segunda-feira, 24 de junho de 2013

Casamento com um não cristão

Casamento com um não cristão

Dr. Craig,
Em seu artigo sobre o fracasso, que por sinal acho excelente, o senhor afirma que se casar com alguém que não seja cristão é um pecado:
“Com fracasso na vida cristã, quero dizer o fracasso do crente no relacionamento e no caminhar com Deus. Por exemplo, o cristão pode sentir-se decepcionado e fracassado por se recusar a dar ouvido ao chamado de Deus, por sucumbir à tentação ou por casar-se com um não cristão. Fracassos dessa espécie devem-se ao pecado. É essencialmente um problema espiritual, questão de fracasso moral e espiritual.”
Gostaria de saber como o senhor pode ter tanta certeza de que o casamento com incrédulos é pecado.
Com certeza, não consigo me lembrar de nenhuma ocasião em que Cristo afirma tal coisa. A ordenança de Paulo, “Não vos coloqueis em jugo desigual com os incrédulos” refere-se obviamente a não se ligar a “infiéis” (aos idólatras, por exemplo) e não a uma luta agnóstica pela fé.
Eu, particularmente, acredito que aqui a palavra marcante é “desigual” — com certeza nenhum cristão jamais deveria submeter a sua fé à do incrédulo. Além disso, se Paulo, em 2Coríntios, estivesse falando estritamente de casamento, então estaria contradizendo claramente a declaração de 1Coríntios:
“Mas eu, não o Senhor, digo aos outros: Se algum irmão tem mulher incrédula, e esta consente em viver com ele, não se divorcie dela. E se alguma mulher tem marido incrédulo, e este consente em viver com ela, não se divorcie dele. Porque o marido incrédulo é santificado por causa da mulher, e a mulher incrédula é santificada por causa do marido crente.”
Comentários?
Judith


Conforme você supôs corretamente, Judith, estou considerando as diretivas de Paulo em 2Coríntios 6.14ss. Penso que concordamos que seja pecado fazer conscientemente algo que contrarie uma ordem bíblica. Segundo afirma Tiago: “aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado” (Tg 4.17). Portanto, a única questão é se Paulo ordena aos crentes que não se casem com incrédulos.
Veja, então, o que Paulo diz: “Não vos coloqueis em jugo desigual com os incrédulos” (v. 14). Como poderia ser mais claro? Aqui, a palavra incrédulo é apistos, alguém que não tem fé. Sem dúvida, naquela época a maioria dos incrédulos também estava envolvida com a adoração de deuses pagãos (1Co 10.27). Mas apistos não significa “idólatra”. A palavra para idólatra é eidololatres (1Co 6.9). Incrédulo é alguém em quem falta a fé salvadora, inclusive os idólatras, mas não apenas eles.
Dê uma olhada no modo como Paulo emprega a palavra “incrédulo” em outras partes de suas cartas. Observe como em 1Coríntios 14.22-25 ele usa “incrédulo” como sinônimo para o “estranho”, alguém de fora da comunidade cristã. Em 1Coríntios 6.6, ao proibir processos judiciais entre os cristãos, Paulo está escandalizado com o fato de as disputas precisarem ser levadas à presença de incrédulos e não à presença de irmãos cristãos. Em 1Coríntios 7.12-13, ele se refere à situação de alguém cujo cônjuge é, conforme você observa, um “incrédulo”, ou seja, que não está salvo (v. 16). Acho que seja evidente que incrédulo é quem carece da fé salvadora e, por isso, não faz parte do corpo de Cristo.
Então, será que existe alguma contradição com a ordenança de Paulo em 1Coríntios 7.12-16? Não, de jeito nenhum! Ali Paulo está falando aos casais que eram os dois incrédulos, mas que depois um deles se tornou cristão e, portanto, se acha agora com um cônjuge incrédulo. Essa é, de fato, a situação, conforme evidencia o preponderante princípio de Paulo, aplicado também aos escravos e incircuncisos: “Somente viva cada um como o Senhor lhe determinou, cada um como Deus o chamou” (v. 17). “Cada um permaneça na condição em que foi chamado” (v. 20). Portanto, se você era casada quando foi chamada, Paulo lhe diz para não se separar do seu companheiro incrédulo. Permaneça casada, exatamente como era quando foi chamada para seguir a Cristo, a menos que o companheiro incrédulo deseje se separar.
Paulo, todavia, proíbe os crentes cristãos de se casarem com incrédulos. Por quê? Em 2Coríntios 6.15, ele pergunta: “Que parceria tem o crente com o incrédulo?”. Pode-se ficar tentado a responder à pergunta de Paulo: “Bem, nós dois nos ligamos mesmo em praticar esportes e em atividades ao ar livre” ou “Nós dois nos amarramos em finanças e negócios”. Mas Paulo teria considerado que esse tipo de resposta revela a total falta de entendimento da união conjugal. Para Paulo, a fé em comum em Cristo era fundamental para o relacionamento conjugal. O fato de pouquíssimos casamentos entre cristãos apresentarem hoje a centralidade de Cristo é um testemunho vergonhoso da extensão do quanto assimilamos a visão mundana de casamento. Não surpreende, portanto, que a taxa de divórcios entre casais cristãos seja tão elevada quanto entre os não cristãos.
Tenho o privilégio de estar casado por mais de trinta anos com uma mulher cujo amor está, primeiro e antes de tudo, em conhecer e servir ao Senhor Jesus Cristo. Nosso desejo em comum de conhecê-lo e de servi-lo nos tem unido fortemente. Não consigo imaginar como seria ser casado com alguém que não partilhasse desse primeiro amor em comum. Ele nos tem acompanhado ao longo dos altos e baixos da vida.
Desconheço a sua situação pessoal, Judith, mas se você está considerando a possibilidade de se casar com um incrédulo, gostaria de lhe instar a não fazer isso, não importa o quanto o ame. Obedeça a Deus, dê tempo a ele para trabalhar no coração do seu namorado e, enquanto isso, esforce-se para ser a mulher que Cristo quer que você seja, à medida que o seu caráter é formado em você.
Por outro lado, se já está casada com um incrédulo, nesse caso você deve confessar seu pecado, clamar pelo perdão do Senhor e então obedecer às ordens bíblicas acerca de como a mulher casada com um incrédulo deve portar-se (1Pe 3.1-6).
William Lane Craig
Originalmente publicada como: “Marrying a Non-Christian”. Texto disponível na íntegra em: http://www.reasonablefaith.org/marrying-a-non-christian. Traduzido por Marcos Vasconcelos. Revisado por Mariú M. M. Lopes.


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