quarta-feira, 20 de junho de 2012

"Contra toda forma de ateísmo"






Batalhas intermináveis já foram travadas entre estas e aquele. De um lado, os postulantes da inexistência de Deus; de outro, os apologetas, esforçando-se para provar a verdade de sua fé através de argumentos e elaborações racionais. Tudo para rechaçar o ateísmo teórico.
Hoje em dia, esse tipo de ateísmo perdeu força. São poucos os que afirmam que Deus não existe (embora a pergunta sobre quem e como é Deus permaneça gerando acalorada e igualmente interminável discussão; mas este é outro assunto). Contudo, muitas pessoas continuam vivendo como se Ele não existisse. Está lançado o desafio do ateísmo prático.
Contra essa forma de ateísmo o salmista se posiciona no salmo 53. Seu texto sugere que o insensato continua a dizer que não há Deus, mas o faz em seu coração. Sua crítica é direcionada aos que, conquanto não chegam a declarar que Deus não existe, e talvez até afirmem o contrário, vivem para si mesmos, negando com atitudes e descaso a existência de Deus. Sua conduta e comportamento, denunciados pelo salmista, evidenciam seu ateísmo prático, comum também em nossos dias.
Em primeiro lugar, o ateísmo prático se manifesta quando permitimos que o pecado domine nossas vidas (corrompem-se e praticam a iniquidade, já não há quem faça o bem). Afirmar a existência de Deus e viver voluntariamente sob o domínio do pecado é negar tal afirmação.
Em segundo lugar, o ateísmo prático se manifesta quando nos mantemos indiferentes aos apelos de Deus (olha Deus para os filhos dos homens, para ver se há quem... busque a Deus). Afirmar a existência de Deus e fechar o coração para o relacionamento com Aquele que procura, desde os céus, alguém que o busque é pior do que negar sua existência.
Em terceiro lugar, o ateísmo prático se manifesta quando desprezamos nosso próximo, imagem e semelhança de Deus (esses que devoram o meu povo como quem come pão). Afirmar a existência de Deus e negar a integ- ridade e a dignidade das pessoas que vivem ao nosso redor, negando-lhes amor, é negar não só a existência de Deus, mas também nosso compare- cimento diante Dele.
Finalmente, o ateísmo prático se manifesta quando o medo toma o lu- gar da confiança (tomam-se de grande pavor onde não há o que temer). Afirmar a existência de Deus e viver sob o medo diante das ameaças e das circunstâncias é negar-lhe a existência e o poder de nos proporcionar segu- rança e proteção em toda e qualquer dificuldade.
É imperativo que enfrentemos em nossos próprios corações o risco do ateísmo prático. Devemos viver em obediência a Deus e à Sua palavra. Bus- car a Deus e adorá-lo na beleza de Sua santidade. Respeitar e amar o nosso próximo. Confiar em Deus, na certeza de Seu poder e de Sua misericórdia sobre nossas vidas.

Pastor Marcelo Gomes - 17/06/2012

Fonte: www.ipimaringa.org.br/boletim


segunda-feira, 18 de junho de 2012

Pastor Marcelo Gomes | HOMOFOBIA, NÃO! HOMODIAFONIA.

Pastor Marcelo Gomes | HOMOFOBIA, NÃO! HOMODIAFONIA.


