Em nossa classe de jovens adultos na Escola Dominical, meu marido e eu estamos usando seu livro Hard Questions, Real Answers [Apologética para questões difíceis da vida (Vida Nova, 2010)] para abordar muitas das questões difíceis que a igreja enfrenta atualmente, e em particular aquelas com as quais os estudantes universitários começam a lutar. Nossa classe tem tido algumas discussões animadas e, finalmente, está começando o processo de nossos alunos entenderem mais racionalmente sua fé para defenderem a verdade com mais precisão e propriedade na cultura não bíblica de hoje.
Temos esbarrado com algumas fortes diferenças de opinião e uma grande dose de confusão a respeito do tópico da homossexualidade. Especificamente o conceito de que a Bíblia condena práticas ou comportamento homossexuais, mas sem ter orientação homossexual (é secundário o termo orientação ser um conceito moderno). A frase em seu livro “É plenamente possível alguém lutar contra sua tendência homossexual e ser um nascido de novo, um cristão cheio do Espírito” tem causado também alguma confusão, pois muitos creem que Deus não “criaria” uma pessoa para ser homossexual.
Eis as principais perguntas que surgiram dessa área:
1. Definir-se como homossexual é em si mesmo pecaminoso? Se for, como é possível que a declaração acima seja válida?
2. Isso se refere a pessoas que se consideram homossexuais, mas não se envolvem em práticas homossexuais? Se o conceito inicial de práticas/comportamento for pecaminoso e não a tendência/orientação, isso poderia fazer sentido.
3. Chamar alguém de homossexual seria promover uma norma cultural não bíblica que está permeando a sociedade?
Apresentou-se o exemplo, dado por um aluno da escola dominical, cujo amigo não se considera heterossexual, mas afirma também que não é homossexual. Ele vem de um lar cristão e sabe que o homossexualismo é errado, mas não se sente atraído por mulheres e não acredita que vai mudar.
Outra ideia que surgiu, relacionada às reflexões acima, foi a de que seria não bíblico dizer que alguém nasceu homossexual, e que todos nós somos criados como heterossexuais. O que leva, então, à pergunta sobre se o homossexualismo é, ou não, uma escolha. Agora, em seu livro, o senhor menciona realmente que, a despeito de genética ou de escolha, não importa, a prática [homossexual] é pecado. Isso pode ser uma questão de semântica, todavia é uma área que precisa ser abordada.
Ademais, se o homossexualismo for algo herdado e não uma escolha, seria razoável afirmar que foi uma “escolha” feita no jardim do Éden, a qual nos leva a herdar uma natureza pecaminosa. Em Romanos 1 está escrito:
Pois a ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e injustiça dos homens, que impedem a verdade pela sua injustiça. Pois o que se pode conhecer sobre Deus é manifesto entre eles [...] É por isso que Deus os entregou [...] ao desejo ardente de seus corações [...] Por isso, Deus os entregou a paixões desonrosas. [...] Assim, por haver rejeitado o conhecimento de Deus, foram entregues pelo próprio Deus a uma mentalidade condenável [...].
Portanto, é uma escolha só para quem conhece a Deus e não é uma escolha para os que não o conhecem, uma vez que sua mente está fechada para a evidência divina?
Além disso, ao se estender a mão para “cristãos homossexuais” que estão tentando viver uma vida pura e lutando contra esse pecado, como é possível prestar-lhes assistência com amor quando se acredita que ser chamado de homossexual é, em si mesmo, um pecado? Comparo isso com o alcoólatra em recuperação que repetidamente durante o dia, às vezes de hora em hora, suplica para que o desejo de beber seja removido dele. Essa questão, pois, toca também no tema das orações não respondidas, caso alguém acredite que seja homossexual e ore com consistência e fervor, pedindo a orientação do Espírito Santo para que Deus remova isso dele, mas Deus parece não mudar nada nele, preferindo não torna-lo heterossexual agora/sempre. Como podemos explicar isso?
Sei que isso toma tempo e levamos a questão aos pastores de nossa igreja para que a matéria seja tratada com a igreja toda e não apenas escondida sob o tapete. Meu marido e eu aguardamos com muita esperança que haja tempo para que essas questões sejam examinadas pelo senhor e sua equipe.
Muitíssimo obrigada. Que Deus o abençoe.
Krista
Obrigado por empenhar seu tempo e esforço para ministrar a estudantes universitários! Esse é um período crucial na vida deles, e parece que seus alunos têm a felicidade de terem você e seu marido para guiá-los através de questões tão difíceis.
Antes que trate de suas três perguntas, deixe-me esclarecer o que pretendi dizer com “É plenamente possível alguém lutar contra sua tendência homossexual e ser um nascido de novo, um cristão cheio do Espírito”. Estou considerando que o homossexualismo seja uma tendência ou inclinação dos desejos sexuais de alguém. A pessoa heterossexual é atraída sexualmente por membros do sexo oposto; a pessoa homossexual é atraída sexualmente por membros do mesmo sexo. Portanto, minha frase quer dizer que é possível a alguém sentir atração sexual por outrem do mesmo sexo e ainda ser um cristão cheio do Espírito.
Entendido dessa maneira, o fato parece-me bastante óbvio. Quer resulte de condicionamento ou da natureza, a inclinação sexual do indivíduo não é algo que tipicamente se escolhe, mas algo que a pessoa se descobre com ela. Assim, é possível se descobrir com tal tendência, mas, no poder do Espírito Santo, recusar-se a pô-la em prática, consciente de que agir assim seria pecado. Não significa continuar trancado no armário. É possível tratar da própria situação abertamente, exatamente como alguém — lutando, digamos, contra o voyeurismo — pode tratar de modo aberto de seu problema e se recusar a praticar os desejos que sente.
