terça-feira, 24 de junho de 2014

Não basta ser legal!


A “BONDADE NATURAL” – ter uma personalidade sadia e íntegra – é excelente. Devemos procurar, por todos os meios ao nosso alcance, sejam médicos, econômicos e políticos, “produzir” um mundo em que o maior número de pessoas cresçam sendo “amáveis” ou “boas”, da mesma forma que devemos tentar contribuir para um mundo em que todos tenham o suficiente para comer. Mas não devemos supor que mesmo se tivermos sucesso em tornar todas as pessoas em seres humanos amáveis, suas almas estariam salvas. Um mundo de gente boa, contente consigo mesmo e que não olhe para mais nada (esquecidos de Deus), seria tão desesperadamente necessitado de salvação, quanto um mundo miserável – e talvez fosse até mais difícil de ser salvo.



O simples aperfeiçoamento não significa redenção, embora redenção sempre melhore as pessoas, até mesmo aqui e agora, e aperfeiçoará, no final das contas, num grau que não se pode imaginar. Deus se fez homem para transformar suas criaturas em seus filhos: não, simplesmente, para melhorar o velho homem, mas para produzir um novo tipo de homem. Não se trata de ensinar um cavalo a pular cada vez melhor, mas de transformar um cavalo em um ser alado. É claro que, uma vez adquiridas as asas, ele levantaria vôo por sobre os obstáculos que antes nunca teriam sido vencidos e, com isso, acabará derrotando o cavalo comum no seu próprio jogo. Mas poderá haver um período, enquanto as asas ainda estiverem começando a crescer, em que ele não poderá fazê-lo. E nesse estágio as protuberâncias nos ombros – ninguém que as veja diz que irão se transformar em asas – talvez até mesmo lhe dêem uma aparência desajeitada.

C S Lewis – Cristianismo Puro e Simples

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Caminho...




Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele.

Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.

 João 14:6


domingo, 1 de junho de 2014

paz que excede todo o entendimento


Agradeço a Deus, pois nos momentos difíceis que tenho passado nos últimos dias, Ele tem me amparado, me dado forças, tranquilidade e calma no meio da tempestade, me ensinando o significado da "paz que excede todo o entendimento"!!
Saiba: Deus me criou para voar em meio as tempestades!




Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos,


Para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar, guardada nos céus para vós,

Que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo,

Em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações,

Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo;

Ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso;

Alcançando o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas.

1 Pedro 1:3-9


terça-feira, 15 de abril de 2014

4º Niver do Blog!!!

Até aqui nos ajudou o Senhor!!




Agradeço a Deus pelo que fez até aqui... pela inspiração e paciência para tocar o blog nesses 4 anos. Agradeço aqueles que, direta ou indiretamente nos auxiliaram, agradeço pelas orações, pelas vidas que de alguma maneira foram tocadas pelas palavras deste blog simples. Peço forças para continuar levando a palavra "até os confins da terra", para honrar o meu criador e exaltar o autor e consumador da minha fé... Jesus o Cristo...
... porque é necessário que se Olhe para a Cruz!



NADA ERA DELE(Gioia Junior)

Disse um poeta um  dia, fazendo referência ao Mestre amado:
"o berço que Ele usou na estrebaria, por acaso era dele? Era emprestado!

E o manso jumentinho, que em Jerusalém chegou montado e palmas recebeu pelo caminho,
Por acaso era dele? Era emprestado!

E o pão - o suave pão, que foi por seu amor multiplicado alimentando a multidão
Por acaso era dele? Era emprestado!

E os peixes que comeu junto ao lago, ficou alimentado Esse prato era seu? Era emprestado!

E o famoso barquinho?
Aquele barco em que ficou sentado Mostrando à multidão qual o caminho
Por acaso era seu? Era emprestado!

E o quarto em que ceou ao lado dos discipulos Ao lado de Judas  que o traiu
Por acaso era dele? Era emprestado!

E o berço tumular, que depois do calvário foi usado de onde havia de ressuscitar
Por acaso era dele? Era emprestado!

Enfim, nada era dele!
Mas a coroa que Ele usou na cruz era dele!
E a cruz que carregou e onde morreu, Essas eram de fato de Jesus! "

Isso disse um poeta certa vez, numa hora de buscada verdade; mas não aceito essa filosofia que contraria à própria realidade. O berço, o jumentinho, o suave pão, os peixes, o barquinho, a sepultura e o quarto, eram dele a partir da criação; Ele os criou - assim diz a Escritura; mas a cruz que Ele usou, a rude cruz, a cruz negra e mesquinha, onde meus crimes todos expiou, essa cruz não era sua! Essa cruz era minha!




quinta-feira, 13 de março de 2014

Desde a infância...





Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, e que desde a infância sabes as Sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda a Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra.


segunda-feira, 3 de março de 2014

Como é possível Cristo ser o único caminho para Deus?

Como é possível Cristo ser o único caminho para Deus?

William Lane Craig
Originalmente publicado como: “How Can Christ Be the Only Way to God?”. Texto disponível na íntegra em: http://www.reasonablefaith.org/how-can-christ-be-the-only-way-to-god.
Traduzido por Marcos Vasconcelos. Revisado por Djair Dias Filho.