Por favor, não assuste. Sei que a palavra é estranha. Na verdade, trata-se de um neologismo. Eu mesmo o criei (ao menos, sua digitação nos sítios de busca não acusa qualquer resultado). Estava incomodado com o monopólio da outra. Do jeito que vai o debate, parece que o mundo divide-se entre homossexuais e simpatizantes, de um lado, e homofóbicos, de outro. Não concordo.
Homofobia, do grego “homo” (igual) e “fobia” (medo), significa, literalmente, “aversão, medo ou ódio em relação ao homossexual”. Dito assim, não me considero homofóbico. Não tenho medo, apenas discordo da opção e de sua pretensa legitimidade. Foi como cheguei a Homodiafonia, do grego “homo” (igual) e “diafonia” (dois sons distintos, dissonância, discordância). Significa, literalmente, discordância da opção homossexual. Meu caso. Explico:
1. Como cristão, que reconhece as Sagradas Escrituras como regra única de fé e prática, entendo que devo concordar com o apóstolo Paulo quando sugere que o homossexualismo é pecado e consequência do distanciamento do ser humano em relação a Deus: “por causa disso, Deus os entregou a paixões vergonhosas. Até suas mulheres trocaram as relações sexuais naturais por outras, contrárias à natureza. Os homens também abandonaram as relações naturais com as mulheres e se inflamaram de paixão uns pelos outros. Começaram a cometer atos indecentes, homens com homens, e receberam em si mesmos o castigo merecido pela sua perversão” (Romanos 1:26-27).
2. Como cristão, criacionista, isto é, que reconhece na origem do universo a decisão criativa e intencional de Deus, entendo que homens e mulheres foram feitos para um propósito supremo que envolve suas histórias, raças e gênero. Não posso aceitar que um homem, cuja constituição física não lhe faculta o pleno relacionamento com outro homem, ou que uma mulher, para quem ocorre o mesmo, defendam sua opção homossexual como natural. É uma escolha antinatural, que não resulta dos apelos do organismo (o qual não a acompanha) nem de qualquer confissão de fé que apresente um Deus pessoal e soberano (pois pressupõe o acaso ou um tipo de equívoco inicial).
3. Contudo, como cristão, que reconhece a fé como dádiva e a conversão como obra do Espírito, entendo também que as verdades bíblicas e suas implicações práticas não são impositivas, mas um convite à vida em abundância que Deus mesmo concede por sua graça. “Se alguém quiser vir após mim…” – disse Jesus. A igreja não deve se esforçar para obrigar o mundo a viver de acordo com suas convicções (equívoco da cristandade medieval que só produziu guerras e ódio), mas conquistá-lo com amor e testemunho vivo, para que todos vejam como vale a pena andar com Cristo e obedecer aos seus mandamentos. “Não é por força nem por violência…”
4. Como cristão, ainda, que reconhece o direito à vida e à liberdade, desde que não interfira na liberdade alheia, anulando-a, entendo que preconceito, discriminação …ou perseguição refletem um espírito antibíblico e demoníaco, gerador de contendas e conflitos. Não concordo que a Igreja deva tentar negar aos homossexuais o direito à cidadania e aos acessos comuns a todos, mas também não admito que sua pregação e estilo de vida sejam violentados em nome de uma pseudo-tolerância, uma vez que mostra-se tolerante unicamente com um dos lados interessados. Quero viver numa sociedade onde homossexuais tenham direito de viver como bem entendem e que a Igreja tenha direito de pregar contra todos que vivem como bem entendem, desprezando, assim, a vontade de Deus.
5. Como cristão, que reconhece o poder de Deus para transformar o indivíduo e a coletividade, entendo que tenho o direito de incentivar e apoiar todo homossexual que, rendendo-se aos desafios do Evangelho, assuma que é possível e necessário renunciar a si mesmo e à prática do homossexualismo. Não direi que é doença, nem demônio, nem safadeza (pois, na esmagadora maioria dos casos, não é nada disso), mas que é uma opção contrária àquela que nos propõem as Escrituras, assim como a poligamia, a pornografia, a prostituição, o sexo antes do casamento e tantas outras questões não morais (socialmente, falando), mas espirituais, isto é, que reconhecemos e assumimos como artigos de fé. Um homossexual convertido pode tanto desenvolver uma dinâmica relacional heterossexual quanto tornar-se celibatário por amor a Deus. Tudo é possível ao que crê!
6. Como cristão, que confessa que Deus é amor, sou radicalmente contrário a toda forma de violência contra homossexuais ou quaisquer outros grupos minoritários, incompreendidos ou, simplesmente, diferentes.
7. Enfim, como cristão, que aprendeu com Jesus que piores que aqueles que a religião identifica como impuros e perdidos são aqueles que, religiosos, perderam a capacidade de ouvir a Deus e amar o próximo, digo que nenhum homofóbico, ou racista, ou idólatra, ou avarento, ou arrogante… pode ser um cidadão legítimo do Reino de Deus. Vamos cuidar das traves em nossos olhos antes de apontarmos os ciscos nos olhos alheios.
Por tudo isso, considero-me homodiáfono. Respeito os homossexuais em sua individualidade e sei que há muitos cuja postura e caráter envergonhariam muitos religiosos. No entanto, devo discordar de sua opção e convidá-los ao arrependimento e à autonegação a que tento me submeter diariamente, ainda que nem sempre com sucesso. Deus nos ajudará, ainda que nos faltem a força, os recursos e até as palavras


