segunda-feira, 11 de março de 2013

Cristãos Homossexuais?


Em nossa classe de jovens adultos na Escola Dominical, meu marido e eu estamos usando seu livro Hard Questions, Real Answers [Apologética para questões difíceis da vida (Vida Nova, 2010)] para abordar muitas das questões difíceis que a igreja enfrenta atualmente, e em particular aquelas com as quais os estudantes universitários começam a lutar. Nossa classe tem tido algumas discussões animadas e, finalmente, está começando o processo de nossos alunos entenderem mais racionalmente sua fé para defenderem a verdade com mais precisão e propriedade na cultura não bíblica de hoje.
Temos esbarrado com algumas fortes diferenças de opinião e uma grande dose de confusão a respeito do tópico da homossexualidade. Especificamente o conceito de que a Bíblia condena práticas ou comportamento homossexuais, mas sem ter orientação homossexual (é secundário o termo orientação ser um conceito moderno). A frase em seu livro “É plenamente possível alguém lutar contra sua tendência homossexual e ser um nascido de novo, um cristão cheio do Espírito” tem causado também alguma confusão, pois muitos creem que Deus não “criaria” uma pessoa para ser homossexual.
Eis as principais perguntas que surgiram dessa área:
1. Definir-se como homossexual é em si mesmo pecaminoso? Se for, como é possível que a declaração acima seja válida?
2. Isso se refere a pessoas que se consideram homossexuais, mas não se envolvem em práticas homossexuais? Se o conceito inicial de práticas/comportamento for pecaminoso e não a tendência/orientação, isso poderia fazer sentido.
3. Chamar alguém de homossexual seria promover uma norma cultural não bíblica que está permeando a sociedade?
Apresentou-se o exemplo, dado por um aluno da escola dominical, cujo amigo não se considera heterossexual, mas afirma também que não é homossexual. Ele vem de um lar cristão e sabe que o homossexualismo é errado, mas não se sente atraído por mulheres e não acredita que vai mudar.
Outra ideia que surgiu, relacionada às reflexões acima, foi a de que seria não bíblico dizer que alguém nasceu homossexual, e que todos nós somos criados como heterossexuais. O que leva, então, à pergunta sobre se o homossexualismo é, ou não, uma escolha. Agora, em seu livro, o senhor menciona realmente que, a despeito de genética ou de escolha, não importa, a prática [homossexual] é pecado. Isso pode ser uma questão de semântica, todavia é uma área que precisa ser abordada.
Ademais, se o homossexualismo for algo herdado e não uma escolha, seria razoável afirmar que foi uma “escolha” feita no jardim do Éden, a qual nos leva a herdar uma natureza pecaminosa. Em Romanos 1 está escrito:
Pois a ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e injustiça dos homens, que impedem a verdade pela sua injustiça. Pois o que se pode conhecer sobre Deus é manifesto entre eles [...] É por isso que Deus os entregou [...] ao desejo ardente de seus corações [...] Por isso, Deus os entregou a paixões desonrosas. [...] Assim, por haver rejeitado o conhecimento de Deus, foram entregues pelo próprio Deus a uma mentalidade condenável [...].
Portanto, é uma escolha só para quem conhece a Deus e não é uma escolha para os que não o conhecem, uma vez que sua mente está fechada para a evidência divina?
Além disso, ao se estender a mão para “cristãos homossexuais” que estão tentando viver uma vida pura e lutando contra esse pecado, como é possível prestar-lhes assistência com amor quando se acredita que ser chamado de homossexual é, em si mesmo, um pecado? Comparo isso com o alcoólatra em recuperação que repetidamente durante o dia, às vezes de hora em hora, suplica para que o desejo de beber seja removido dele. Essa questão, pois, toca também no tema das orações não respondidas, caso alguém acredite que seja homossexual e ore com consistência e fervor, pedindo a orientação do Espírito Santo para que Deus remova isso dele, mas Deus parece não mudar nada nele, preferindo não torna-lo heterossexual agora/sempre. Como podemos explicar isso?
Sei que isso toma tempo e levamos a questão aos pastores de nossa igreja para que a matéria seja tratada com a igreja toda e não apenas escondida sob o tapete. Meu marido e eu aguardamos com muita esperança que haja tempo para que essas questões sejam examinadas pelo senhor e sua equipe.
Muitíssimo obrigada. Que Deus o abençoe.
Krista
Obrigado por empenhar seu tempo e esforço para ministrar a estudantes universitários! Esse é um período crucial na vida deles, e parece que seus alunos têm a felicidade de terem você e seu marido para guiá-los através de questões tão difíceis.
Antes que trate de suas três perguntas, deixe-me esclarecer o que pretendi dizer com “É plenamente possível alguém lutar contra sua tendência homossexual e ser um nascido de novo, um cristão cheio do Espírito”. Estou considerando que o homossexualismo seja uma tendência ou inclinação dos desejos sexuais de alguém. A pessoa heterossexual é atraída sexualmente por membros do sexo oposto; a pessoa homossexual é atraída sexualmente por membros do mesmo sexo. Portanto, minha frase quer dizer que é possível a alguém sentir atração sexual por outrem do mesmo sexo e ainda ser um cristão cheio do Espírito.
Entendido dessa maneira, o fato parece-me bastante óbvio. Quer resulte de condicionamento ou da natureza, a inclinação sexual do indivíduo não é algo que tipicamente se escolhe, mas algo que a pessoa se descobre com ela. Assim, é possível se descobrir com tal tendência, mas, no poder do Espírito Santo, recusar-se a pô-la em prática, consciente de que agir assim seria pecado. Não significa continuar trancado no armário. É possível tratar da própria situação abertamente, exatamente como alguém — lutando, digamos, contra o voyeurismo — pode tratar de modo aberto de seu problema e se recusar a praticar os desejos que sente.
