que tivesse as suas convicções, mas o compromisso tinha de ser com o fato, segundo valores, a saber: defesa da democracia, do estado de direito, da economia de mercado. Era proibido, por exemplo, mentir , simplificar ou trapacear em nome do bem da humanidade. Jornalista reporta o que vê — e alguns opinam. Mas sem inventar o que não existe num caso ou noutro.
Ao fato mais recente: a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara aprovou um Projeto de Decreto Legislativo, do deputado João Campos (PSDB-GO), que susta dois trechos de uma resolução do Conselho Federal de Psicologia. O texto ainda tem de passar pelas comissões de Seguridade Social e de Constituição e Justiça. Se alguém não conhece detalhes do debate — geralmente ignorados porque fica mais fácil fazer proselitismo onde há ignorância, especialmente a bem intencionada — explico tudo abaixo, nos mínimos detalhes,conforme fiz, por exemplo, no dia 2 de maio. Vamos ver.
O Projeto de Decreto Legislativo 234/11 torna sem efeito o trecho do Artigo 3º e todo o Artigo 4º da Resolução 1/99 do Conselho Federal de Psicologia.
Então vamos aos documentos. A íntegra do Projeto de Decreto Legislativo estáaqui, com a justificativa. Reproduzo a parte propositiva em azul.
Art. 1º Este Decreto Legislativo susta o parágrafo único do Art. 3º e o Art. 4º, da Resolução do Conselho Federal de Psicologia nº 1/99 de 23 de Março de 1999.
Art. 2º Fica sustada a aplicação do Parágrafo único do Art. 3º e o Art. 4º, da Resolução do Conselho Federal de Psicologia nº 1/99 de 23 de Março de 1999, que estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação à questão da orientação sexual.
Art. 3º Este decreto legislativo entra em vigor na data de sua publicação.
Então é preciso fazer o que virou raridade nas redações quando os lobbies “do bem” ditam a pauta; saber, afinal, que diabo dizem os trechos que seriam sustados.
“Art. 3° – os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados.”
Parágrafo único – Os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades.
Art. 4° – Os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica.
Comento
Atenção! A proposta de Decreto Legislativo não toca no caput do Artigo 3º. Ele seria mantido intocado. Como deixa claro o projeto do deputado, seriam suprimidos apenas o Parágrafo Único do Artigo 3º e o Artigo 4º.  Como se nota, ao suprimir esses dois trechos da Resolução 1/99, o Projeto de Decreto Legislativo não passa a tratar a homossexualidade como uma doença. É mentira! Também não autoriza a “cura gay”. É outra mentira! São distorções absurdas!
Fato, não militância
Procederei a algumas considerações prévias, até que chegue ao cerne da questão. Avalio que a homossexualidade não tem cura pela simples razão de que não a considero uma doença. E nisso concordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde) e com o Conselho Federal de Psicologia. Assim, não acredito em terapias que possam converter héteros em gays ou gays em héteros (não se tem notícia de que alguém tenha buscado tal conversão). Mais: sexualidade não é uma opção — se fosse, a esmagadora maioria escolheria o caminho da maior aceitação social, e, nessa hipótese, as escolhas poderiam até ir mudando ao longo do tempo, à medida que determinadas práticas passassem a ser mais aceitas ou menos.
Há quem só goste de um brinquedo; há quem só goste do outro; e há quem goste dos dois. Essa minha opinião não é nova — o arquivo está aí. Os espadachins da reputação alheia, como escreveu Balzac, fazem questão de ignorá-la porque gostam de inventar inimigos imaginários para posar de mártires. Muito bem. Até aqui, não haveria por que os gays — ou o que chamo “sindicalismo gay” — estrilar. Mas é evidente que não pensamos a mesma coisa. Entre outras divergências, está o tal PLC 122 que criminaliza a chamada “homofobia”. Trata-se de um delírio autoritário. Já escrevi muito a respeito e não entrarei em detalhes agora para não desviar o foco.