sexta-feira, 15 de junho de 2012




02/06/2012



Leia trecho da entrevista que o pastor Silas Malafaia concede a Pedro Dias Leite, nas “Páginas Amarelas” da VEJA desta semana. A íntegra está na edição impressa da revista.
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Com trinta anos de programas de televisão e vice-presidente do Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos do Brasil (Cimeb), entidade que congrega cerca de 8 500 pastores de quase todas as denominações evangélicas, o pastor Silas Mala-faia, 53 anos, é um dos mais respeitados televangelistas brasileiros. Sua pregação condena o aborto, o uso de drogas e o que enxerga como aumento dos privilégios dos homossexuais. Malafaia ensina que Deus ajuda as pessoas a progredir, mas desde que elas façam sua parte: “Quem ganha 1.000 reais não pode querer gastar 1.100. Não adianta depois esperar que Deus tire o nome do sujeito do cadastro de maus pagadores”.
(…)


A que o senhor atribui o crescimento do número de evangélicos no Brasil?

O Evangelho não é algo litúrgico, para ser dissecado em um culto de duas horas. A grandeza do Evangelho está no fato de ser algo que pode ser praticado. A Bíblia é o melhor manual de comportamento humano do mundo. As igrejas evangélicas têm pregado uma mensagem de grande utilidade para a vida das pessoas também depois do culto. Esse é o grande segredo. De que adianta eu fazer o meu fiel ficar duas horas dentro de um templo se, quando aquilo acaba, nada muda nas relações dele com a família, com o trabalho e na vida social? Nós pregamos uma mensagem que condiciona a prática da pessoa no seu dia a dia. Jesus disse: “Eu vim para que tenham vida, e vida em abundância”. Ele fala da vida terrena nessa passagem.
(…)


A ênfase dos pastores em arrecadar dinheiro dos fiéis não é muito suspeita?

Existe um preconceito miserável em relação aos evangélicos, que costumam ser descritos como bandos de idiotas, tapados, semianalfabetos, manipulados por espertalhões dedicados a arrancar tudo o que querem deles. Engana-se quem os enxerga assim. Manipulação e exploração existem em todo lugar. Tem muito bandido por aí. Mas esses malandros não conseguem segurar o povo. A distância que me separa de um Edir Macedo, por exemplo, vai do Brasil à China, mas é um erro achar que todo mundo que dá dinheiro à igreja dele, a Universal, é imbecil ou idiota. Claro que não é. A pessoa doa porque se sente abençoada, porque se libertou da bebida, vício que consumia todas as economias dela e que a deixava sem condições até de pagar a conta de luz. Ninguém é obrigado a ofertar. Mas, se quer ser membro, se quer pertencer ao grupo, tem de ajudar. Estou construindo uma igreja linda, com ar-condicionado central, ao custo de 4 milhões de reais. Ela será paga com ofertas dos fiéis, pois, obviamente, não vai descer um anjo do céu e dizer “Malafaia, está aqui um cheque de Jeová, preencha e deposite”. Quem critica os pastores deveria mesmo é agradecer às igrejas evangélicas. Desafio qualquer um a me apresentar uma entidade que recupere mais pessoas do que as igrejas evangélicas.
(…)


Tem muita gente pragmática que já chega à igreja acreditando que vai aprender como subir na vida?