Afirmar isso, obviamente, não significa que tais pessoas foram “criadas” por Deus para sentirem esses desejos. O que eu disse é consistente com o fato de esses desejos serem o produto da criação de alguém. Seja como for, caso se venha a provar que o homossexualismo tem base biológica, acho que seria ingenuidade dizer que Deus não criaria ninguém com tal predisposição. Deus cria pessoas com falhas genéticas a toda hora (eu mesmo tenho um tipo de síndrome de base genética). Isso é apenas uma parte da questão mais abrangente que os filósofos denominam de o problema do mal, especificamente, do mal natural.
Assim, em resposta a suas questões:
1. Definir-se como homossexual é em si mesmo pecaminoso? Não, mas eu não usaria a palavra “definir”. Parte da agenda dos proponentes do estilo de vida homossexual é retratar a inclinação sexual como uma característica definidora de quem você é, parte da sua própria identidade. Não devíamos cair nessa armadilha. Em vez disso, eu diria “descrever-se” de uma certa maneira. As descrições podem mudar (por exemplo, ficamos mais velhos e mais gordos) e, portanto, não precisam definir o que nós somos.
2. Isso se refere a pessoas que se consideram homossexuais, mas não se envolvem em práticas homossexuais? Certo. Estou falando de alguém semelhante à pessoa que se põe em pé na reunião dos Alcoólicos Anônimos e diz: “Sou alcoólatra, mas não bebo há 15 anos, graças a Deus!”.
3. Chamar alguém de homossexual seria promover uma norma cultural não bíblica que está permeando a sociedade? É possível que sim. É melhor não entrar no jogo desses rótulos, já que isso poderia fortalecer a ideia de que os desejos homossexuais de alguém são constituintes de sua identidade. Talvez fosse melhor dizer “Estou lutando contra desejos homossexuais” ou “Tenho atração por pessoas do mesmo sexo que o meu”.
Quanto a seus comentários, concordo que ninguém nasce homossexual, conforme defini o termo, mas, pela mesma razão, ninguém nasce heterossexual também, conforme definido. Lembre-se de que defini essas palavras nos termos da atração sexual da pessoa. Bebê e criancinhas não se sentem sexualmente atraídas por outras pessoas. Esses desejos são despertados mais tarde. Assim, tenha o cuidado de não entender homossexualidade e heterossexualidade como gêneros. Quase todos nós nascemos com o gênero claramente explícito como machos e fêmeas, mas qual será a nossa preferência sexual só se manifestará senão mais tarde. Isso é obviamente verdadeiro, mesmo que tenha fundamento biológico. Mas, seja a nossa inclinação o resultado de biologia ou de criação, a escolha que temos de fazer é: pôr ou não os nossos desejos em prática. Deus nos ordena a viver castamente e a reservarmos a atividade sexual para o casamento heterossexual. O debate sobre natureza ou condicionamento não é mera semântica; é uma questão científica interessante acerca de duas perspectivas muito diferentes. Mas, seja como for, minha posição é que nossas escolhas sobre como vivemos permanecem as mesmas.
Se o homossexualismo tiver bases biológicas, não acho que precisamos atribuí-lo à Queda em nenhum sentido direto, pois seria apenas como um defeito congênito ou uma doença de base genética. É interessante que, nos dias de Paulo, a maioria das pessoas envolvidas com a prática homossexual tinha provavelmente orientação heterossexual, uma vez que tais práticas eram toleradas pelos proeminentes filósofos da Antiguidade. Caso a pessoa tenha ou não conhecimento de Deus, o pecado envolve uma escolha pela qual essa pessoa é a responsável.
Com relação à sua última pergunta, não acho que seja pecado dizer que cristãos que se sentem atraídos por pessoas do mesmo sexo sejam homossexuais. Mas levo em consideração realmente a sua opinião de que esse tipo de rótulo pode não ser proveitoso e pode encorajá-los a pensar que essa desorientação é parte de sua identidade.
Quanto a orações não respondidas, qualquer jovem cristão heterossexual lhe dirá que tem orado sempre e sempre para que Deus o ajude a vencer a lascívia, mas tais orações continuam repetidamente sem respostas! A santificação não é um negócio instantâneo. Leva tempo e disciplina, guardar os olhos e a vida de pensamentos, manter-se longe de determinados lugares, estar atento até mesmo ao tipo de roupa que se usa e à música que se ouve.
Isso me faz lembrar de uma disciplina espiritual acerca da qual quase nunca se fala na igreja hoje: a mortificação da carne. Paulo nos diz, como cristãos, para que façamos morrer os maus desejos que há em nós e que não alimentemos os desejos da carne (Cl 3.5). A admoestação talvez evoque imagens de ascetismo e autoflagelação, mas a ideia não é essa. Antes, significa que, como cristãos, devemos intencionalmente fazer coisas que refreiem nossas paixões sexuais, por exemplo, tomar cuidado quanto aos filmes que assistimos, as revistas que lemos ou os programas de televisão que acompanhamos, adotar ativamente precauções que nos impeçam de pecar nessa área, como a de ativar filtros para nossos acessos à Internet. Com o tempo podemos nos tornar mais santos, e muitas pessoas haverão de testemunhar que, com aconselhamento e disciplina, até alguém com tendência homossexual pode ser corrigido em grande parte e desfrutar de relações heterossexuais normais no casamento.
William Lane Craig
Originalmente publicado como: “Christian Homosexuals?”. Texto disponível na íntegra em: http://www.reasonablefaith.org/christian-homosexuals. Traduzido por Marcos Vasconcelos. Revisado por Cristiano Camilo Lopes.


