sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Revelação e conhecimento...

   

   Não sou teólogo, mas amo a boa teologia. Aprendi que teologia não é "estudo" de Deus (como se pudéssemos manuseá-lo, feito objeto de interesse científico), mas um discurso a seu respeito: discurso humano, apaixonado, movido por fé, baseado na revelação de Cristo e limitado. Absolutamente limitado. "Devemos falar de Deus; mas somos humanos e, por isso, não podemos falar de Deus. Devemos entender ambos: nosso dever e nosso não poder, e assim dar toda a glória a Deus" (Karl Barth). Aprendi que na boa teologia os princípios, não as formas, são fundamentais. A revelação e o conhecimento de Deus não consistem de um conjunto arbitrário, rígido e desumano de leis, regras, cerimônias e sacrifícios, impossíveis de serem cumpridos, mas no grande convite a intimidade de Deus, pois deseja relacionar-se conosco.

   Aprendi que o AMOR não é apenas um atributo de Deus (como justiça, bondade, onipotência, entre outros), mas sua essência. Deus é amor (1 Jo 4:8 e 16). "Não somente a fonte de todo verdadeiro amor; mas amor em Seu Ser mais profundo" (John Stott). Essa manifestação concreta do Deus-Amor em nossa humanidade recebe o nome de GRAÇA (favor imerecido): "Deus prova o seu amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores" (Rm 5.8). E graça deve ser recebida com gratidão, alegria, pois conduz à participação na intimidade. Remove a culpa e aniquila o desejo de autoflagelação, transformando pecadores assustados - a exemplo de Pedro, na pesca maravilhosa - em verdadeiros agentes do Reino de Deus (pescadores de homens).

   Aprendi que PECADO não é um problema simplesmente ético (como as preocupações relativas à clonagem, pesquisas com célula-tronco, crimes de internet, nepotismo, etc.) mas um problema relacional. Faz separação entre nós e o nosso Deus (Is 59.2). Sua fonte é o orgulho. Todo pecado é orgulho (Reinhold Niebuhr). Como orou Davi: "da soberba livra o teu servo, para que não se assenhoreie de mim; então serei limpo e ficarei livre de grande transgressão" (Sl 19.13). A prática do pecado é rebeldia e não pode ser vencida naturalmente. É vencida na sede de intimidade, santidade e perseverança, o que fortalece na luta contra a tentação. Faz com que, como José, resistamos aos desejos da carne e paguemos o preço da calúnia, da difamação e da perseguição. É o temor ao Senhor.

   Aprendi que ADORAÇÃO não é apenas questão de liturgia (cultos públicos, cerimônias, etc.), mas de contemplação: "tributai ao Senhor a glória devida ao seu nome; adorai-O na beleza da Sua santidade" (Sl 29.2). Uma das principais características da contemplação é o silêncio. Interrompemos a agitação e a preocupação próprias da vida contemporânea para dedicarmos o ser inteiro a Deus. Note: "o SENHOR, porém, está no seu santo templo; cale-se diante dEle toda a terra"(Hc 2.20). Ainda: "Cale-se toda carne diante do SENHOR, porque ele se levantou da Sua santa morada" (Zc 2.13). Na participação da intimidade somos convocados à luta contra uma religião pragmática-esotérica, focada em resultados e baseada em receitas "mágicas", que não podem, em hipótese alguma, preencher o vazio do coração.

   Aprendi que FÉ é muito mais que convicção (na existência de deus, na Bíblia, no Jesus histórico). Fé é Decisão. O justo não somente acredita, mas vive por sua fé (Hb 2.4). "A fé é a selva que cria a árvore da vida, com todos os seus ramos, grandes e pequenos. Como é a seiva, assim é a árvore. Como é a fé - real, e não simplesmente fé pública - assim é a vida "Emil brunner). E fé como decisão é caminhada diária, corajosa. Não deve ser reivindicada para projetos egoístas ou apelos de orgulho. E ousadia e ação transformadora: "Se tiverdes fé como um grão de mostarda podereis dizer ao monte: passa daqui para lá! e ele obedecerá"(Mt 17.20). Deve fazer-nos aptos para o serviço de Deus e do próximo, na certeza de que o impossível não é o limite.

   Enfim, aprendi que JESUS CRISTO não é apenas o salvador da humanidade (como afirma todo o Novo Testamento em cerca de vinte ocasiões diferentes), mas o próprio SENHOR da criação: "se com a tua boca confessares Jesus como Senhor, e em teu coração credes que Deus ressuscitou dos mortos, será salvo"(Rm 10.9). Jesus é de nominado "Senhor", só nas epístolas paulinas, mais de setenta vezes. Faz toda diferença. A participação na intimidade de Deus evidencia-nos seu caráter e senhorio, ajudando-nos a superar a arrogância de uma vida independente e auto-suficiente. Faz-nos lembrar que a verdadeira honra e o verdadeiro poder encontram-se disponíveis ao coração quebrantado e contrito. É convite ao serviço, com disposição e alegria, pois é no serviço que nos identificamos com aquele que é Senhor de todos nós.


   Pr Marcelo Gomes
   I Igreja Presbiteriana Independente de Maringá


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