Tem, mas, se o objetivo fosse apenas subir na vida, não teria rico na igreja. Na minha tem gente pobre, mas também tem desembargadores, membros do Ministério Público, doutores, empresários. Mas dinheiro não é tudo. Se fosse, rico não daria tiro na cabeça, não tomaria remédio de tarja preta. Mesmo que muita gente pense que não deu certo na vida porque Deus não quis, a lógica de buscar amparo em uma igreja não é essa. A pessoa que transfere suas incompetências para Deus está equivocada. Quando um fiel me procura e pede “pastor, ore por mim porque o diabo está roubando as minhas finanças”, eu mando parar com conversa fiada. Se uma pessoa sempre gasta mais do que ganha, a culpa é dela mesma. Não pensem que Deus vai ficar cuidando das pessoas como se elas fossem bebês.
(…)


A sua atuação contra o projeto que criminaliza a homofobia em debate no Congresso foi contundente. Mas influir em leis é papel de um religioso?

Se não fosse assim, a casa tinha caído. Essa lei é a lei do privilégio. O Brasil não é homofóbico. Eu separo muito bem os homossexuais dos ativistas gays. Esses últimos querem que o Brasil seja homofóbico para mamar verba de governo, de estatais, é o joguinho deles. Homofobia é uma doença. Ódio aos homossexuais, querer matá-los ou agredi-los é uma doença. Agora, opinião não é homofobia.  (…). A lei que estão propondo é uma lei da mordaça. Se não aprendermos a respeitar a liberdade de expressão, será melhor mandar fechar a conta para balanço.
(…)


Qual a sua posição sobre o projeto que propõe a descriminação do uso de drogas e que deve chegar ao Congresso ainda neste mês?

Espero que o Senado e a Câmara joguem no lixo essa porcaria. Perderam o juízo. Não existe lógica em liberar o consumo de drogas e penalizar o traficante. Então eu estou desconfiado de que vai vir um marciano vender drogas aqui, um intergaláctico. Olhe a hipocrisia!
(…)




quarta-feira, 13 de junho de 2012

Você o conhece?


Meu Rei é...


A bíblia diz que o meu rei é um rei de sete facetas. É o rei dos judeus; portanto, um rei racial. É o rei de Israel; ou seja, um rei nacional. É o rei da justiça. O rei das eras. O rei do céu. O rei da glória. O rei dos reis. Além de ser um rei de sete aspectos, ele é o Senhor dos senhores. Esse é o meu rei. Quero agora perguntar, você o conhece?
[...]



Davi disse: “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos” (Sl 19.1). O meu rei é um rei soberano. Medida alguma pode definir seu amor ilimitado. Nem o mais poderoso telescópio construído pelo homem pode tornar visíveis as fronteiras infinitas de seu poder. Nenhuma barreira pode impedi-lo de derramar suas bênçãos.

Ele e sempre forte. Inteiramente sincero. Eternamente fiel. Imortalmente gracioso. Infinitamente poderoso. Imparcialmente misericordioso. Você o conhece?
[...]

Ele é o maior fenômeno que já cruzou o horizonte deste mundo. É o filho de Deus. O salvador dos pecadores. O eixo da civilização. Ele permanece na solicitude de Si mesmo. É autêntico e é único. Não tem paralelos nem precedentes.

É a ideia mais elevada na literatura. É a maior personalidade na filosofia. É o problema supremo na alta-crítica. É a doutrina fundamental da verdadeira teologia. É o milagre das eras. Sim, Ele é. É o superlativo de tudo que é bom que você escolha chamá-lo. É o único qualificado para ser nossa toda-suficiência. Pergunto a mim mesmo se você o conhece hoje.

Ele dá força aos fracos. Está a disposição dos que são tentados e provados. Tem compaixão e salva. Fortalece e sustenta. Guarda e guia. Cura os doentes. Purifica o leproso. Perdoa o pecador. Quita os devedores. Livra os cativos. Defende os fracos. Abençoa os jovens. Serve aos desventurados. Cuida dos idosos. Recompensa os diligentes. E confere beleza aos mansos. Será que você o conhece?