Read more: http://www.reasonablefaith.org/portuguese/cristaeos-homossexuais#ixzz2N9ql4vTh




quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O caráter de Deus



Há algumas impressões sobre a fé cristã que se tornaram amplamente disseminadas no imaginário dos não-cristão, em certa medida por responsabilidade de uma boa parcela dos próprios cristãos, atráves da promoção de determinadas teologias que se tornaram mais populares ou mais acessíveis, mas que em uma análise minimamente atenta, não encontram o necessário respaldo bíblico de sustentação.

Destaca-se nesse contexto a noção de que Deus é um agente a ser acionado pela fé para atender às demandas dos homens bons sempre que solicitado. Deus aí é quase um gênio da lâmpada a atender desejos. Se Deus não agiu, foi porque a fé da pessoa não atingiu o nível satisfatório para movê-lo de sua posição de mero observador para a de distribuidor de bênçãos.
Por conta disso, surgem também justificativas necessárias para quando o "truque" falha, quando o resultado esperado não é alcançado: Foi falta de fé, foi castigo.


É facilmente perceptível, simplesmente ao ler a Bíblia, o quanto esta "mágica" está distante do discurso bíblico. Sim, porque é algo mais perto da feitiçaria, que busca dominar as forças naturais e sobrenaturais para conseguir alcançar objetivos. Basta observar as palavras do próprio Jesus, às portas da crucificação: "...se possível afasta de mim este cálice, mas que seja feita a SUA vontade" (Mc. 14:36Lc 22:42), ou quando o apóstolo Paulo fala sobre o tal do espinho na carne com o qual ele se debatia e sobre o qual disse "...acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim. e disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza." (II Cor.12:9).

