sábado, 25 de janeiro de 2020

#Cientificismo

Uma coisa é sugerir que a ciência não pode responder a questões sobre o propósito final. Outra coisa completamente diferente é descartar o propósito em si como uma ilusão porque a ciência não consegue lidar com ele. E, mesmo assim, Atkins está, de forma simples, levando seu materialismo a uma conclusão lógica — ou talvez não exatamente. No fim das contas, a existência de um “monturo de esterco” pressupõe a existência de criaturas capazes de produzir esterco! Bastante esquisito então pensar no esterco produzindo as criaturas. E se se trata de um “monturo de esterco” (de acordo com, poderíamos supor, a Segunda Lei da Termodinâmica), alguém poderia se perguntar como a corrupção é revertida. A mente fica perplexa. Mas o que destrói o cientificismo é a brecha fatal da contradição que nele existe. O cientificismo não precisa ser refutado por argumentos externos: ele é autodestrutivo. Ele tem a mesma sina que teve outrora o princípio da verificação, que era o centro da filosofia do positivismo lógico. Pois a afirmação de que apenas a ciência pode levar à verdade não é deduzida da ciência. Não é uma afirmação científica, mas sim uma afirmação acerca da ciência, isto é, uma afirmação meta-científica. Portanto, se o princípio básico do cientificismo for verdadeiro, a afirmação que expressa o cientificismo deve ser falsa. O cientificismo refuta a si mesmo, donde se conclui que é incoerente. A visão de Medawar de que a ciência é limitada não é, portanto, nenhum insulto à ciência. O caso é exatamente o contrário. São aqueles cientistas que fazem alegações exageradas a favor da ciência que levam a ciência parecer ridícula. Talvez sem querer e talvez sem ter consciência disso, eles desviaram-se do fazer ciência para o criar mitos — e mitos incoerentes além de tudo.


John Lennox, matemático e filosofo da ciência.




sábado, 18 de janeiro de 2020

#Preconceito

Temos aqui uma clara confissão de que, para muitos, a ciência é praticamente inseparável de um compromisso metafísico com um ponto de vista agnóstico ou ateu. Notamos de passagem a sutil implicação de que a “intervenção sobrenatural” deve ser equiparada a “um desafiar de todas as tentativas de explicação racional”. Em outras palavras, o “sobrenatural” implica o “não racional”. Para aqueles de nós que estamos envolvidos numa reflexão teológica séria, isso parece estar numa direção muito errada: a noção de que existe um Deus criador é racional, não irracional. Equacionar uma “explicação racional” com uma “explicação natural” é, na melhor das hipóteses, um grande preconceito; na pior, um erro de categoria.

John Lennox, matemático e filosofo da ciência.




sábado, 11 de janeiro de 2020

#Respostas

Não existe meio mais rápido para um cientista lançar descrédito sobre si mesmo e sua profissão do que declarar com franqueza — sobretudo quando nenhuma declaração de qualquer tipo se faz necessária — que a ciência sabe, ou em breve saberá, as respostas a todas as perguntas que merecem ser feitas, e que as perguntas que não admitem uma resposta científica são de certa forma “não perguntas” ou “pseudoperguntas” que apenas os simplórios fazem e apenas os ingênuos professam saber responder. Medawar prossegue dizendo: A existência de um limite para a ciência fica, todavia, evidente diante de sua incapacidade de responder a elementares perguntas infantis relativas ao início e o fim das coisas — questões tais como: “Como foi que tudo começou?”; “Para que estamos aqui?”; “Qual é a razão de viver?”


Sir Peter Medawar, laureado com o prêmio Nobel, ressalta esse ponto em seu excelente livro Conselho a um jovem cientista: 





sábado, 4 de janeiro de 2020

#Redenção


Aliança é um termo legal, e representa qualquer compromisso que gere obrigação. Quando usado na Escritura para descrever o que Deus fez, no entanto, não devemos pensar num acordo entre duas partes iguais, uma espécie de contrato mútuo. É mais como um "testamento", no qual um testador tem ampla e irrestrita liberdade sobre a disposição de seus bens. De fato, as palavras aliança e testamento podem ser usadas intercambiavelmente, motivo pelo qual as duas metades da Bíblia são conhecidas como Antigo e Novo "Testamentos". A palavra grega diatheke pode significar tanto um quanto o outro, e por duas vezes nas Epístolas há um jogo com o duplo significado da palavra, a fim de deixar claro que a aliança de Deus é semelhante a um "testamento solene e unilateral" no sentido de que nele Deus fez livremente determinadas promessas (Gl 3.15; Hb 9.15-18). As promessas de sua aliança não são incondicionais, visto que requer de seu povo que obedeça a seus mandamentos, sendo que essa é a parte deles na aliança, mas é o próprio Deus quem estabelece tanto os mandamentos quanto as promessas. Assim, até mesmo no Sinai a aliança de Deus é uma aliança de graça.

É importante entender, portanto, que a aliança de Deus é a mesma do começo ao fim, de Abraão até Cristo, de modo que aqueles que pertencem a Cristo pela fé são, portanto, filhos de Abraão e herdeiros das promessas que Deus fez a ele (Gl 3.29). A lei dada no Sinai não anulou a aliança da graça. Ao contrário, a aliança da graça foi confirmada e renovada no Sinai. O que a lei fez foi enfatizar e expandir os requerimentos de obediência. É apenas quando considerada isoladamente da aliança da graça que a lei é contrastada com o evangelho. A lei, então, é vista como condenando o pecador por sua desobediência, ao passo que o evangelho oferece-lhe vida pela graça.

Estamos agora em condições de pensar sobre o que pode ser descrito como os três estágios no desdobramento da aliança de Deus: redenção, adoção e glorificação.

John Stott