Este é o meu rei. Ele é a chave do conhecimento. A fonte da sabedoria. A porta do livramento. O caminho da paz. A estrada da justiça. A vereda da santidade. A porta da glória. Você o conhece?

Seu cargo é multiforme. Sua promessa é certa. Sua vida é incomparável. Sua bondade é ilimitada. Sua misericórdia eterna. Seu amor nunca muda. Sua palavra é suficiente. Sua graça basta. Seu reino é de justiça. “Seu jugo é suave e seu fardo é leve” (Mt 11.30). gostaria de poder descrevê-lo para você.
[...]

Ele é indescritível. É incompreensível. É invencível. É irresistível. Você não consegue tirá-lo da mente. Não pode tirá-lo da mão. Não pode sobreviver a Ele e não pode viver sem Ele. Os fariseus não O suportavam, mas descobriram que não podiam detê-lo. Pilatos não conseguiu encontrar qualquer falta nele. Herodes não pôde matá-lo. A morte não O deteve e o sepulcro não conseguiu segurá-lo. Esse é o meu rei!



E teu é o reino e o poder e a glória para sempre, sempre e sempre! Quanto tempo é isso? Sempre e sempre! Quando você terminar todos os sempres, então amém! Deus Todo-Poderoso! Amém!



Estraído do Livro “O glorioso aparecimento” de Tim Lahaye & Jerry Jenkins. Págs 32, 33 e 34


segunda-feira, 11 de junho de 2012

O inferno é justo


Inferno -- Reflexões





Inferno: conceito

Para responder a esta questão é necessário que identificar o que significam os conceitos de Paraíso e Inferno. Estes não podem ser "locais" no sentido estrito do termo, pois são estados metafísicos, e portanto supra espaço e tempo. Estes estados se referem a uma condição de maior ou menos proximidade em relação a Deus. Na doutrina cristã, Paraíso é um estado consciente de Proximidade e União com Deus. Inferno é um estado consciente de distância e desunião com Ele.


Ora, se Deus é A Realidade, o SER, único que tem real existência, todos os outros existindo apenas na medida em que participem deste SER Absoluto(conceito cristão de Deus), segue-se que o Paraíso é um estado mais pleno de ser. O ente que se une conscientemente a Deus tem maior participação na Realidade Absoluta e é, então, mais pleno e real ele mesmo. O Paraíso nada mais é do que um estado de união com o Absoluto, e, portanto, um estado superior de existência(Daí: ”Vim para que tenham vida, e a tenham em abundância”).


O Inferno é o contrário disto, é um estado inferior de existência na medida em que é o grau da distância de um ente em relação ao SER.


Salvação da alma é um conceito que remete à idéia de união com o Absoluto. A alma está salva quando participa da Natureza Divina em máxima semelhança com Ela, podendo vivenciá-la sem intermediários.


Falta definir mais um conceito antes de entrar no assunto específico do tópico: O que os Patriarcas, que escreveram sobre a Justiça Divina considerando-a um atributo divino, queriam dizer com o termo?


 II: Justiça Divina em relação a Criação
Nos textos da Antiguidade Clássica e dos Patriarcas cristãos, bem como nos dos pensadores hebreus, a Justiça Divina tem, para além dos aspectos morais(que estão englobados na análise que eu vou fazer), os seguintes significados:


1)A Criação é um Cosmos, ou seja, Ordem. O caos indiferenciado e homogêneo é o contrário de criação, pois esta pressupõe uma multiplicidade de entes que interagem uns em relação aos outros em determinada forma organizacional. As metáforas utilizadas pelos antigos para falar a respeito da Criação eram as de um organismo. Um organismo é Uno em sua Totalidade, mas múltiplo devido a sua complexidade. Em um organismo, a ordenação de suas múltiplas partes têm de contribuir para a Unidade Total. Se não contribuírem, a unidade, ou seja, o organismo, entra em crise e morre. Em outras palavras, deixa de existir.