São apenas dois exemplos de casos em que um pedido não foi atendido e não podemos dizer que houve falta de fé.


É verdade que a Bíblia está repleta também de passagens que falam coisas como "...se tiverdes fé e não duvidardes..."ou"...tudo o que pedirdes na oração, crendo, o recebereis..."

Porém, algo importante é deixado de lado, que é mencionado em outro trecho: "Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites." (Tiago 4:3).
Quer dizer, a prática da fé, pressupôe tb uma sintonia com a vontade de Deus. Deus não pode e não vai entrar em contradição consigo mesmo para satisfazer as mais loucas expectativas que um ser humano é capaz de ter.

É verdade também que, por experiência própria, todos nós poderemos nos lembrar de algo não atendido por Deus, que aos nossos olhos estaria longe de ser algo fútil, ou desnecessário. Porém, o ponto aqui é que o relacionamento com Deus, conforme proposto na escritura, vai muito além de uma experiência baseada no pedir e receber, mas em um vínculo crescente de confiança e sintonia com o caráter pessoal deste Deus.


Por isso, também, temos que ter cuidado com explicações simplórias que dizem que Deus não deu por falta de fé, ou por castigo. A Bíblia diz sobre o caráter de Deus: "...para que sejais filhos do Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos." (Mateus 5:45).  Deus, portanto, pode muito bem estar proporcionando coisas boas para quem não merece, não para endossar o que estas pessoas fazem, mas justamente para esta pessoa, quem sabe, finalmente ter um vislumbre da bondade divina ou talvez alguns anos mais para que repense alguns de seus valores.
Nesse contexto, a fé à luz da Bíblia, deixa portanto de ter aquele estereótipo de ser um poder de mover objetos, ou de pensamento positivo, uma coisa quase mágica para fazer "Deus trabalhar para nós" e se torna algo totalmente consistente com confiança que se tem no caráter desse Deus. É a certeza do controle e das melhores intenções dele em tudo, apesar de tudo e apesar das aparências.

Como em uma ilustração que me ocorreu certa vez, sobre a fé no caráter de Deus:
"A fé não é o que te faz colocar a família no carro e ir à praia

num dia de chuva, na certeza de encontrar o Sol por lá.
Fé é o que te dá a certeza de que o mau tempo não será
suficiente para estragar o momento que Deus preparou para você ali."

Confiar no caráter de Deus é mais do que uma busca por realizar desejos e se livrar de incômodos existenciais. Confiar no caráter de Deus é acreditar em um Deus que se relaciona de forma prática e contínua com o homem. É acreditar que Deus tem prazer em atender os anseios do coração humano, mas que também é soberano na sua vontade e esta soberania se manifesta no que é o melhor para nós, que Ele nunca irá nos deixar em falta, nunca irá nos trair e nunca irá nos decepcionar.

"Conheçamos e prossigamos em conhecer o SENHOR". (Oséias 6.3).

Fonte: texto publicado originalmente no site http://razaoparacrer.blogspot.com.br, em 20 de janeiro de 2013, por Hamilton Furtado.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O que a Bíblia diz sobre o Aborto?


Não é novidade o fato de se tirar intencionalmente a vida antes do nascimento. Embora seja recente a adoção de "direitos de aborto" como uma causa política progressiva nas sociedades ocidentais, o aborto tem sido praticado em todas as culturas, desde tempos antigos. Na verdade, uma das principais realizações da disseminação do evangelho no mundo greco-romano foi repelir essa prática, e o seu parente mais próximo, o infanticídio, às margens da sociedade. No paganismo clássico, embora às vezes controverso, o aborto (como a eutanásia) eram comum e amplamente aprovado. Os médicos antigos que faziam o juramento de Hipócrates, cuja visão médica era movida pelo desejo de salvar a vida, e não tirá-la, estavam nadando contra a corrente. Foi a igreja de Jesus cristo que percorreu o mundo romano com um grande movimento em favor da vida, estabelecendo padrões na medicina, na cultura e nas políticas públicas, que ainda condicionam a mentalidade da fragmentada cristandade do século XXI.