Introdução
Falei recentemente numa grande universidade canadense sobre a existência de Deus. Após a palestra, uma estudante um tanto irada escreveu no seu cartão de comentários: “Estava do seu lado até você chegar naquele assunto sobre Jesus. Deus não é o Deus cristão!”.
Essa atitude é universal na cultura ocidental hoje. A maioria das pessoas se alegra em concordar que Deus existe, mas em nossa sociedade pluralista tem-se tornado politicamente incorreto sustentar que Deus revelou a si mesmo de maneira decisiva em Jesus.
Nada obstante, é exatamente isso que o Novo Testamento ensina com toda a clareza. Consideremos as cartas do apóstolo Paulo, por exemplo. Ele convida seus convertidos gentios a lembrar-se de seus dias antes de serem cristãos: “lembrai-vos de que, no passado [...] estáveis naquele tempo sem Cristo, separados da comunidade de Israel, estranhos às alianças da promessa, sem esperança e sem Deus no mundo” (Ef 2.12). Os capítulos de abertura da carta de Paulo aos romanos se encarregam de mostrar que essa condição desolada é a situação geral da humanidade. O apóstolo explica que o poder e a divindade de Deus são dados a conhecer por intermédio da ordem criada ao nosso redor, de sorte que os homens ficam sem desculpa (1.20), e que Deus escreveu a sua lei moral no coração de todos os homens, e por isso são moralmente responsáveis diante dele (2.15). Embora Deus ofereça a vida eterna para todos quantos respondam da maneira apropriada à revelação geral de Deus na natureza e na consciência (2.7), o triste é que, em vez de adorarem e servirem ao Criador, as pessoas ignoram Deus e desdenham da sua lei moral (1.21-32). Conclusão: todos os homens estão debaixo do poder do pecado (3.9-12). Pior ainda, Paulo continua explicando que ninguém tem poder para remir a si mesmo mediante uma vida de retidão (3.19-20). Felizmente, porém, Deus providenciou uma saída: Jesus Cristo morreu pelos pecados da humanidade satisfazendo as exigências da justiça de Deus e tornando possível a reconciliação com Deus (3.21-26). Por meio de sua morte expiatória, a salvação está à disposição como dádiva recebida pela fé.
A lógica no Novo Testamento é clara: a universalidade do pecado e a singularidade da morte expiatória de Cristo significam que não há salvação fora de Cristo. Conforme proclamava o apóstolo: “não há salvação em nenhum outro, pois debaixo do céu não há outro nome dado entre os homens pelo qual devamos ser salvos” (Atos 4.12).
Essa doutrina particularista foi exatamente tão escandalosa no mundo politeísta do Império Romano quanto na cultura ocidental contemporânea. Por isso, os cristãos primitivos quase sempre foram alvos de severa perseguição, tortura e morte, por se recusarem a adotar uma visão pluralista religiosa. Com o tempo, todavia, como o cristianismo cresceu ao ponto de suplantar as religiões de Grécia e Roma e converter-se na religião oficial do Império Romano, o escândalo arrefeceu. Na verdade, para pensadores medievais como Agostinho e Tomás de Aquino, uma das marcas da verdadeira igreja era a sua catolicidade, ou seja, a sua universalidade. No conceito deles, parecia inacreditável que o grande edifício da igreja cristã, abrangendo toda a civilização, se fundamentasse na falsidade.
A morte dessa doutrina chegou com a chamada “expansão da Europa”, relacionada a três séculos de explorações e descobertas, estendendo-se aproximadamente de 1450 a 1750. Por meio das viagens e navegações de homens como Marco Polo, Cristóvão Colombo e Fernão de Magalhães, foram descobertas novas civilizações e mundos totalmente novos, que nada sabiam da fé cristã. O entendimento de que a maior parte do mundo estava de fora das fronteiras da cristandade causou um impacto duplo sobre o pensamento religioso do povo. Primeiro, o impacto tendia a relativizar as crenças religiosas. Viu-se que, longe de ser a religião universal da humanidade, a maior parte do cristianismo confinava-se à Europa ocidental, uma parte do globo. Nenhuma religião particular, segundo parecia, poderia reivindicar validade universal; cada sociedade parecia ter sua própria religião ajustada a suas necessidades peculiares. Segundo, o impacto fez a reivindicação do cristianismo — de ser o único meio de salvação — parecer cruel e estreita. Os racionalistas do Iluminismo, como Voltaire, escarneciam dos cristãos de seus dias com a perspectiva de milhões de chineses condenados ao inferno por não terem crido em Cristo, quando sequer tinham como ouvir a respeito dele. Em nossos próprios dias, o influxo de imigrantes nas nações ocidentais oriundos das ex-colônias e os avanços nas telecomunicações, que servem para reduzir o mundo a uma aldeia global, têm intensificado a nossa consciência da diversidade religiosa da humanidade. O resultado disso é que o pluralismo religioso se converteu mais uma vez na sabedoria convencional.
O problema apresentado pela diversidade religiosa
Mas qual é exatamente o suposto problema apresentado pela diversidade religiosa da humanidade? E para quem se supõe que seja um problema? Ao ler a literatura sobre a questão, o desafio recorrente parece estar posto na entrada da porta do cristão particularista. O fenômeno da diversidade religiosa leva à consideração de que o pluralismo é verdadeiro, e o debate principal passa a ser sobre que forma de pluralismo é a mais plausível. Mas por que imaginar que o particularismo cristão é insustentável diante da diversidade religiosa? Qual parece ser exatamente o problema?
Quando se examinam os argumentos favoráveis ao pluralismo, percebe-se que muitos deles quase são exemplos de falácias lógicas de livros didáticos. Por exemplo, afirma-se com muita frequência que é arrogante e imoral defender o particularismo de alguma doutrina religiosa, porque a pessoa é obrigada a considerar como erradas todas as outras que discordam da sua religião. Isso parece ser um exemplo da falácia lógica conhecida como argumento ad hominem tirado de algum livro didático, o qual procura invalidar uma posição atacando-se o caráter daqueles que a defendem. Isso é uma falácia, porque a verdade de uma posição não depende das qualidades morais daqueles que creem nela. Mesmo que todos os cristãos particularistas fossem arrogantes e imorais, isso não serviria de nada para provar que a visão deles é falsa. Não somente isso, mas por que pensar que arrogância e imoralidade sejam condições necessárias para ser um particularista? Vamos supor que eu tenha feito tudo que me foi possível para descobrir a verdade acerca da realidade e esteja convencido de que o cristianismo é verdadeiro e, portanto, abraço humildemente a fé cristã como dádiva imerecida de Deus. Acaso seria eu arrogante e imoral por acreditar naquilo que penso sinceramente que seja a verdade? Por fim, e ainda mais fundamentalmente, essa objeção é uma espada de dois gumes, uma vez que o pluralista acredita também que a visão dele é a certa e que todos os demais adeptos das tradições religiosas particularistas estão errados. Logo, se sustentar uma visão da qual muitas outras pessoas discordam significa que você é arrogante e imoral, então o próprio pluralismo poderia ser condenado como arrogância e imoralidade.
Ou, para dar outro exemplo, alega-se quase sempre que o particularismo cristão não pode estar certo porque as crenças religiosas são culturalmente relativas. Por exemplo, se um cristão tivesse nascido no Paquistão, provavelmente teria sido muçulmano. Logo, a sua crença no cristianismo não é verdadeira nem justificável. Uma vez mais, essa argumentação se parece com um exemplo da falácia genética tirado de um livro didático. Ela tenta invalidar uma posição pelo modo como a pessoa veio a defender essa posição. O fato de suas crenças dependerem de onde e quando você nasceu não importa em nada para as verdades delas. Se tivesse nascido na Grécia antiga, você provavelmente acreditaria que o sol orbitava a Terra. Acaso isso significa que a sua crença de que a Terra orbita o sol é, portanto, falsa e injustificável? É evidente que não! E, uma vez mais, o pluralista puxa o tapete de debaixo dos própios pés, pois, se tal pessoa tivesse nascido no Paquistão, muito provavelmente seria um particularista religioso. Desse modo, de acordo com a sua própria análise, o pluralismo que ele defende é mero produto do fato de ter nascido na sociedade ocidental do final do século XX e, portanto, é falso ou injustificado.
Assim, alguns dos argumentos contra o particularismo cristão encontrados com tanta frequência na literatura são bastante inexpressivos. Mas esses argumentos não são o problema, de fato. Apesar disso, acho que, quando essas objeções são respondidas pelos defensores do particularismo cristão, logo a questão verdadeira tende a vir à tona. Essa questão, penso eu, diz respeito ao destino dos incrédulos que estão fora da tradição religiosa particular defendida. O particularismo cristão consigna essas pessoas ao inferno, o que os pluralistas consideram exorbitante.
Mas que problema exatamente se supõe que há aqui? Que dificuldade há em sustentar que a salvação está ao alcance somente por intermédio de Cristo? Seria a mera hipótese de que um Deus amoroso não lançaria as pessoas no inferno? Acho que não. A Bíblia diz que Deus deseja a salvação do ser humano. “O Senhor [...] não quer que ninguém pereça, mas que todos venham a se arrepender.” (2Pe 3.9). Ou, ainda: “[Ele] deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1Timóteo 2.4). É assim que Deus fala por intermédio do profeta Ezequiel:
Por acaso tenho algum prazer na morte do ímpio?, diz o SENHOR Deus. Por acaso não desejo que se converta dos seus caminhos e viva? [...] Porque não tenho prazer na morte de ninguém, diz o SENHOR Deus; convertei-vos e vivei. [...] Dize-lhes: Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, não tenho prazer na morte do ímpio, mas sim em que o ímpio se converta do seu caminho e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; por que morreríeis, ó casa de Israel? (Ez 18.23,32; 33.11).
Aqui, Deus apela literalmente ao seu povo para que se converta de seu curso de ação autodestrutivo e seja salvo. Assim, de certa maneira, o Deus bíblico não lança ninguém no inferno. Ele deseja que todos sejam salvos, e procura atrair todas as pessoas para si mesmo. Se, por livre vontade e bem informados, tomarmos a decisão de rejeitar o sacrifício de Cristo pelo nosso pecado, então, Deus não tem escolha senão nos dar aquilo que merecemos. Deus não nos enviará para o inferno, mas nós bem podemos nos enviar para lá. Nosso destino eterno, portanto, repousa em nossas mãos. É questão de livre escolha onde passaremos a eternidade. Os perdidos, por conseguinte, são autocondenados; separam a si mesmos de Deus a despeito da sua vontade e todo seu empenho em salvá-los, e o Criador se entristece com a perdição deles.
