Mesmo que a consciência seja uma função do coração, fatores
sensíveis e espirituais desempenham um papel importante no desenvolvimento
dela. Quanto a isso, o condicionamento (perceptivo) também desempenha um papel
nesse desenvolvimento. Consequentemente, alguns psicólogos veem a consciência
como “nada mais que” um feixe de reflexos condicionados. Todo pai está
familiarizado com o papel do condicionamento perceptivo no desenvolvimento da
consciência, porque eles procuram incutir certo tipo de comportamento em um
filho teimoso ou mudar esse comportamento, fazendo uso de (leve) punição
física. Houve um tempo em que era moda entre os psicólogos desaprovar a
palmada, mas muitos deles mudaram de ideia sobre essa questão. O castigo
corporal é certamente muito útil, desde que seja administrado imediatamente, de
forma consistente, e que seja também explicado para a criança. Além disso, o
castigo deve sempre estar de acordo com a gravidade do delito que foi cometido
e deve ser acompanhado por “recompensas” (elogio, por exemplo) sempre que a
crianã começar a apresentar o comportamento desejado. Podemos aprender com a
sabedoria de Salomão, como expressa em Provérbios 13.24; 22.06; 23.13ss; 29.15.
Hoje nós temos provas
suficientes de que alunos que foram criados com um maior grau de “liberdade”
moral são mais capazes de cometer delitos e crimes do que aqueles que passaram
por educação mais firme, “mais convencional”. Mas, como mencionado acima, uma
educação firme significa castigo corporal seguido de explicação.
Pelo fato de o homem ter uma estrutura espiritiva, ele pode ponderar sobre as
próprias ações, entender por que algo é bom ou ruim, e ver o quanto pode
prejudicar outras pessoas com seu mau comportamento. Além disso, ele tem um
coração, por meio do qual, se ele for um renascido, poderá ver por que certos
comportamentos são considerados “pecados contra Deus”. Por isso, quando uma
criança tem uma educação cristã, sua consciência se forma de acordo com o
modelo da Palavra de Deus revelada.
É
precisamente pelo fato de a consciência poder deformar durante o processo de
educação que as pessoas podem, por meio de um processo de condicionamento,
adquirir “sentimentos de culpa” (sensíveis), como até mesmo os animais
superiores são capazes de fazê-lo. É muito importante distinguir claramente os
sentimentos desse tipo da culpa ética concreta. Podemos falar de culpa apenas
quando uma lei concreta é violada. Essa “culpa” (objetiva) pode ou não vir
acompanhada de um “sentimento de culpa”. E uma consciência “fraca” (1Cor 8.7,
10, 12) poderia facilmente levar à acumulação de um sentimento de culpa sem que
houvesse uma culpa verdadeiramente concreta, no que diz respeito à transgressão
aos mandamentos de Deus. Em algumas famílias cristãs, incute-se nos filhos todo
tipo de tabus, tabus que não derivam da Bíblia, mas que, às vezes, são muito
difíceis de serem superados. É também por essa razão que uma boa educação,
completa e genuinamente bíblica, é tão difícil de ser dada, ainda que seja de
máxima importância. O poeta, autor do livro de provérbios, não apenas estava
familiarizado com as palmadas, mas também pôde, em íntima relação com seu
filho, dizer: “Filho meu, não te esqueças dos meus ensinos, e o teu coração
guarde os meus mandamentos […]. Confia no SENHOR de todo o teu coração e não te
estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e
ele endireitará as tuas veredas. Não sejas sábio aos teus próprios olhos; teme
ao SENHOR e aparta-te do mal” (Pv 3.1, 5-7).
Coração e alma – uma
perspectiva cristã da psicologia - p. 106, 107
Willem Ouweneel