Os leitores que buscam aborto em um índice remissivo provavelmente não encontrarão, e como resultado os crentes sugeriram que as Escrituras fazem silêncio sobre o assunto e, portanto, podemos agir como quisermos. Essa conclusão depende de alguns sérios equívocos. Os fundamentos bíblicos de uma ampla proibição ao aborto provocado são profundos, nas doutrinas da criação e encarnação.

O ponto de partida para um entendimento bíblico da natureza humana é a verdade de que seres humanos são criados à imagem de Deus. Está claro, com base em Gênesis 1.26,27, que isso se aplica a todos os que são membros da espécie humana. O Homo Sapiens é diferente de todos os outros "tipos", pelo fato de que trazemos a semelhança com o nosso Criador. Está escrito especificamente que a imagem foi transmitida às mulheres, bem como aos homens, e que permaneceu depois da queda (Gn 9.6). Tal acontecimento se aplica  a judeus e gentios, religiosos e irreligiosos, jovens e velhos, os que estão no auge da capacidade humana, bem como os doentes e incapacitados. A imago Dei é o que nos torna os seres que somos, e existe onde quer que haja membros da nossa espécie e, portanto, é genética.

Enquanto questões extraordinariamente difíceis são propostas pela perspectiva de híbridos de humanos e animais (e, talvez, robôs humanóides), a questão aqui é simples. Se alguém é membro da espécie humana, esta pessoa traz a imagem divina. Portanto, a sua vida é sagrada. Com esta única admissão, encontramos a base para a bioética bíblica, bem como respostas imediatas a muitas das mais incômodas perguntas na medicina e biociência contemporâneas. Ela fornece uma resposta direta à questão do aborto provocado, uma vez que o mandamento "Não matarás" (Ex 20.13), se aplica a todos os seres humanos desde o princípio da vida até o seu fim. E este mandamento está explicitamente enraizado no fato de que somos criados conforme a imagem divina (Gn 9.6), no contexto irônico da instituição da pena de morte: "Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado; porque Deus fez o homem conforme a sua imagem".

Este princípio da espécie é de fundamental importância para o debate sobre embriões humanos, uma vez que cientistas desenvolveram técnicas usando fertilização in vitro e clonagem, tornando possível o uso de embriões para pesquisas destrutivas. A posição da bíblia é inequívoca: os que fazem parte da espécie, feitos conforme a imagem divina, não devem ser assassinados.



O segundo fundamento está na doutrina da encarnação. Para ilustrar este princípio da criação da espécie conforme a imagem, na sua encarnação, o Filho de Deus, a Segunda Pessoa da trindade, assumiu a forma humana, e o fez a partir do princípio da usa existência biológica humana, e o fez a partir do princípio da sua existência biológica humana. Quando, no "sexto mês" (Lc 1.36, uma referência não ao calendário, mas ao avançado estágio da gravidez de sua prima Izabel), o anjo disse a Maria que ela conceberia através de um milagre, teve início a vida humana do Filho de Deus. Pouco tempo depois, Maria visitou Isabel, e nós vemos o primeiro testemunho de João Batista a seu parente e Senhor, como um feto de seis meses no útero de sua mãe, diante da presença do embrião de Jesus, com poucos dias de idade (LC 1.39-45).

Diante dessas declarações teológicas básicas, as muitas referências incidentais à vida ainda não nascida no Antigo Testamento - nos profetas, em Jó, e particularmente nos Salmos - assumem um forte significado (por exemplo, Sl 139.13 e os versos seguintes).

O único texto bíblico que às vezes é oferecido como uma refutação é Êxodo 21.22 e os versos seguintes, passagem que se refere à punição apropriada a ser aplicada se os homens, durante combate, acidentalmente atingissem uma mulher e levassem-na a abortar. Há traduções diferentes da passagem, no entanto, isso não tem relevância para o debate sobre o aborto deliberado, uma vez que se refere ao homicídio involuntário de um filho não nascido, e não a um homicídio deliberado.

Nigel Cameron

Fonte: Bíblia de Estudo - Defesa da Fé - CPAD - págs. 987 e 988


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Os milagres Bíblicos são imitações de mitos pagãos?