Ora, o pluralista talvez admita que, em razão da liberdade humana, Deus não pode assegurar que todos serão salvos. Algumas pessoas podem condenar a si mesmas ao rejeitarem a salvação oferecida por Deus. Mas, poderia argumentar ele, seria injusto Deus condenar essas pessoas para sempre. Pois mesmo os pecados terríveis dos torturadores nazistas nos campos de morte também merecem somente uma punição finita. Portanto, no máximo, o inferno seria uma espécie de purgatório, durando uma extensão de tempo apropriada para cada pessoa, antes que ela fosse libertada e admitida no céu. No final, o inferno ficaria vazio e o céu, cheio. Assim, ironicamente, o inferno é incompatível não com o amor de Deus, mas com a sua justiça. A objeção acusa Deus de ser injusto porque o castigo não é proporcional ao crime.
Uma vez mais, isso não me parece ser o problema real. Pois a objeção parece falha em pelo menos duas maneiras:
(1) A objeção faz confusão entre cada pecado que cometemos e todos os pecados que cometemos. Poderíamos concordar que cada pecado individual que se comete merece apenas um castigo finito. Mas disso não se conclui que todos os pecados de alguém, considerados como um todo, mereçam apenas um castigo finito. Se alguém comete um número infinito de pecados, então a soma total de todos esses pecados merece um castigo infinito. Ora, é óbvio que ninguém comete um número infinito de pecados durante a vida terrena. Mas que tal na vida após a morte? Na medida em que os habitantes do inferno continuam a odiar e rejeitar a Deus, acumulam assim sobre si mesmos mais culpa e mais castigo. Em sentido real, o inferno é autoperpetuante. Nesse sentido, todo pecado recebe um castigo finito, mas, uma vez que o pecado continua para sempre, da mesma forma continua o castigo.
(2) Por que pensar que cada pecado recebe apenas um castigo finito? Seria possível concordarmos que pecados como roubo, mentira, adultério e assim por diante têm somente consequências finitas e, portanto, são apenas merecedores de castigo finito? Mas, em certo sentido, não são esses os pecados que separam as pessoas de Deus. Pois Cristo morreu por esses pecados, o castigo por causa desses pecados foram pagos. A pessoa precisa apenas aceitar a Cristo como Salvador para ser completamente livre e purificada desses pecados. Mas a recusa em aceitar a Cristo e seu sacrifício parece ser um pecado de ordem totalmente diferente. Pois esse pecado repudia a provisão de Deus para o pecado e dessa maneira separa definitivamente a pessoa de Deus e da salvação que ele oferece. Rejeitar a Cristo é rejeitar o próprio Deus. E, à luz do que Deus é, esse é um pecado de gravidade e proporções infinitas e, portanto, merece plausivelmente castigo infinito. Não devemos, por isso, entender primariamente o inferno como o castigo pelo conjunto de pecados que cometemos e que têm consequências finitas, mas como o castigo justo de um pecado de consequência infinita, a saber, a rejeição do próprio Deus.
Mas pode ser que o problema esteja em supor que um Deus amoroso não poderia lançar as pessoas no inferno por elas não terem informação ou estarem mal informadas a respeito de Cristo. Uma vez mais, isso não me parece o âmago do problema. Porque, segundo a Bíblia, Deus não julga as pessoas que jamais ouviram sobre Cristo com base na fé delas em Cristo. Antes, Deus as julga com base na luz da revelação geral de Deus na natureza e na consciência que elas realmente possuem. A oferta de Romanos 2.7 — “Assim, ele dará a vida eterna aos que, perseverando em fazer o bem, procuram glória, honra e imortalidade” — é oferta sincera de salvação. Isso não quer dizer que as pessoas podem ser salvas sem Cristo. Antes, quer dizer que os benefícios da morte expiatória de Cristo poderiam ser aplicados às pessoas sem que elas tivessem conhecimento consciente de Cristo. Elas seriam semelhantes a certas pessoas mencionadas no Antigo Testamento, como Jó e Melquisedeque, que não tinham conhecimento consciente de Cristo nem sequer eram membros da família da aliança de Israel e, todavia, desfrutaram de um relacionamento pessoal com Deus. De modo semelhante, poderia haver Jós contemporâneos vivendo entre o porcentual da população do mundo, os quais ainda precisam ouvir o Evangelho de Cristo.
Infelizmente, como vimos, o testemunho do Novo Testamento diz que as pessoas, de maneira geral, sequer correspondem aos padrões mais baixos da revelação geral. Portanto, há pouca base para o otimismo de que existam muitos, ou mesmo um único que seja, que serão verdadeiramente salvos só pelo modo como reagem à revelação geral na natureza e na consciência. Por isso, o problema apresentado pela diversidade religiosa não poder ser simplesmente que Deus não condenaria as pessoas que não tivessem informações sobre Cristo nem que fossem mal informadas a respeito dele.
Em vez disso, parece-me que o problema real é este: se Deus é onisciente, então ele saberia quem, por livre vontade, receberia ou não o Evangelho. Mas, então, surgem algumas questões dificílimas:
(i) Por que Deus não levou o Evangelho às pessoas que, como ele sabia, poderiam aceitá-lo se o tivessem ouvido, apesar de rejeitarem a luz da revelação geral que possuem?
Para exemplificar: imaginem um indígena americano que viveu antes da chegada dos missionários cristãos. Vamos chamá-lo de Urso Andarilho. Suponhamos que Urso Andarilho olha para o céu à noite e, ao ver a beleza da natureza em torno de si, sente que tudo isso foi feito pelo Grande Espírito. Além disso, quando Urso Andarilho olha para dentro do coração, sente ali a lei moral dizendo-lhe que todos os homens são irmãos feitos pelo Grande Espírito, e, assim, entende que devemos viver em amor uns com os outros. Mas vamos supor que em vez de adorar ao Grande Espírito e viver em amor com seu semelhante, Urso Andarilho ignora o Grande Espírito e cria totens de outros espíritos, e ao contrário de amar seu semelhante vive em egoísmo e crueldade para com os outros. Nesse caso, Urso Andarilho seria condenado justamente diante de Deus com base na sua incapacidade de corresponder à revelação natural de Deus na natureza e na consciência. Mas imagine só que, se os missionários tivessem chegado, Urso Andarilho teria crido no Evangelho e sido salvo! Nesse caso, sua salvação ou condenação parece resultado da má sorte. Não por sua culpa, calhou de ele ter nascido numa época e lugar da história em que o Evangelho não estava ainda disponível. Sua condenação é justa, mas será que um Deus oniamoroso permitiria que o destino eterno das pessoas dependesse de acidentes históricos e geográficos?
(ii) Ainda mais fundamentalmente, por que Deus criou o mundo, mesmo sabendo que tantas pessoas não acreditariam no Evangelho e estariam perdidas?
(iii) Ainda mais radicalmente, por que Deus não criou um mundo no qual todos acreditassem por livre vontade no Evangelho e fossem salvos?
O que se espera que um cristão particularista responda a essas perguntas? Será que o cristianismo não faz de Deus um Deus cruel e desprovido de amor?
O problema analisado
A fim de responder a essas questões, seria proveitoso examinar mais de perto a estrutura lógica do problema que temos diante de nós. O pluralista parece afirmar que é impossível a Deus ser onipotente e oniamoroso e ainda assim algumas pessoas jamais ouviram o Evangelho e estão perdidas, o quer dizer que as declarações a seguir são logicamente inconsistentes:
1. Deus é onipotente e oniamoroso.
2. Algumas pessoas jamais ouviram o Evangelho e estão perdidas.
Agora precisamos perguntar: por que devemos entender que (1) e (2) são logicamente incompatíveis? Afinal de contas, não há nenhuma contradição explícita entre elas. Mas, se o pluralista estiver alegando que (1) e (2) são implicitamente contraditórias, terá de assumir algumas premissas ocultas que serviriam para dar origem a tal contradição e torná-la explícita. A pergunta é: que premissas ocultas são essas?
Devo dizer que nunca vi na literatura, da parte dos pluralistas religiosos, nenhuma tentativa de identificar essas suposições ocultas. Mas vamos tentar ajudar o pluralista um pouquinho só. Parece-me que ele deve estar supondo algo como o seguinte:
3. Se Deus é onipotente, ele pode criar um mundo em que todas as pessoas ouvem o Evangelho e são salvas gratuitamente.
4. Se for oniamoroso, Deus prefere um mundo em que todos ouvem o Evangelho e são salvos gratuitamente.
Uma vez que, de acordo com (1), Deus tanto é onipotente como é oniamoroso, deduz-se que ele pode criar um mundo com salvação universal e prefere esse mundo. Logo, esse mundo existe em contradição com (2).
Pois bem, as duas premissas ocultas devem ser necessariamente verdadeiras se a incompatibilidade lógica entre (1) e (2) puder ser demonstrada. Portanto, a pergunta é: tais suposições são necessariamente verdadeiras?
Vamos considerar (3). Parece não haver controvérsia de que Deus poderia criar um mundo no qual todas as pessoas ouvem o Evangelho. Porém, uma vez que as pessoas são livres, não há nenhuma garantia de que todos nesse mundo seriam gratuitamente salvos. De fato, não há razão para achar que o equilíbrio entre salvos e perdidos em tal mundo seria minimamente melhor do que o equilíbrio no mundo real! É possível, num mundo de pessoas livres que Deus poderia criar, que algumas pessoas, por livre vontade, rejeitem a sua graça e estejam perdidas. Por conseguinte, (3) não é necessariamente verdadeira, e, logo, o argumento pluralista é falacioso.
Mas e quanto a (4)? É necessariamente verdadeira? Vamos supor, para fins de argumentação, que existam mundos possíveis factíveis para Deus nos quais todas as pessoas ouvem o Evangelho e o aceitam. Será que o ser amoroso de Deus o compeliria a preferir um desses mundos ao mundo em que algumas pessoas estão perdidas? Não necessariamente, pois os mundos que abrangem a salvação universal poderiam ter outras deficiências predominantes que os tornem menos preferíveis. Por exemplo, vamos supor que os únicos mundos nos quais todos creiam por livre vontade no Evangelho são mundos com apenas um punhado de pessoas nele, digamos, com três ou quatro. Se Deus criasse alguma pessoa a mais, então, no mínimo uma delas teria rejeitado a sua graça por livre vontade e estaria perdida. Será que ele deveria preferir um desses mundos escassamente populosos a um mundo em que multidões creem no Evangelho e são salvas, mesmo que isso signifique que outras pessoas rejeitem sua graça por livre vontade e estejam perdidas? Isso está longe de ser óbvio. Embora conceda graça suficiente para a salvação de todas as pessoas que ele cria, Deus não parece ter menos amor por preferir um mundo mais populoso, mesmo isso significando que algumas pessoas resistiriam por vontade própria ao seu esforço para salvá-las e seriam condenadas. Assim, a segunda hipótese do pluralista também não é necessariamente verdadeira, de modo que seu argumento se mostra duplamente falacioso.