Ora, O Cosmos(a criação entendida em toda a sua totalidade e unidade espaço temporal, e não apenas atual) é também um organismo, cujas partes têm de contribuir para o seu sentido geral. Justiça é justamente a atividade ordenadora das diferentes partes do Cosmos, de modo que este se sustente no tempo e espaço, em vez de voltar ao Caos, ou seja, a fim de evitar que o Cosmos morra, ou que não cumpra seu sentido último, sua finalidade.


A Justiça de Deus é, então, uma atividade pela qual Ele, exercendo uma ordenação absolutamente correta das partes do organismo cósmico, sustenta a existência do mesmo de modo que este possa chegar ao seu fim, cumprir sua finalidade. 


Este é o primeiro significado da Justiça Perfeita Divina: Aquela que impede que o Caos, o retorno a matéria indiferenciada(a matéria prima dos escolásticos), se implante devido a uma má ordenação das partes em relação ao Todo. Se Deus não ordenasse o Universo, o Cosmos não existiria, pois é esta atividade ordenadora, que mantém a diferenciação entre os entes, e a existência, portanto, de cada um deles e do Todo(Criação) do qual fazem parte.


III: A Justiça Divina é também Amor
A Justiça Divina é Perfeita porque sua atividade ordenadora é tal que impede um desequilíbrio entre as partes de modo que se instaure uma doença que leve o organismo cósmico à morte. Em outras palavras, a Justiça Divina mantém cada coisa em seu lugar, a fim de que elas(cada uma delas e a totalidade delas) possuam existência e que o Cosmos como um todo cumpra a finalidade para o qual ele existe.


Este é um ponto que considero muito importante: A Justiça de Deus não está, então, separada de Seu amor(o que é óbvio: todos os atributos de Deus são, na verdade, um só, já que a Essência Divina é absolutamente simples e Una): O exercício de Justiça garante a existência de cada ser.


IV: A Justiça aplicada ao indivíduo
2)O segundo significado de Justiça não é diferente deste primeiro, mas apenas sua aplicação a nível individual. Neste caso, a Justiça é a atividade Divina que mantém cada ente em uma correta relação com o Todo. É a atividade que não permite que um ente introduza, por sua ação, um desequilíbrio tal que afete o Cosmos, comprometendo a sua existência.


No caso de seres com livre arbítrio, a Justiça atua de forma tal que, apesar(e por meio) do exercício da liberdade, seja qual for a escolha singular que daí advenha, esta seja sempre reequilibrada, ou não deixe de estar harmonizada, em relação ao Todo final e seu sentido último. 


Se Deus permitisse que a ação de uma parte comprometesse a existência de outras, Sua Justiça não seria Perfeita, pois sua atividade ordenadora teria sido vencida pelo caos gerado por tão somente uma parte.



Ao mesmo tempo, Ele ordena as conseqüências desta escolha atuando sobre o ser que a realizou de modo que ele ganhe um novo lugar, uma nova posição, no ordenamento geral das coisas. Ou seja, uma nova posição no Cosmos.


Em virtude de suas próprias escolhas, e da atividade ordenadora de Deus (Justiça), cada ser com livre arbítrio decide sua própria posição, seu próprio lugar atual, no Todo da Criação. Assim a Justiça é cumprida tanto a nível individual quanto a nível Cósmico, ou total.Cada ser com livre arbítrio decide sua posição no ordenamento geral do Cosmos. Ao mesmo tempo o Cosmos não tem sua existência comprometida, pois continua ordenado de modo que possa cumprir o fim pelo qual foi criado. Deus é então Justo. Mais ainda: Perfeitamente Justo.


A Justiça de Deus é, então, Amor, ao mesmo tempo que dá ao homem a liberdade para se utilizar deste amor gratuitamente oferecido do modo como quiser.