Com frequência, aparece a queixa de que os milagres da Bíblia, especialmente os milagres de Jesus, eram motivados ou até mesmo inspirados por relatos pagãos do mundo antigo. Alguns tentam alegar que as curas, a possessão demoníaca, os nascimentos de virgens e as ressurreições eram comuns nos tempos antigos. Assim, esta é uma tentativa de dizer que a Bíblia não é diferente de outros documentos religiosos. talvez os cristãos tenham até mesmo plagiado outras narrativas.

Embora seja verdade que uma miríade de histórias de milagres adornavam o mundo antigo, a consequência não é necessariamente que as Escrituras as duplicavam. Embora promovida em alguns círculos populares, esta suposição é equivocada em vários níveis.

É verdade que alguns acadêmicos enfatizam as similaridades entre narrativas de milagres, pagãs e bíblicas. Mas nós devemos também acentuar as diferenças mais comuns (e profundas). Por exemplo, normalmente há um imenso abismo filosófico entre os antecedentes pagãos e bíblicos, para suas respectivas narrativas de milagres. A mentalidade pagã incorporou mais comumente padrões de natureza cíclica e repetitiva, marcados por ciclos sazonais. Por outro lado, a filosofia judaica da história move-se em padrões lineares, de um evento ao seguinte, culminando do grande clímax de Deus.



Além disto, estas histórias pagãs com frequência dizem respeito a pessoas que nunca viveram na história, como Hércules, da antiga mitologia grega, ao passo que Jesus e outros realizadores bíblicos de milagres viveram, indubitavelmente. Os estudiosos observam que estas histórias pagãs nunca foram influentes na Palestina, onde prevalecia uma mentalidade muito diferente.

Surpreendentemente, nenhuma história de milagres do mundo antigo é sequer candidata a servir de inspiração para os milagres de Jesus. Poucas destas histórias são anteriores ao Novo Testamento e se aproximam dos milagres de Jesus. Assim sendo, é difícil provar uma correspondência.

A respeito da ressurreição de Jesus, a inadequação desta solução proposta fica ainda mais aparente. Os textos afirmam claramente que heróis pagãos proeminentes foram ressuscitados depois das narrativas do Novo Testamente. Os estudiosos sabem que alguns ensinamentos antigos foram copiados do cristianismo, e a ressurreição de Jesus pode ser um exemplo de algo que foi copiado!

Assim, há muitas razões por que as narrativas do Novo testamento não derivaram de textos pagãos. A resposta mais crucial, declarada de maneira clara, é que nós temos muitas razões para crer que Jesus realmente realizou milagres durante o seu ministério. Na verdade, praticamente todos os estudiosos e críticos contemporâneos concordam que Jesus realizou muitos atos que poderiam ser chamados de "milagres" ou "expulsão de demônios".

Acima de tudo, existe uma incrível quantidade de evidência que declara que Jesus realmente ressuscitou dos mortos. por exemplo, nós temos confiáveis narrativas de vários autores a respeito de muitos que pensaram que tinham visto o Jesus ressuscitado. A testemunha mais crucial é Paulo, uma testemunha ocular que forneceu um dos primeiros testemunhos. Assim sendo, não devemos deixar de perceber que inúmeras testemunhas dignas de crédito (incluindo os anteriormente céticos, Paulo e Tiago) estavam proclamando a sua convicção pela qual estavam dispostos a morrer. Longe de estar inspirados por fábulas ilusórias, muitos morreram pela sua crença honesta de que eles realmente tinham visto o Jesus ressuscitado. As estórias pagãs não explicam esta convicção.

Gary R. Habermas

Fonte: Bíblia de Estudo Defesa da Fé - CPAD - Pág. 1504

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Como a morte de Jesus pode trazer o Perdão?

   Ocasionalmente, ouvem-se estórias sobre alguém que é sentenciado por um crime, quando, de repente, outra pessoa levanta-se e diz: "Eu receberei a punição no lugar dele". Muitas dessas estórias não são baseadas em fatos. Mas o Novo Testamento ensina que Jesus, na sua morte, tomou sobre si a punição pelo nosso pecado.