Logo, nenhuma das suposições do pluralista parece ser necessariamente verdadeira. A menos que ele possa sugerir algumas outras premissas, não temos razão para entender que (1) e (2) são logicamente incompatíveis.
Podemos, porém, aprofundar o argumento mais um pouco. Podemos mostrar positivamente que é inteiramente possível Deus ser onipotente e oniamoroso e que muitas pessoas jamais ouvem o Evangelho e estão perdidas. Tudo que temos de fazer é encontrar uma declaração possivelmente verdadeira compatível com o ser onipotente e oniamoroso de Deus que signifique que algumas pessoas jamais ouvem o Evangelho e estão perdidas. Seria possível formular tal declaração? Vejamos.
Deus, como ser amoroso e bom, quer que o máximo possível de pessoas seja salvo e que delas se perca o mínimo possível. Seu objetivo, então, é alcançar o equilíbrio ótimo entre essas variáveis, para não criar mais perdidos do que o necessário para atingir certo número de salvos. Mas é possível que o mundo real (que abrange o futuro bem como o presente e o passado) tenha esse equilíbrio. É possível que, para criar o tanto de pessoas que será salvo, Deus também tenha de criar o tanto de pessoas que se perderá. É possível que, se Deus tivesse criado um mundo em que menos pessoas vão para o inferno, então, ainda menos iriam para o céu. É possível que, para alcançar uma multidão de santos, Deus tenha de aceitar uma multidão de ímpios.
Seria possível refutar que um Deus oniamoroso não criaria pessoas que ele saberia se perderiam, mas que seriam salvas se apenas ouvissem o Evangelho. Mas como sabemos que essas pessoas existem? É razoável supor que muitas pessoas que nunca ouviram o Evangelho não teriam crido nele, mesmo que o ouvissem. Suponhamos, então, que Deus ordenou o mundo de modo tão providencial que todas as pessoas que nunca ouviriam o Evangelho sejam precisamente essas. Nesse caso, quem nunca ouviria o Evangelho e está perdido teria rejeitado o Evangelho e estaria perdido, ainda que o tivesse ouvido. Ninguém, no dia do juízo, ficaria diante de Deus e se queixaria: “Muito bem, Deus, então, eu não respondi à tua revelação geral na natureza nem na consciência! Mas se apenas eu tivesse ouvido o Evangelho, teria crido nele!”. Deus, portanto, diria: “Não, eu sabia que, mesmo se tivesse ouvido o Evangelho, você não teria crido nele. Assim, o julgamento que faço de você, com base na natureza e na consciência, não é injusto nem desamoroso”.
Assim, é possível que:
5. Deus criou um mundo dotado de equilíbrio ótimo entre salvos e perdidos, e aqueles que nunca ouviram o Evangelho e estão perdidos não teriam crido nele, mesmo que o tivessem ouvido.
Desde que (5) seja mesmo possivelmente verdadeira, essa proposição mostra que não há incompatibilidade entre um Deus onipotente e oniamoroso e o fato de algumas pessoas nunca ouvirem o Evangelho e estarem perdidas.
Com base nisso, estamos agora preparados para apresentar respostas possíveis às três perguntas difíceis que deram ocasião a essa investigação. Vamos considerá-las na ordem reversa:
(i) Por que Deus não criou um mundo em que todos acreditassem por livre vontade no Evangelho e fossem salvos?
Resposta: Não seria factível para Deus criar tal mundo. Se ele fosse exequível, Deus o teria criado. Mas, em razão da sua vontade de criar criaturas com livre vontade, Deus teve de aceitar que algumas delas, por livre vontade, rejeitassem a ele e ao seu esforço de salvá-las e se perderiam.
(ii) Por que Deus criou o mundo, mesmo sabendo que tantas pessoas não acreditariam no Evangelho e estariam perdidas?
Resposta: Deus queria partilhar seu amor e companhia com pessoas criadas. Ele sabia que isso significava que muitos o rejeitariam por livre vontade e estariam perdidos. Mas sabia também que muitos outros receberiam a sua graça por livre vontade e seriam salvos. A felicidade e a bem-aventurança daqueles que livremente abraçam o seu amor não poderiam ser impossibilitadas pelos que livremente o rejeitariam. Com efeito, às pessoas que rejeitariam livremente a Deus e seu amor não se permitiria nenhum tipo de poder de veto sobre que mundos Deus está livre para criar. Deus, na sua misericórdia, ordenou providencialmente o mundo para alcançar o equilíbrio ótimo entre os salvos e os perdidos, mediante a maximização do número daqueles que o aceitam livremente e minimização do número dos que não o aceitariam.
(iii) Por que Deus não levou o Evangelho às pessoas que, como ele sabia, poderiam aceitá-lo se o tivessem ouvido, apesar de rejeitarem a luz da revelação geral que possuem?
Resposta: Essas pessoas não existem. Deus, na sua providência, organizou o mundo de tal maneira que as pessoas que responderiam ao Evangelho se o ouvissem, realmente o ouvem. O Deus soberano ordenou a história humana de modo que, à proporção que o Evangelho se espalhava da Palestina do primeiro século, ele pôs no seu caminho aqueles que haveriam de crer se o ouvissem. Uma vez que o Evangelho alcança um povo, Deus providencialmente põe lá pessoas que ele sabe responderiam ao Evangelho se o ouvissem. Em seu amor e misericórdia, Deus garante que todos quantos haveriam de crer no Evangelho se o ouvisse, não nasçam em época e lugar da história em que não podem ouvi-lo. Aqueles que não respondem à revelação geral de Deus na natureza e na consciência e nunca ouvem o Evangelho não lhe responderiam positivamente se o ouvissem. Portanto, ninguém se perde por causa de acidente histórico ou geográfico. Qualquer um que quiser ser salvo será salvo.
Essas são apenas algumas respostas possíveis às questões apresentadas. Mas, conquanto sejam mesmo possíveis, mostram que não há incompatibilidade entre o ser onipotente e oniamoroso de Deus e o fato de algumas pessoas nunca ouvirem o Evangelho e perecerem perdidas. Ademais, essas respostas são atraentes porque parecem também ser bastante bíblicas. Em seu discurso ao ar livre aos filósofos atenienses reunidos no Areópago, Paulo declarou:
O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há, Senhor do céu e da terra [...] Pois é ele mesmo quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas. De um só fez toda a raça humana para que habitasse sobre toda a superfície da terra, determinando-lhes os tempos previamente estabelecidos e os territórios da sua habitação, para que buscassem a Deus e, mesmo tateando, pudessem encontrá-lo. Ele, de fato, não está longe de cada um de nós; pois nele vivemos, nos movemos e existimos (Atos 17.24-28a).
Isso soa exatamente como as conclusões a que cheguei puramente através da reflexão filosófica sobre o assunto!
Ora, o pluralista admitiria a compatibilidade lógica do ser onipotente e oniamoroso de Deus e o fato de algumas pessoas jamais ouvirem o Evangelho e perecerem perdidas, mas insiste que, apesar disso, esses dois fatos são improváveis, um com relação ao outro. De modo geral, as pessoas parecem acreditar na religião da cultura em que foram criadas. Mas, nesse caso, o pluralista poderia argumentar que é altamente provável que, se muitos dos que nunca ouviriam o Evangelho fossem criados numa cultura cristã, teriam acreditado no Evangelho e seriam salvos. Por isso, a hipótese apresentada por nós é altamente implausível.
Agora, seria fantasticamente improvável que por puro acaso ocorresse que todas as pessoas que nunca ouviriam o Evangelho e estariam perdidas não teriam crido no Evangelho, mesmo que o tivessem ouvido. Mas a hipótese não é essa. A hipótese é que um Deus providente organizou o mundo dessa maneira. Considerando-se que é um Deus dotado do conhecimento acerca de como cada pessoa responderia livremente à sua graça em quaisquer circunstâncias em que ele a pusesse, não é totalmente implausível que Deus tenha ordenado o mundo da maneira descrita. Um mundo assim, externamente, em nada pareceria diferente de um mundo em que as circunstâncias do nascimento de alguém sejam questão de acaso. O particularista pode concordar que as pessoas geralmente adotam a religião da cultura delas e, se muitas das que nascem em culturas não cristãs tivessem, em vez disso, nascido numa sociedade cristã, teriam se tornado cristãs, culturalmente ou nominalmente. Mas isso não quer dizer que seriam salvas. É fato meramente empírico que não há características diferenciadoras, psicológicas ou sociológicas, entre quem se torna e quem não se torna cristão. Não há como predizer com exatidão, pelo exame de alguém, em que circunstâncias essa pessoa creria em Cristo para a salvação. Uma vez que um mundo ordenado por Deus se pareceria idêntico externamente com um mundo em que o nascimento da pessoa é uma questão de acidente histórico e geográfico, é difícil enxergar como a hipótese que defendi pode ser acusada de improvável sem que se demonstre que a existência de um Deus dotado desse conhecimento é implausível. Além disso, não tenho conhecimento de nenhuma dessas convincentes objeções.
Concluindo, então, o pluralista não conseguiu mostrar nenhuma inconsistência lógica no particularismo cristão. Pelo contrário, nós conseguimos provar que tal posição é logicamente coerente. Mais do que isso, considero que essa visão não é somente possível, mas é também plausível. Portanto, o fato da existência da religiosidade na humanidade não destrói o Evangelho cristão da salvação por meio de Cristo somente.
De fato, para nós cristãos, penso que o que defendi ajude a colocar na perspectiva apropriada as missões cristãs: como cristãos, temos o dever de proclamar o Evangelho ao mundo inteiro, na confiança de que Deus ordenou as coisas de maneira tão providencial que, por nosso intermédio, as Boas Novas chegarão às pessoas que Deus sabia que o aceitariam se assim o ouvissem. Nossa compaixão para com as pessoas de outras religiões do mundo expressa-se não em fingir que elas não estão perdidas sem Cristo, mas sustentando e esforçando-nos de todas as maneiras para comunicar- lhes a mensagem doadora de vida, de Cristo.
E quanto aos de nós que ainda não são cristãos, é necessário perguntar a si mesmo: estou aqui hoje por mero acidente? Foi exclusivamente por acaso que ouvi esta mensagem? Não há nenhum propósito nem razão pela qual eu esteja aqui? Ou poderia ser que Deus na sua providência trouxe-me aqui pela minha livre vontade para ouvir as Boas Novas de seu amor e perdão que ele estende para mim através de Cristo? Se assim for, qual deve ser minha reação? Ele me deu uma oportunidade, tirarei proveito dela em meu favor ou virarei as costas para ele uma vez mais e o deixarei de fora? A decisão depende de você.