Afirmar isso, obviamente, não significa que tais pessoas foram “criadas” por Deus para sentirem esses desejos. O que eu disse é consistente com o fato de esses desejos serem o produto da criação de alguém. Seja como for, caso se venha a provar que o homossexualismo tem base biológica, acho que seria ingenuidade dizer que Deus não criaria ninguém com tal predisposição. Deus cria pessoas com falhas genéticas a toda hora (eu mesmo tenho um tipo de síndrome de base genética). Isso é apenas uma parte da questão mais abrangente que os filósofos denominam de o problema do mal, especificamente, do mal natural.
Assim, em resposta a suas questões:
1. Definir-se como homossexual é em si mesmo pecaminoso? Não, mas eu não usaria a palavra “definir”. Parte da agenda dos proponentes do estilo de vida homossexual é retratar a inclinação sexual como uma característica definidora de quem você é, parte da sua própria identidade. Não devíamos cair nessa armadilha. Em vez disso, eu diria “descrever-se” de uma certa maneira. As descrições podem mudar (por exemplo, ficamos mais velhos e mais gordos) e, portanto, não precisam definir o que nós somos.
2. Isso se refere a pessoas que se consideram homossexuais, mas não se envolvem em práticas homossexuais? Certo. Estou falando de alguém semelhante à pessoa que se põe em pé na reunião dos Alcoólicos Anônimos e diz: “Sou alcoólatra, mas não bebo há 15 anos, graças a Deus!”.
3. Chamar alguém de homossexual seria promover uma norma cultural não bíblica que está permeando a sociedade? É possível que sim. É melhor não entrar no jogo desses rótulos, já que isso poderia fortalecer a ideia de que os desejos homossexuais de alguém são constituintes de sua identidade. Talvez fosse melhor dizer “Estou lutando contra desejos homossexuais” ou “Tenho atração por pessoas do mesmo sexo que o meu”.
Quanto a seus comentários, concordo que ninguém nasce homossexual, conforme defini o termo, mas, pela mesma razão, ninguém nasce heterossexual também, conforme definido. Lembre-se de que defini essas palavras nos termos da atração sexual da pessoa. Bebê e criancinhas não se sentem sexualmente atraídas por outras pessoas. Esses desejos são despertados mais tarde. Assim, tenha o cuidado de não entender homossexualidade e heterossexualidade como gêneros. Quase todos nós nascemos com o gênero claramente explícito como machos e fêmeas, mas qual será a nossa preferência sexual só se manifestará senão mais tarde. Isso é obviamente verdadeiro, mesmo que tenha fundamento biológico. Mas, seja a nossa inclinação o resultado de biologia ou de criação, a escolha que temos de fazer é: pôr ou não os nossos desejos em prática. Deus nos ordena a viver castamente e a reservarmos a atividade sexual para o casamento heterossexual. O debate sobre natureza ou condicionamento não é mera semântica; é uma questão científica interessante acerca de duas perspectivas muito diferentes. Mas, seja como for, minha posição é que nossas escolhas sobre como vivemos permanecem as mesmas.
Se o homossexualismo tiver bases biológicas, não acho que precisamos atribuí-lo à Queda em nenhum sentido direto, pois seria apenas como um defeito congênito ou uma doença de base genética. É interessante que, nos dias de Paulo, a maioria das pessoas envolvidas com a prática homossexual tinha provavelmente orientação heterossexual, uma vez que tais práticas eram toleradas pelos proeminentes filósofos da Antiguidade. Caso a pessoa tenha ou não conhecimento de Deus, o pecado envolve uma escolha pela qual essa pessoa é a responsável.
Com relação à sua última pergunta, não acho que seja pecado dizer que cristãos que se sentem atraídos por pessoas do mesmo sexo sejam homossexuais. Mas levo em consideração realmente a sua opinião de que esse tipo de rótulo pode não ser proveitoso e pode encorajá-los a pensar que essa desorientação é parte de sua identidade.
Quanto a orações não respondidas, qualquer jovem cristão heterossexual lhe dirá que tem orado sempre e sempre para que Deus o ajude a vencer a lascívia, mas tais orações continuam repetidamente sem respostas! A santificação não é um negócio instantâneo. Leva tempo e disciplina, guardar os olhos e a vida de pensamentos, manter-se longe de determinados lugares, estar atento até mesmo ao tipo de roupa que se usa e à música que se ouve.
Isso me faz lembrar de uma disciplina espiritual acerca da qual quase nunca se fala na igreja hoje: a mortificação da carne. Paulo nos diz, como cristãos, para que façamos morrer os maus desejos que há em nós e que não alimentemos os desejos da carne (Cl 3.5). A admoestação talvez evoque imagens de ascetismo e autoflagelação, mas a ideia não é essa. Antes, significa que, como cristãos, devemos intencionalmente fazer coisas que refreiem nossas paixões sexuais, por exemplo, tomar cuidado quanto aos filmes que assistimos, as revistas que lemos ou os programas de televisão que acompanhamos, adotar ativamente precauções que nos impeçam de pecar nessa área, como a de ativar filtros para nossos acessos à Internet. Com o tempo podemos nos tornar mais santos, e muitas pessoas haverão de testemunhar que, com aconselhamento e disciplina, até alguém com tendência homossexual pode ser corrigido em grande parte e desfrutar de relações heterossexuais normais no casamento.
William Lane Craig
Originalmente publicado como: “Christian Homosexuals?”. Texto disponível na íntegra em: http://www.reasonablefaith.org/christian-homosexuals. Traduzido por Marcos Vasconcelos. Revisado por Cristiano Camilo Lopes.
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