   As escrituras ensinam que toda humanidade está manchada e corrompida pelo pecado, tanto por causa do pecado de nosso antepassado, Adão (Rm 5.12-21), como porque nós mesmos somos todos pecadores (Ef. 2.1-3). Deus, como o justo Juiz, não pode ignorar o pecado, e não o fará, uma vez que o pecado viola a sua natureza e traz destruição para o mundo perfeito que Ele criou. Deus seria injusto se simplesmente dissesse: "Oh! Bem, são apenas meninos". Em vez disto, o pecado deve ser punido, e uma vez que todos nós infringimos a lei de Deus, nós merecemos a plena punição. Contudo, surpreendetemente, Jesus veio para tomar a nossa punição sobre si mesmo. O Novo Testamento nos fala que a morte de Jesus propiciou o perdão, pelo menos de três maneiras. Em primeiro lugar, a morte de Jesus foi um sacrifício pelos nossos pecados. Cristo cumpre o sistema de sacrifícios do Antigo Testamento, sendo ao mesmo tempo, sumo sacerdote e sacrifício (Hb 5-10). No dia da expiação, animais eram mortos diante do altar e o sangue era espargido sobre o propiciatório no Lugar Santíssimo. Debaixo do propiciatório, havia tábuas de pedra em que haviam sido escritos os Dez Mandamentos. Olhando do céu para baixo, Deus podia ver a lei, mas quando o sangue de sacrifício era espargido, a lei - como lembrete do pecado do povo - era coberta. Sem derramamento de sangue não há perdão de pecados (Hb 9.22).

   Em segundo lugar, o Novo Testamento fala sobre a morte de Cristo como uma "propiciação" pelos nossos pecados (Rm 3.21-26). Esta palavra, hilasmo, tem o significado de "uma oferta que satisfaz a ira de Deus pelo pecado", todavia, notavelmente, o próprio Deus fornece esta oferta. Quando Jesus morreu na cruz, clamou: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (Mt 27.46).

   O Pai estava derramando a sua ira porque "Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus" (2 Co 5.21).

   Em terceiro lugar, e relacionado aos dois aspectos já mencionados, a Bíblia fala sobre a morte de Cristo como uma substituição. Jesus não veio para ser servido, mas para servir e "dar a sua vida em resgate de muitos" (Mc 10.45). Jesus "se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau" (Gl 1.4). As predições de Isaías sobre um Servo Sofredor que viria são cumpridas na morte de Jesus, que "foi ferido pelas nossas transgressões e moídos pelas nossas iniquidades [...] o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos" (Is 53.5,6). Ele morreu em nosso lugar.

   Pela fé, e somente pela fé, nós recebemos o perdão que Cristo propicia pela sua morte humilhante e dolorosa. O resultado? A vida eterna (Ef 2.3-10).

Fonte: Bíblia de Estudo Defesa da Fé - CPAD - Pág. 1978


domingo, 6 de janeiro de 2013

A Exatidão Bíblica


A Bíblia foi Copiada com Exatidão ao Longo dos Séculos? 


   A Bíblia é o livro do mundo antigo que é transmitido com maior exatidão. Nenhum outro livro antigo tem tantos manuscritos, ou tão antigos, ou copiados com tanta precisão.


   O Antigo Testamento

   A confiabilidade do Antigo Testamento está baseada em três fatores: a sua abundância, datação e exatidão. Muitas obras da antiguidade sobrevivem apenas em um punhado de manuscritos: somente 7 para Platão, 8 para Tucídides, 8 para Heródoto, 10 para Gallic Wars, de César, e 20 para Tácito. Somente as obras de Demóstenes e Homero chegam a ter centenas de manuscritos. Mas mesmo antes de 1890, um estudioso chamado Giovanni de Rossi publicou 731 manuscritos do Antigo Testamento, em Geniza, no Cairo, e, em 1947, as cavernas do Mar Morto, em Qumran produziram mais de 600 manuscritos do Antigo Testamento.
   Além disto, os Pergaminhos do Mar Morto, que contêm pelo menos fragmentos de todos os livros do Antigo Testamento com excessão do Livro de Ester, todos datam de antes do fim do século I D.C., e alguns  do século III A.C. O Papiro Nash está datado entre o século II A.C. e o século I D.C.
   A exatidão dos manuscritos é conhecida, com base em evidências internas e externas: (1) Sabe-se que a reverência dos escribas judeus pelas Escrituras levou à sua transmissão cuidadosa; (2) O exame de passagens duplicadas (por exemplo, Sl 14 e Sl 53) mostra transmissão paralela; (3) A Septuaginta, que é a antiga tradução do Antigo Testamento ao idioma grego, está substancialmente de acordo com os manuscritos hebreus; (4) A comparação do Pentateuco Samaritano com os mesmos livros bíblicos preservados na tradição judaica mostra íntima similaridade; (5) Os Manuscritos do Mar Morto fornecem manuscritos que datam de mil anos antes do que muitos usados para estabelecer o texto hebraico.
   Estudos comparativos revelam uma identidade palavra por palavra, em 95 por cento do texto. Variantes de menor importância consistem, principalmente, de erros de escrita ou de grafia. Somente 13 peuqenas variações foram descobertas em toda a cópia de Isaías do Manuscritos do Mar Morto, das quais oito eram conhecidas de outras fontes antigas. Depois de mil anos de cópias, não houve mudança de significado, e praticamente não houve nenhuma mudança no uso de palavras!