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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Deus existe?



C. S. Lewis comentou certa vez que a existência de Deus é muito mais que uma questão meramente interessante. Afinal, se Deus não existe, não há nenhuma razão para nos interessarmos por ele. Mas se existe, nosso maior objetivo de vida é nos relacionarmos com este ser do qual depende nossa existência.
Muitos consideram o assunto irrelevante. Quem pensa assim demonstra que não refletiu seriamente sobre o problema. Até mesmo filósofos ateístas como Sartre e Camus admitiram que a existência de Deus é importante para a humanidade. Proponho três razões para meditarmos sobre a importância de Deus.
Sem Deus, a vida não tem sentido
Imagine que não há vida após a morte. Nesse caso, pouco importa a maneira como vivemos, pois se não precisamos prestar contas de nossos atos a Deus, significa que ninguém será punido ou recompensado por suas ações. Do ponto de vista moral, nossa existência se torna irrelevante. É óbvio que a vida ainda possuiria significado relativo, no sentido de que influenciamos outras pessoas ou alteramos o curso da história. Algum dia, entretanto, o universo se esfriará por completo e tudo perecerá. Quando isso acontecer, não fará nenhuma diferença as contribuições dos cientistas para o avanço do conhecimento, as pesquisas médicas para aliviar a dor e o sofrimento, o empenho dos diplomatas para garantir a paz no mundo, o sacrifício para melhorar a qualidade de vida da humanidade etc.; tudo terá sido em vão.
Sem Deus, não há esperança
Ou melhor, sem Deus não há esperança de nos livrarmos do mal. Embora muitos questionem como um Deus bom pôde criar um mundo com tanta maldade, na verdade a maior parte do sofrimento é causada pelo próprio ser humano. Os horrores das últimas duas guerras mundiais destruíram a ingenuidade otimista do século XX quanto ao progresso moral da humanidade. Se Deus não existe, estamos presos a um mundo sem esperança, repleto de sofrimento gratuito e sem a menor condição de erradicarmos o mal.
Além disso, se não há Deus, não há como escaparmos do envelhecimento e da morte. Talvez os mais jovens tenham dificuldade para compreender isso, mas a menos que o indivíduo morra jovem, em breve travará uma guerra perdida tentando impedir o avanço inevitável do envelhecimento e das doenças (possivelmente incluindo a senilidade) e, ao final (se não há vida após a morte) deixará de existir. O ateísmo, portanto, é uma filosofia sem esperança.
Em contrapartida, se Deus existe a vida adquire significado e esperança, além da possibilidade de conhecê-lo e amá-lo pessoalmente. Pense em um Deus bom e infinito que deseja amá-lo e ser seu amigo. Que mais o ser humano poderia desejar? Se Deus existe, sem dúvida faz toda diferença acreditar nele, não apenas para a humanidade, mas para você e eu.
Apesar de nenhum desses argumentos provar de modo categórico a existência de Deus, demonstram que faz toda diferença se Deus existe. Ainda que as evidências a favor e contra fossem absolutamente iguais, creio que a atitude mais racional seria acreditar em Deus. Em outras palavras, se houvesse 50% de chance de Deus existir ou não, porque alguém escolheria a morte, a futilidade e o desespero em detrimento da esperança, do propósito e da alegria?
Entretanto, não acredito que as evidências sejam absolutamente iguais e quero expor cinco razões plausíveis para você acreditar em Deus. Muitos livros foram escritos sobre cada uma delas, de modo que minha intenção aqui é apenas apresentar um breve resumo. Todo ser humano possui em sua psique a vontade de procurar sentido nas coisas e compreender a realidade como ela é de fato. Observe que a existência de Deus faz sentido para explicar diversos fatos de nossa existência.
1. A existência de Deus explica a origem do universo
Alguma vez você se perguntou de onde surgiu o universo? Por que existe algo ao invés de nada? Alguns acreditam que o universo é eterno e ponto final. Mas essa não é uma resposta racional. Basta refletir: se o universo nunca teve um começo, significa que houve infinitos acontecimentos no passado. A matemática, entretanto, demonstra a incoerência de afirmar a existência real de um número infinito de coisas. Por exemplo, quanto é infinito menos infinito? De acordo com a matemática, o resultado é contraditório. Isso mostra que o infinito é apenas uma concepção mental e não algo que existe na realidade. David Hilbert, possivelmente um dos maiores matemáticos do século XX, afirma: "O infinito não existe no mundo real; não existe na natureza e não fornece base legítima para o pensamento racional. O infinito existe apenas no mundo das ideias." 1
Considerando que os acontecimentos passados não são imaginários, mas fatos reais, o número de acontecimentos passados não pode ser infinito, de modo que há apenas uma conclusão lógica: o universo teve um começo. Surpreendentemente, essa conclusão vem sendo confirmada pela ciência moderna por meio de várias descobertas astronômicas e astrofísicas. Hoje temos evidências concretas de que o universo não é eterno, mas teve um início cerca de 13 bilhões de anos atrás por meio de um evento cósmico conhecido como Big Bang. Esse evento deu origem ao universo literalmente a partir do nada, isto é, toda a matéria e energia, inclusive o próprio espaço e o tempo, passaram a existir a partir dessa "explosão". Conforme explica o físico P. C. W. Davies, "o surgimento do universo, de acordo com a ciência moderna [...] não se trata apenas de impor ordem [...] sobre um estado de caos anterior; antes, estamos falando do surgimento de todas as coisas físicas literalmente a partir do nada". 2
Várias teorias alternativas têm sido propostas ao longo dos anos para tentar contornar essa conclusão, porém a teoria do Big Bang continua sendo a única alternativa plausível na comunidade científica. De fato, em 2003 os cientistas Arvind Borde, Alan Guth e Alexander Vilenkin provaram que nenhum universo em estado de expansão cósmica pode existir eternamente, mas deve necessariamente ter um início absoluto. Vilenkin afirma:
Diz-se que o argumento convence homens racionais, e a prova convence até mesmo os irracionais. Agora que temos a prova, os cosmologistas não podem continuar a se esconder atrás da possibilidade de um universo eterno no passado. Não há escapatória, precisam enfrentar o problema do nascimento cósmico. 3
Anthony Kenny, professor da Universidade de Oxford, exprimiu a questão de modo contundente: "A menos que sejam ateístas, os proponentes da teoria do Big Bang são forçados a acreditar que o universo surgiu do nada". 4 Essa ideia, entretanto, não faz sentido, pois não é possível algo surgir do nada. Então por que o universo existe, ao invés de nada? De onde surgiu? Deve ter havido uma causa que o produziu. Esse argumento pode ser resumido da seguinte maneira:
1. Tudo o que tem um começo tem uma causa.
2. O universo teve um começo.
3. Portanto, o universo tem uma causa.
Se as premissas 1 e 2 são verdadeiras, a conclusão é inevitável.
Considerando as circunstâncias envolvidas, esta causa que deu origem ao universo é uma entidade não-criada, imutável, eterna e imaterial. Não é criada porque, conforme observamos anteriormente, não é possível haver um regresso infinito de causas; é eterna (e, portanto, imutável, pelo menos em sua existência fora do universo) porque criou o tempo; e porque também criou o espaço, deve transcender a este; portanto, é um ser imaterial, isto é, não-físico.
Além disso, pode-se dizer que é um ser pessoal, pois de que outra maneira uma causa eterna produziria um efeito temporal como o universo? Se a causa fosse um conjunto inevitável e suficiente de estados e operações mecânicas, não poderia existir de modo independente do efeito. Por exemplo, a causa do congelamento da água está na diminuição da temperatura para menos de 0º centígrados. Se a temperatura tivesse permanecido abaixo de 0º centígrados desde o passado eterno, toda água que existe hoje estaria congelada desde a eternidade; nesse caso, seria impossível que a água tivesse começado a congelar apenas em um período finito de tempo atrás. Portanto, se a causa existe continuamente, o efeito também deve existir continuamente. A única forma de uma causa ser eterna e seu efeito ter início em determinado momento é supor que se trata de um agente pessoal que escolheu livremente produzir um efeito no tempo, sem nenhuma relação com circunstâncias predeterminadas. Por exemplo, um homem sentado eternamente pode decidir levantar-se. A partir disso inferimos não apenas uma causa transcendente para o universo, mas o próprio Criador.
É um fato extraordinário que a teoria do Big Bang confirme exatamente aquilo que os cristãos sempre acreditaram: no princípio, criou Deus o universo. Qual conclusão parece mais sensata: Deus criou o universo ou este surgiu do nada, sem causa?
2. A existência de Deus explica o ajuste fino do universo para sustentar vida inteligente
Durante os últimos 40 anos os cientistas descobriram que a existência de vida inteligente depende de um equilíbrio complexo e delicado de condições iniciais que surgiram com o Big Bang. Inicialmente os cientistas acreditavam que, independente de quais fossem as condições iniciais, mais cedo ou mais tarde a vida inteligente teria evoluído por si mesma. Hoje, porém, sabemos que a existência de vida inteligente depende de um conjunto inicial de condições ajustadas a uma proporção incompreensível e incalculável.
Este ajuste fino do universo aparece sob duas formas. Primeiro, ao expressarmos as leis da natureza na forma de equações matemáticas, observamos certas constantes, como a constante gravitacional. As constantes não são determinadas pelas leis da natureza, pois estas são compatíveis com uma ampla extensão de valores para aquelas. Segundo, além dessas constantes, existem certas quantidades arbitrárias estabelecidas a partir das condições iniciais que deram origem às leis da natureza (por exemplo, a entropia e o equilíbrio entre matéria e antimatéria no universo). Todas estas constantes e quantidades se encaixam num âmbito estreitíssimo de valores capazes de sustentar vida. Caso fossem alteradas apenas um milésimo, o equilíbrio seria destruído e a vida não existiria.