Vamos lá. Desde 22 de março de 1999, está em vigência a tal Resolução 1 (íntegra aqui), que cria óbices à atuação de psicólogos na relação com pacientes gays. Traz uma porção de “considerandos”, com os quais concordo (em azul), e depois as resoluções propriamente. Listo os ditos-cujos:
CONSIDERANDO que o psicólogo é um profissional da saúde;
CONSIDERANDO que na prática profissional, independentemente da área em que esteja atuando, o psicólogo é frequentemente interpelado por questões ligadas à sexualidade;
CONSIDERANDO que a forma como cada um vive sua sexualidade faz parte da identidade do sujeito, a qual deve ser compreendida na sua totalidade;
CONSIDERANDO que a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão;
CONSIDERANDO que há, na sociedade, uma inquietação em torno de práticas sexuais desviantes da norma estabelecida sócio-culturalmente;
CONSIDERANDO que a Psicologia pode e deve contribuir com seu conhecimento para o esclarecimento sobre as questões da sexualidade, permitindo a superação de preconceitos e discriminações
Aí vem o conteúdo da resolução. O caput do Artigo 3º, com o qual ninguém mexe, é correto. Reproduzo:
“Art. 3° – os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados.”
Está claro, então, que os psicólogos não atuarão para favorecer a patologização da homossexualidade nem efetuarão tratamentos coercitivos. E a parte que cairia? Pois é…Transcrevo outra vez (em vermelho e em destaque):
Parágrafo único – Os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades.
Art. 4° – Os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica.
Têm de cair mesmo!
Qual é o principal problema desses óbices? Cria-se um “padrão” não definido na relação entre o psicólogo e a homossexualidade. Esses dois trechos são tão estupidamente subjetivos que se torna possível enquadrar um profissional — e puni-lo — com base no simples achismo, na mera opinião de um eventual adversário. Abrem-se as portas para a caça às bruxas. Digam-me cá: um psicólogo que resolvesse, sei lá, recomendar a abstinência sexual a um compulsivo (homo ou hétero) como forma de livrá-lo da infelicidade — já que as compulsões, segundo sei, tornam infelizes as pessoas —, poderia ou não ser enquadrado nesse texto? Um adversário intelectual não poderia acusá-lo de estar propondo “a cura”? Podemos ir mais longe: não se conhecem — ou o Conselho Federal já descobriu e não contou pra ninguém? — as causas da homossexualidade. Se um profissional chega a uma determinada terapia que homossexuais, voluntariamente, queiram experimentar, será o conselho a impedir? Com base em que evidência científica?
Há uma diferença entre “verdade” e “consenso da maioria influente”. Ademais, parece-me evidente que proibir um profissional de emitir uma opinião valorativa constitui uma óbvia infração constitucional. Questões ligadas a comportamento não são um teorema de Pitágoras. Quem é que tem o “a²= b²+c²” da homossexualidade? A resolução é obviamente autoritária e própria de um tempo em que se impõe a censura em nome do bem.
Ora, imaginem se um conselho de “físicos” ousaria impedir os cientistas de tentar contestar a relatividade. O que vai ali não é postura científica, mas ideologia. Se conceitos com sólida reputação de verdade, testados empiricamente, podem ser submetidos a um teste de estresse intelectual, por que não considerações que dizem respeito a valores humanos? Tenham paciência! O fato de eu não endossar determinadas hipóteses ou especulações não me dá o direito de proibir quem queira fazê-lo.
Fiz uma pesquisa antes de escrever esse texto. Não encontrei evidências de resolução parecida em nenhum lugar do mundo. O governo da Califórnia, nos EUA, proibiu a terapia forçada de “cura” da homossexualidade em adolescentes. É coisa muito diferente do que fez o conselho no Brasil. Países que prezam a liberdade de expressão e que não querem usar o discurso da liberdade para solapar a própria liberdade não se dão a desfrutes dessa natureza.
Então vamos lá. Eu não estou defendendo terapias de cura da homossexualidade. Eu não acredito que haja cura para o que não vejo como doença. Também não acho que estamos no universo das escolhas. Dito isso, parece-me uma suma arrogância que um conselho profissional interfira nessa medida na atividade clínica dos profissionais e, atenção!, dos pacientes também! Assim, no mérito, não vejo nada de despropositado na proposta do deputado João Campos. Ao contrário: acho que ela derruba o que há de obviamente autoritário e, entendo, inconstitucional na resolução porque decidiu invadir também o território da liberdade de expressão, garantido pelo Artigo V da Constituição.
É preciso saber ler.
Proponho aqui um exercício aos meus colegas jornalistas. Imaginem um Conselho Federal de Jornalismo que emitisse a seguinte resolução, com poder para cassar o seu registro profissional:
“Os jornalistas não colaborarão com eventos e serviços que proponham qualquer forma de discriminação social”.