   O Novo Testamento

   A confiabilidade do Novo Testamento é estabelecida porque o número, a data e a exatidão de seus manuscritos permitem a reconstrução do texto original, com mais precisão do que qualquer outro texto antigo. O número de manuscritos do Novo Testamento é impressionante (quase 5700 manuscritos gregos) em comparação com os livros típicos da antiguidade (cerca de 7 a 10 manuscritos; a Ilíada, de Homero, é a obra que tem a maior quantidade de manuscritos, 643). O Novo Testamento é simplesmente o livro mais respaldado textualmente do mundo antigo.
   O mais antigo manuscrito do Novo Testamento, sobre o qual não paira nenhuma disputa, é o papiro de John Rylands, com data entre 117 e 138 D.C. Livros inteiros (por exemplo, os contidos nos papiros Bodmer) estão disponíveis a partir do ano 200. A grande parte do Novo Testamento, incluindo todos os Evangelhos, está disponível nos manuscritos de Chester Beatty Papyri, que datam aproximadamente de 250 D.C.
   O famoso estudioso britânico de manuscritos, Sir Frederick Kenyon, escreveu: "O intervalo, então, entre as datas da composição original e a mais antiga evidência existente se torna tão pequeno, a ponto de ser, na verdade, insignificante, e a última fundação para qualquer dúvida de que as Escrituras nos tenham vindo substancialmente, da maneira como foram escritas, agora foi removida". Assim, tanto "a autenticidade como a integridade geral dos livros do [NT] podem ser considerados firmemente estabelecidas". Nenhum outro livro antigo tem um intervalo tão pequeno de tempo, entre a sua composição e as suas primeiras cópias manuscritas, como o Novo Testamento.
   Não apenas há mais manuscritos do Novo Testamento, e mais antigos, como também foram copiados com mais exatidão do que outros textos antigos. O estudioso do Novo Testamento e professor em Princeton, Bruce Metzger, fez uma comparação do Novo Testamento com a Ilíada de Homero e o Mahabharata, do hinduísmo. Ele descobriu que o texto desta última obra representa apenas 90 por cento do original (com 10 por cento de correção textual); a Ilíada era 95 por cento pura, e somente meio por cento do texto do Novo Testamento permanecia em dúvida. O estudioso grego A. T. Robertso avaliou que as dúvidas textuais do Novo Testamento tem a ver apenas com "uma milésima parte de todo o texto", avaliando a exatidão do texto do Novo Testamento em 99,5 por cento - a maior exatidão conhecida para qualquer livro do mundo antigo. Sir Frederick Kenyon observou que o "número de [manuscritos] do Novo Testamento, de traduções antigas dele, e de citações feitas dele nos autores mais antigos da igreja, é tão grande que é praticamente certo que o texto original de cada passagem duvidosa esteja preservado, em uma ou outra destas autoridades antigas. Não é possível dizer isto sobre nenhum outro livro antigo do mundo".
   Em resumo, o grande número, as datas antigas e a exatidão incomparável das cópias manuscritas do Antigo e do Novo Testamento, estabelecem a confiabilidade da Bíblia, muito além da de qualquer outro livro antigo. A sua mensagem substancial não foi reduzida com o passar dos séculos, e a sua exatidão, até mesmo em detalhes menos importantes, foi confirmada. Assim, a Bíblia que temos hoje em nossas mãos é uma cópia altamente confiável do original, que nos veio das penas dos profetas e dos apóstolos.

Norman L. Geister

Fonte: Bíblia de Estudo Defesa da Fé- CPAD - págs. 540 e 541