O físico Paul Davies calculou que uma pequena mudança de uma parte em 10100 na força gravitacional ou na força nuclear fraca seria o suficiente para impedir o surgimento da vida no universo. A constante cosmológica que impulsiona a inflação do universo (também responsável pela recém descoberta aceleração de expansão do universo) é fixada de modo inexplicável em torno de uma parte para 10120. Roger Penrose, da Universidade de Oxford, calculou que a possibilidade de a baixa entropia do Big Bang existir por acaso é da ordem de um para 1010(123). Penrose comenta: "Não consigo pensar em nenhuma outra coisa na física cuja precisão se aproxime, ainda que remotamente, de uma cifra como 1 parte para 1010(123)".5 E não se trata simplesmente de cada uma dessas constantes ou quantidades apresentar ajustes exatos; é preciso que suas proporções entre si também sejam ajustadas. Como se vê, são improbabilidades multiplicadas por improbabilidades, gerando números incompreensíveis que desorientam a mente.
Há três possibilidades para explicar a presença desse extraordinário ajuste fino no universo: necessidade física, acaso ou planejamento. A primeira alternativa aposta na descoberta da "teoria sobre tudo" que poderia explicar o universo como um todo. Em linhas gerais, essa teoria propõe que tudo que existe deve acontecer exatamente da forma como observamos, de modo que não há possibilidade de o universo não ser ajustado para permitir vida. A segunda opção, ao contrário, declara que o ajuste do universo ocorreu por acaso: ou seja, é mera coincidência o fato de a vida ter surgido nesse universo (como diriam alguns: "Tivemos muita sorte!"). A terceira alternativa rejeita as anteriores e propõe a existência de uma mente inteligente por trás do planejamento cósmico, isto é, alguém planejou o universo com o objetivo específico de permitir o desenvolvimento de vida inteligente.
Em busca do razoável
A primeira alternativa (declarando que não há qualquer razão física para os valores verificados nas constantes) parece demasiado implausível. Conforme declara Paul Davies:
"Mesmo que as leis da física fossem singulares, disso não procede que o universo físico seja singular em si mesmo [...] às leis da física devemos acrescentar as condições cósmicas iniciais [...] Não há nada nos atuais conceitos de 'leis das condições iniciais' sugerindo, mesmo remotamente, que sua consistência com as leis da física implique singularidade. Pelo contrário [...] parece, portanto, que não há necessidade de o universo ser do jeito que é; poderia ter sido diferente". 6
Por exemplo, o candidato mais promissor à TT (teoria sobre tudo, teoria das supercordas ou teoria-M) não prevê a singularidade de nosso universo. Na verdade, a teoria das supercordas permite algo em torno de 10500 universos diferentes que poderiam ser governados pelas atuais leis da natureza, nada contribuindo para explicar os valores e quantidades indispensáveis ao nosso universo.
Quanto à segunda alternativa propondo que o ajuste fino do universo surgiu por acaso, a probabilidade do surgimento espontâneo de um universo capaz de sustentar vida é tão minúscula que não pode ser considerada do ponto de vista racional. Mesmo que exista um "cenário cósmico" e esse contenha enormes quantidades de universos favoráveis à vida, ainda assim o número desses universos seria incomensuravelmente minúsculo em comparação ao total, a ponto de sua existência ser absurdamente improvável. Mesmo assim, alguns costumam dizer: "Mas poderia ter acontecido!". Quem pensa assim nunca parou para refletir sobre a extraordinária exatidão do ajuste fino necessário à vida. Essa pessoa nunca aplicaria a hipótese do acaso a nenhuma outra área de sua vida (por exemplo, ninguém recorreria ao acaso para explicar, ao acordar pela manhã, o aparecimento de um carro na garagem que estava vazia na noite anterior).
Alguns tentam escapar do problema dizendo que não deveríamos ficar surpresos com o ajuste fino do universo, pois se não tivesse acontecido, não estaríamos aqui para nos surpreender. Ora, é evidente que estamos aqui; portanto, era de se esperar que o universo fosse ajustado para nos receber. Esse raciocínio, todavia, é uma falácia que pode ser facilmente demonstrada por meio de uma analogia. Imagine que você está em viagem no exterior e de repente é preso por um policial que lhe acusa de porte de drogas. Sem qualquer explicação, o oficial o conduz para ser executado diante de 10 atiradores treinados, todos apontando armas para o seu coração. Alguém grita a ordem: "Preparar! Apontar! Fogo!"; você ouve o barulho ensurdecedor dos disparos e momentos depois percebe que continua vivo e sem nenhum arranhão, pois todos os atiradores erraram! Qual seria sua conclusão? Será que pensaria: "Não devo ficar surpreso. Afinal, se não tivessem errado eu não estaria aqui para ficar surpreso. Como ainda estou vivo, era de esperar que todos errassem". Sem dúvida não é isso o que pensaria. Pelo contrário, sua primeira reação seria suspeitar que os atiradores erraram de propósito e tudo não passou de uma armação. Você não ficaria surpreso se pudesse observar que está morto, mas certamente ficaria bastante surpreso se percebesse que está vivo! Da mesma forma, considerando a gigantesca improbabilidade do ajuste fino observado no universo, a atitude mais racional é concluir que não aconteceu por acaso, mas por planejamento.
A fim de resgatar o acaso, entretanto, os proponentes dessa teoria foram forçados a aderir à hipótese da existência de um número infinito de universos aleatórios agrupados dentro de uma espécie de multiverso onde nosso universo estaria inserido. De acordo com essa teoria, em algum lugar nesse multiverso infinito seria possível surgir, por acaso, universos cujas leis da natureza permitissem o desenvolvimento da vida, exatamente como aconteceu conosco. Essa hipótese, contudo, apresenta no mínimo duas falhas gravíssimas.
Em primeiro lugar, não temos nenhuma evidência de um multiverso. Aliás, não há como provar a existência de outros universos. Ademais, convém lembrar a demonstração de Borde, Guth e Vilenkin, provando que qualquer universo em estado de expansão cósmica contínua não pode ter existido desde o passado infinito. Esse teorema também se aplica ao multiverso. Considerando que o passado é finito, apenas um número finito de universos poderia ter surgido até esse momento. Por conseguinte, não há como saber se universos capazes de sustentar vida poderiam emergir desse multiverso.
Em segundo lugar, se nosso universo fosse um membro aleatório de um conjunto infinito de universos, haveria uma probabilidade gigantesca de vivermos em um universo muito diferente do que de fato observamos. Roger Penrose calculou que a probabilidade de nosso sistema solar formar-se por meio de colisões aleatórias de partículas é muito maior que o surgimento espontâneo de um universo capaz de sustentar vida. 7 Portanto, se nosso universo fosse um membro desse multiverso, haveria uma probabilidade enorme de estarmos vivendo em um universo não muito maior que nosso sistema solar. Além disso, a essa altura seria possível observar acontecimentos extraordinários, como cavalos alados surgindo e desaparecendo por meio de colisões aleatórias ou máquinas de movimento perpétuo, uma vez que a ocorrência dessas manifestações seria muito mais provável que todas as constantes e quantidades das leis da natureza surgirem por acaso a partir de um número praticamente infinitesimal de universos capazes de sustentar vida. Universos esdrúxulos como esses seriam mais abundantes nesse multiverso que mundos como o nosso, de modo que já deveríamos tê-los observado. A ausência de tais observações demonstra a invalidade da hipótese do multiverso. É muito provável, portanto, que esse multiverso não exista (pelo menos de acordo com a concepção ateísta).
Portanto, a concepção cristã (o universo foi planejado por um ser inteligente) faz mais sentido que a concepção ateísta (o universo surgiu por acaso). Este segundo argumento pode ser resumido da seguinte forma:
1. O ajuste fino do universo se deve a uma de três alternativas: necessidade física, acaso ou planejamento.
2. Verifica-se que não surgiu por necessidade física ou acaso.
3. Portanto, ocorreu por planejamento.
3. Deus faz sentido para explicar a existência de um padrão moral absoluto
Essa concepção se refere à distinção entre o certo e o errado, independente de lugar, época, cultura e opiniões. Por exemplo, é afirmar que o antisemitismo nazista era moralmente errado, ainda que os idealizadores do holocausto acreditassem que era bom. E continuaria sendo errado, mesmo que os nazistas tivessem ganhado a segunda guerra mundial e conseguissem exterminar ou fazer lavagem cerebral em todas as pessoas que não concordassem com eles. Mas se Deus não existe, então os valores morais absolutos também não existem.
Muitos teístas (e ateístas) concordam nesse ponto. Por exemplo, J. L. Mackie, da Universidade de Oxford, um dos mais influentes ateístas de nosso tempo, admite: "Se [...] existem [...] valores morais absolutos, eles tornam mais provável a existência de Deus do que se não existissem". 8 Porém, a fim de desconsiderar a existência de Deus, Mackie nega que existam valores morais absolutos: "É fácil explicar esse senso moral como sendo produto espontâneo da evolução biológica e social". 9 Michael Ruse, filósofo da ciência, concorda e explica:
"A moralidade é uma adaptação biológica, da mesma forma que mãos, pés e dentes. A ética, considerada como justificação racional de um conjunto de afirmações objetivas sobre algo, é ilusória. Aprecio quando alguém diz 'ame o próximo como a ti mesmo', imaginando com isso referir-se a algo acima e além de si mesmo. Todavia, essa referência não tem fundamento. A moralidade é apenas uma ferramenta de sobrevivência e reprodução [...] E qualquer sentido mais profundo é ilusório". 10
Friedrich Nietzche, proeminente ateísta do século XIX que anunciou a morte de Deus, entendeu que essa morte significava a destruição de todo o sentido e valor da vida. Acredito que Nietzche estava certo.
Entretanto, precisamos responder uma questão fundamental, e essa questão não é: "Devemos acreditar em Deus para termos uma vida moral?", pois não estou afirmando que devemos. Nem tampouco a questão é: "Podemos reconhecer valores morais objetivos sem acreditar em Deus?", pois acredito que podemos.
Antes, a questão fundamental é: "Se Deus não existe, como afirmar a existência de valores morais absolutos?" Se Deus não existe, conforme afirmam Mackie e Ruse, então não vejo razão para considerar a objetividade da moral humana. Afinal de contas, se Deus não existe, o que torna os seres humanos tão especiais? Nesse caso, seríamos apenas resultado de um acidente da natureza, criaturas imperfeitas evoluindo em uma minúscula partícula de pó perdida em um canto qualquer de um universo hostil e negligente, fadados a perecer em um espaço relativamente curto de tempo. Na cosmovisão ateísta, o estupro, por exemplo, era considerado algo desvantajoso do ponto de vista social, de modo que se tornou tabu durante o curso da evolução. Essa concepção, todavia, nada contribui para demonstrar que o estupro é uma perversidade moral. Excetuando-se as consequências sociais, a cosmovisão ateísta não oferece nenhum apoio para afirmar que o estupro é algo absolutamente errado. Se Deus não existe, então não há referencial de padrões morais absolutos ao qual submeter nossa consciência.