“Os jornalistas não se pronunciarão, nem participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos contra pobres, negros, homossexuais, índios, mulheres, portadores de necessidades especiais, idosos, movimentos sociais e trabalhadores”
O idiota profissional diria: “Ah, está muito bem para mim! Eu não faria nada disso mesmo!”. Não, bobalhão, está tudo errado! Você se entregaria a uma “corte” de juízes que definiria, por sua própria conta, o que seria e o que não seria preconceito. Entendeu ou preciso pegar na mãozinha para ajudar a fazer o desenho? O problema daquele Parágrafo Único do Artigo 3º e do Artigo 4º é o subjetivismo. Ninguém pode ser obrigado, não numa democracia, a se submeter a um tribunal que pode dar a sentença máxima com base nos… próprios preconceitos.
Nem nos seus delírios mais autoritários ocorreria a um conselho profissional nos EUA, por exemplo, interferir dessa maneira na relação do psicólogo com o seu paciente. Uma coisa é afirmar, e está correto, que a homossexualidade não é doença; outra, distinta, é querer impedir que o profissional e quem o procura estabeleçam uma relação terapêutica que pode, sei lá, disciplinar um comportamento sexual sem que isso seja, necessariamente, uma “cura”.
Os tais trechos da resolução, entendo, são mesmo autoritários e inconstitucionais. E têm de cair. E o que parece, isto sim, não ter cura é a vocação de amplos setores da imprensa para a distorção. Cada vez mais, a notícia se transforma num instrumento para privilegiar “os bons” e satanizar “os maus”. Isso é militância política, não jornalismo.
Por Reinaldo Azevedo



http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/voce-lera-que-comissao-aprovou-projeto-de-cura-gay-e-uma-falsa-noticia-e-aqui-se-explica-por-que/

quarta-feira, 12 de junho de 2013

O argumento de Richard Dawkins para o ateísmo, em The God Delusion

O que o senhor acha do argumento de Richard Dawkins a favor do ateísmo no livro Deus, um delírio
- country not specified





Nas páginas 157-158 de seu livro, Dawkins resume o que ele chama de “o argumento central de meu livro” da seguinte maneira:
1. Um dos maiores desafios ao intelecto humano tem sido o de explicar como surge a aparência complexa e improvável de projeto no universo.
2. A tentação natural é a de atribuir a aparência de projeto ao próprio projeto verdadeiro.
3. A tentação é falsa, pois a hipótese de projeto faz surgir imediatamente o problema maior sobre quem projetou o projetista.
4. A explicação mais poderosa e engenhosa é a evolução darwinista pela seleção natural.
5. Não temos uma explicação equivalente para a física.
6. Não devemos perder a esperança de que surja na física uma explicação melhor, algo tão poderoso quanto é o darwinismo para a biologia.
Logo, Deus quase certamente não existe.
Esse é um argumento discrepante, visto que a conclusão ateísta “Logo, Deus quase certamente não existe” parece subitamente ilógica. Não é necessário ser filósofo para compreender que essa conclusão não é deduzida das seis declarações anteriores.
Na verdade, se considerarmos as seis declarações como premissas de um argumento que leva à conclusão “Logo, Deus quase certamente não existe”, então o argumento é patentemente inválido. Nenhuma regra de inferência lógica permitiria deduzir essa conclusão a partir das seis premissas.
Seria uma interpretação mais caridosa considerar as seis declarações, não como premissas, mas como resumos de seis passos no argumento acumulativo de Dawkins a favor da sua conclusão de que Deus não existe. Contudo, ainda que se trate de uma interpretação caridosa, a conclusão “Logo, Deus quase certamente não existe” não é inferida desses seis passos, mesmo que os admitamos como verdadeiros e justificados.
O que se deduz dos seis passos do argumento de Dawkins? No máximo, tudo que se depreende é que não devíamos inferir a existência de Deus com base na aparência de projeto no universo. Tal conclusão, porém, é bem compatível com a existência de Deus e também com a nossa crença justificável na existência de Deus. Talvez devêssemos acreditar em Deus, tendo como base o argumento cosmológico, o argumento ontológico ou o argumento moral. Pode ser que nossa crença em Deus não esteja baseada em nenhum tipo de argumento, mas fundamente-se na experiência religiosa ou na revelação divina. Pode ser que Deus queira que creiamos nele simplesmente pela fé. A questão é que a rejeição dos argumentos de projeto a favor da existência de Deus de nada serve para provar que Deus não existe, e muito menos que não há justificativa para se acreditar em Deus. Na verdade, muitos teólogos cristãos têm rejeitado alguns argumentos em prol da existência de Deus, sem com isso se comprometerem com o ateísmo.