A verdade, porém, é esta: valores morais absolutos existem de fato, algo que todos reconhecemos em nossa consciência. Não há nenhuma razão para negarmos a realidade desses valores absolutos, assim como não há razão para negarmos a realidade objetiva do mundo material. O raciocínio exposto por Ruse apenas prova, na melhor das hipóteses, que evoluímos em nossa percepção subjetiva dos valores morais absolutos. Ora, se os valores morais estão sendo descobertos gradualmente, e não inventados, nossa percepção gradual e falível da esfera moral em nada altera sua realidade objetiva, assim como nossa percepção gradual e falível do universo físico não altera a realidade objetiva da matéria. A maioria das pessoas concorda com a existência de valores morais absolutos e o próprio Ruse confessa: "O homem que acredita que estuprar criancinhas é algo moralmente aceitável está tão errado quanto quem afirma que 2+2=5". 11
Estupro, tortura e abuso de crianças não são apenas comportamentos socialmente inaceitáveis: são abominações morais. Em contrapartida, o amor, a lealdade e o sacrifício são virtudes morais verdadeiramente boas. Portanto, se entendemos que existem valores morais absolutos e que estes não podem existir sem Deus, a conclusão lógica e incontestável é que Deus existe. Esse argumento pode ser resumido da seguinte maneira:
1. Se Deus não existe, então os valores morais absolutos também não existem.
2. Contudo, sabemos que existem valores morais absolutos.
3. Portanto, Deus existe.
4. Deus faz sentido para explicar os fatos históricos sobre a vida, morte e ressurreição de Jesus
Jesus Cristo foi um indivíduo notável. Críticos do Novo Testamento têm chegado a um consenso de que existiu uma pessoa histórica chamada Jesus de Nazaré e que este possuía um senso de autoridade divina singular: falava como se fosse o próprio Deus. Por causa disso, a liderança judaica da época incitou sua crucificação, acusando-o de blasfêmia. Jesus afirmava que o reino de Deus finalmente havia chegado ao mundo em sua pessoa. Como demonstração desse fato, realizou um ministério de milagres e exorcismos. A confirmação definitiva de suas alegações, entretanto, ocorreu em sua ressurreição. Se Jesus de fato ressurgiu dos mortos, trata-se de um milagre sem precedentes e, portanto, clara evidência da existência de Deus.
Muitas pessoas pensam que a ressurreição de Jesus é algo que devemos aceitar ou não somente pela fé. Na verdade, há três fatos históricos estabelecidos e reconhecidos pela maioria dos historiadores do Novo Testamento, fatos que considero as melhores explicações para a ressurreição de Jesus: o túmulo vazio, seus aparecimentos e a origem da crença dos discípulos em sua ressurreição. Verifiquemos rapidamente cada um desses fatos.
Fato 1. O túmulo de Jesus foi encontrado vazio no domingo de manhã por um grupo de mulheres discípulas
De acordo com Jacob Kremer, estudioso australiano que se especializou no estudo da ressurreição: "a maioria dos estudiosos considera firmemente confiável o relato bíblico sobre o túmulo vazio". 12 De acordo com D. H. Van Daalen, é muito difícil refutar o túmulo vazio em termos históricos e aqueles que negam esse fato em geral o fazem com base em conjecturas teológicas ou filosóficas.
Fato 2. Em ocasiões distintas, grupos e indivíduos diferentes viram Jesus vivo após sua morte
De acordo com Gerd Lüdemann, proeminente crítico do Novo Testamento: "Pode-se considerar historicamente confiável as experiências de Pedro e os discípulos após a morte de Jesus, onde este apareceu como o Cristo ressurreto". 13 Estes aparecimentos foram testemunhados não apenas por seus discípulos, mas também por incrédulos e até mesmo inimigos.
Fato 3. Os discípulos que andaram com Jesus passaram repentinamente a acreditar em sua ressurreição, apesar de predisposição em contrário
Após a crucificação e morte de Jesus, os discípulos perderam o ânimo. Isso porque os judeus não concebiam o Messias como alguém que, ao invés de triunfar sobre os inimigos de Israel, teria de sofrer e morrer de forma vergonhosa, como um criminoso. Ademais, a crença judaica sobre a vida após a morte não lhes permitia imaginar que alguém pudesse voltar dos mortos antes da ressurreição geral estipulada somente para o fim dos tempos.
Todavia, os discípulos passaram a acreditar tão firmemente que Deus havia ressuscitado Jesus dentre os mortos que estavam dispostos a morrer por isso. Luke Johnson, estudioso do Novo Testamento na Universidade de Emory, declara: "É necessário uma experiência poderosa, transformadora, para produzir o tipo de movimento que deu origem ao cristianismo primitivo". 14 N. T. Wright, proeminente estudioso britânico, conclui: "É por essa razão que, como historiador, não posso explicar o surgimento do cristianismo primitivo a menos que Jesus tenha ressuscitado, deixando um túmulo vazio atrás de si". 15
Todas as teorias para explicar estes três fatos (p.ex., que os discípulos roubaram o corpo ou que Jesus não morreu de verdade) foram universalmente rejeitadas pela erudição contemporânea. Não há nenhuma explicação naturalista plausível que explique esses acontecimentos. O teísta cristão, portanto, está plenamente justificado em acreditar que Jesus ressuscitou dos mortos e de fato era quem afirmava ser. A partir disso podemos inferir a existência de Deus por meio do seguinte argumento:
1. Há três fatos históricos acerca de Jesus de Nazaré: a descoberta de seu túmulo vazio, seus aparecimentos post mortem e a origem da crença dos discípulos em sua ressurreição.
2. A hipótese "Deus ressuscitou Jesus dos mortos" é a melhor explicação para estes fatos.
3. A hipótese "Deus ressuscitou Jesus dos mortos" implica que o Deus revelado por Jesus de Nazaré existe.
4. Portanto, o Deus revelado por Jesus de Nazaré existe.
5. Podemos conhecer a Deus e nos relacionar com ele, neste exato momento
Esta declaração não é exatamente um argumento para a existência de Deus. Antes, trata-se de um convite para que você mesmo verifique a existência de Deus de forma prática e independente de qualquer argumento. Para isso, basta apenas falar com ele, agora mesmo. Essa era a forma como as pessoas na Bíblia conheciam a Deus. Conforme explica o professor John Hick:
"As pessoas conheciam a Deus por meio de uma interação dinâmica da vontade divina com as suas, uma realidade absoluta e incontestável, tal qual a chuva e a luz do sol [...] Não pensavam em Deus como uma entidade a ser inferida, mas como uma realidade a ser experimentada. Para eles, Deus não era [...] uma ideia concebida pela mente, mas uma experiência real que conferia significado à vida". 16
Os filósofos chamam esse relacionamento com Deus de "crença básica adequada", isto é, crenças que não são baseadas em outras crenças; antes, estão fundamentadas em um sistema de crenças pessoais. Por exemplo, a crença na realidade do passado, a existência de um mundo material exterior ao indivíduo e a crença na presença de mentes iguais a nossa. Se refletir sobre essas crenças, perceberá que nenhuma delas pode ser provada cientificamente. Tente imaginar de que forma você poderia provar que o mundo não surgiu apenas 5 minutos atrás, um universo inteiro criado instantaneamente com a aparência de existir a milhares de anos, incluindo até mesmo comida em nosso estômago de uma refeição que nunca consumimos, além de memórias em nosso cérebro de acontecimentos que nunca experimentamos? Ou ainda, como você poderia provar que não é um cérebro preso dentro de um supercomputador que simula todos os seus sentidos e percepções?
Embora sejam chamadas de crenças básicas, não significa que sejam arbitrárias. Pelo contrário, são crenças fundamentais no sentido de que surgem dentro de um contexto de certas experiências. Por exemplo, minhas experiências sensoriais em termos de visão, audição e tato me possibilitam construir, de modo natural, a crença na existência de objetos físicos. Não se trata, portanto, de uma crença arbitrária. Antes, está fundamentada em minhas experiências. Talvez não seja possível provar determinada crença, mas nem por isso deixa de ser perfeitamente racional para o indivíduo que nela crê. Em outras palavras, seria preciso que o mundo enlouquecesse para imaginar que o universo foi criado apenas 5 minutos atrás, ou que somos apenas cérebros presos a circuitos eletrônicos.
Portanto, crenças baseadas em experiências de vida não são apenas básicas, mas adequadas. A fé em Deus se enquadra nessa categoria, pois se trata de uma crença fundamentada em experiências pessoais com o Criador. Esse argumento pode ser resumido da seguinte forma:
1. Toda fé adequada e fundamentada pode ser aceita racionalmente como crença básica, independente de argumentos.
2. A crença de que o Deus da Bíblia existe é adequada e fundamentada.
3. Portanto, a crença de que o Deus da Bíblia existe pode ser aceita racionalmente como crença básica, independente de argumentação.
Caso todo o exposto acima esteja correto, existe o perigo de os argumentos a favor da existência de Deus distraírem a atenção das pessoas com relação ao próprio Deus. Se você busca a Deus com sinceridade, ele se mostrará evidente para você. A Bíblia afirma: "Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros" (Tiago 4.8). Não devemos focalizar toda nossa atenção nas provas a ponto de não ouvirmos a voz de Deus falando conosco. Para quem estiver disposto a ouvir, Deus se tornará uma realidade viva e imediata.
Concluindo, estudamos cinco razões para acreditar na existência de Deus.
1. A origem do universo.
2. O ajuste fino do universo a fim de sustentar vida inteligente.
3. A existência de padrões morais absolutos.
4. A vida, morte e ressurreição de Jesus.
5. A possibilidade de conhecer a Deus neste exato momento.
Esses argumentos fazem parte de um conjunto de evidências a favor da existência de Deus. Alvin Plantinga, proeminente filósofo contemporâneo, apresentou mais de vinte argumentos a favor da existência de Deus. 17 Considerados em conjunto, esses argumentos formam um corpo de evidências cumulativas bastante convincente. O teísmo cristão, portanto, é uma cosmovisão plausível e deve ser analisado com cuidado por todo ser humano racional.

 Notas
1 David Hilbert, "On the Infinite", Philosophy of Mathematics, ed. com introdução de Paul Benacerraf e Hillary Putnam, Englewood Cliffs, N.J.: Prentice-Hall, 1964, pp. 139, 141.
2 ABC Science Online, "The Big Questions: In the Beginning". Entrevista com Paul Davies, por Philip Adams, http://aca.mq.edu.au/pdavies.html.
3 Alex Vilenkin, Many Worlds in One: The Search for Other Universes, New York: Hill e Wang, 2006, p. 176.
4 Anthony Kenny, The Five Ways: St. Thomas Aquinas' Proofs of God's Existence, New York: Schocken Books, 1969, p. 66.
5 Roger Penrose, "Time-Asymmetry and Quantum Gravity", Quantum Gravity 2, ed. C. J. Isham, R. Penrose, e D. W. Sciama, Oxford: Clarendon Press, 1981, p. 249.
6 Paul Davies, The Mind of God, New York: Simon & Schuster, 1992, p. 169.
7 Ver Roger Penrose, The Road to Reality, New York: Alfred A. Knopf, 2005, pp. 762-5.
8 J. L. Mackie, The Miracle of Theism, Oxford: Clarendon Press, 1982, pp. 115-16.
9 Idem, pp. 117-18.
10 Michael Ruse, "Evolutionary Theory and Christian Ethics", The Darwinian Paradigm, London: Routledge, 1989, pp. 262-269.
11 Michael Ruse, Darwinism Defended, London: Addison-Wesley, 1982, p. 275.
12 Jacob Kremer, Die Osterevangelien--Geschichten um Geschichte, Stuttgart: Katholisches Bibelwerk, 1977, pp. 49-50.
13 Gerd Lüdemann, What Really Happened to Jesus?, trad. por John Bowden, Louisville, Kent.: Westminster John Knox Press, 1995, p. 8.
14 Luke Timothy Johnson, The Real Jesus, San Francisco: Harper San Francisco, 1996, p. 136.
15 N. T. Wright, "The New Unimproved Jesus", Christianity Today, 13 de setembro de 1993, p. 26.
16 John Hick, "Introduction", The Existence of God, ed. com introdução de John Hick, Problems of Philosophy Series, New York: Macmillan Publishing Co., 1964, pp. 13-14.
17 Alvin Plantinga, "Two Dozen (or so) Theistic Arguments". Preleção apresentada na 33ª Conferência Anual de Filosofia, Wheaton College, Wheaton, Illinois, 23-25 de outubro de 1986. Disponível online em http://philofreligion.homestead.com/files/Theisticarguments.html


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