Portanto, o argumento de Dawkins a favor do ateísmo é um fracasso, mesmo que admitamos, a bem do debate, todos os seus passos. Na verdade, vários deles são plausivelmente falsos. Considere-se apenas o passo (3), por exemplo. Aqui, a alegação de Dawkins é que não se justifica a inferência de projeto como a melhor explicação para a ordem complexa do universo. Daí, então, surge um novo problema: quem projetou o projetista?
A réplica é falha em pelo menos duas alegações. Para que uma explicação seja considerada como a melhor não se faz necessária a explicação da explicação. Trata-se de uma questão elementar com respeito à inferência da melhor explicação, conforme a prática da filosofia da ciência. Se, ao cavarem a terra, alguns arqueólogos descobrissem artefatos parecidos com pontas de flechas, cabeças de machados e fragmentos de porcelana, eles teriam razão de inferir que esses artigos não resultaram ocasionalmente de sedimentação e metamorfose, antes são produtos de algum grupo humano desconhecido, mesmo que não tivessem nenhuma explicação sobre que grupos eram nem de onde vieram. De modo semelhante, se alguns astronautas se deparassem com uma pilha de maquinismos amontoados do outro lado da lua, teriam razão de inferir que eram produtos de agentes inteligentes extraterrestres, mesmo que não tivessem a mínima ideia de quem teriam sido eles nem de como chegaram lá. Para admitir-se que uma explicação é a melhor, não é necessário conseguir explicar a explicação. De fato, esse tipo de exigência levaria à regressão infinita de explicações de tal maneira que nada jamais poderia ser explicado, e a ciência seria destruída. Portanto, no caso em questão, para se reconhecer o projeto inteligente como a melhor explicação para a aparência de projeto no universo, não há necessidade de explicar o projetista.
Outra razão é que Dawkins acha que, no caso de um projetista divino do universo, este é tão complexo como a coisa a ser explicada, de modo que não se faz nenhum avanço na explicação. Essa objeção dá origem a toda sorte de questões quanto ao papel da simplicidade na avaliação de explicações concorrentes. Por exemplo, como a simplicidade deve ser aquilatada em comparação com outros critérios como competência explicativa, abrangência explicativa, e assim por diante. Mas deixemos de lado essas questões. O erro fundamental de Dawkins está em supor que um projetista divino seja uma entidade cuja complexidade seja comparável à do universo. Como mente incorpórea, Deus é uma entidade extraordinariamente simples. Como entidade não física, a mente não se compõe de partes e de suas propriedades proeminentes, como autoconsciência, racionalidade e volição, que lhe são essenciais. Em contraste com o universo contingente e diversificado, com todas as suas grandezas e constantes inexplicáveis, a mente divina é surpreendentemente simples. Com certeza uma mente assim teria ideias complexas — poderia pensar, por exemplo, no cálculo infinitesimal —, mas a mente em si é uma entidade extraordinariamente simples. É evidente que Dawkins confundiu as ideias da mente, que podem realmente ser complexas, com a própria mente, uma entidade incrivelmente simples. Portanto, supor uma mente divina por trás do universo não representa em nenhuma hipótese um avanço em simplicidade, se é que isso vale alguma coisa.
Os outros passos do argumento de Dawkins também são problemáticos, mas acho que disse o suficiente para mostrar que seu argumento não serve de nada para minar a inferência de projeto baseada na complexidade do universo, e isso para não falar de sua utilidade como justificação para o ateísmo.
William Lane Craig
Originalmente publicada como: "Richard Dawkins' Argument for Atheism in The God Delusion". Texto disponível na íntegra em: http://www.reasonablefaith.org/richard-dawkins-argument-for-atheism-in-the-god-delusion. Traduzido por Marcos Vasconcelos. Revisado por Cristiano Camilo Lopes.


Read more: http://www.reasonablefaith.org/portuguese/o-argumento-de-richard-dawkins-para-o-ateismo-em-the-god-delusion#ixzz2W1XUO8RK