Vou abordar agora o tema específico do tópico, a questão da Justiça do Inferno:


V: o limitado não pode conhecer o Absoluto
Aplicando o conceito de Justiça, pelo qual um ser com livre arbítrio escolhe sua própria posição no ordenamento geral da criação, vou tentar responder a questão se não há o caso de um homem, por seus próprios méritos, realizar sua salvação – a união consciente com o Absoluto em máxima semelhança com Ele.


Vou então abordar a Justiça do Inferno por meio da avaliação da possível Justiça do seu estado oposto, ou seja, o Paraíso.


Em ouras palavras: um homem, poderia, por meio da obediência à Justiça Divina, e através mesmo dela, alcançar a posição, ou o estado, de união com o Absoluto em máxima semelhança com Ele(Salvação da Alma)?


Sendo Deus Absoluto e Infinito, como um ente pode alcançá-lo e unir-se a Ele sem intermediários de qualquer espécie? Pode o homem alcançar o Absoluto? Ora, o homem é um ser limitado(ou, dizendo teologicamente, pecador).Daí se conclui que se algum homem alcançar, por seus próprios méritos, o Absoluto, este não é realmente Absoluto, pois pode ser alcançado (há diversas formas teológicas de se afirmar isto, enfatizando o aspecto moral: Se um pecador enquanto tal fosse admitido no Paraíso isto violaria a Santidade de Deus - o limitado não pode alcançar o Ilimitado).


O Absoluto, por sua própria Natureza, é Ilimitado. Como um homem poderia romper sozinho as suas limitações de ser criado e cósmico e se unir ao Ilimitado? Se por mais infinita que for a existência de uma alma algo nela faltar para que ela se una ao Infinito e Ilimitado, este algo, em virtude do próprio conceito de Absoluto, será sempre um infinito. Um ser limitado, por mais que acresça e some a si mesmo, jamais alcançará o Ilimitado. Da mesma forma, uma soma de finitos, não pode dar por resultado o Infinito, pois este é ausência de finitude, e não a totalidade dos finitos.


VI: O Inferno é Justo
Nenhum ser humano tem, em si próprio, capacidade de romper a barreira de suas limitações e vivenciar diretamente a Realidade Última (salvação da alma). Os seres humanos não podem, em virtude de suas imperfeições, atingir o estado necessário para alcançarem a natureza íntima do SER, participando dela, e realizando em si a Vida Eterna(dizendo teologicamente, nenhum de nós tem capacidade ou mérito para "ver Deus face a face")


A conclusão é: Não é possível apenas pelo rigoroso cumprimento da Justiça a união com o Absoluto. 


É injusto então que os homens não se salvem? Não, pelo contrario! A não união com o Absoluto advém da rigorosa aplicação da Justiça Divina. Por isto mesmo é justo que ninguém se salve, ou seja, que ninguém se una com o Absoluto.


Ninguém pode ir ao Absoluto pela aplicação da Justiça, ou dizendo em termos teológicos, ninguém pode por méritos próprios vivenciar o Paraíso, e ver Deus face a face.Pela rigorosa aplicação da Justiça Perfeita, estamos todos "condenados" a não participarmos conscientemente de Deus e, portanto, permanecermos em um estado inferior de existência, desprovidos de vida plena. E tudo que não é plenitude de vida é, em alguma medida, morte e impermanência. 


Resta uma última pergunta: Deus nos criou sem condições de vivenciá-lo diretamente?


VII: O Homem é Livre
A resposta cristã é não: A Queda, por meio da qual o homem se afastou de Deus, se deu por livre arbítrio humano. Além disto, pode ser suplantada também pela aplicação desta mesma liberdade. Mas não por meio da Justiça tão somente (entendendo este conceito de maneira analítica), e sim pelo da Graça. Mas isto é outro papo.


Concluindo: O inferno, estado metafísico possível do homem após a morte, é absolutamente justo. Não é um ato de crueldade, muito pelo contrário: é também um ato de amor. 


A Justiça Divina ordena os entes que se recusam a vivenciá-lo de maneira consciente em um estado condizente com esta escolha. 


Mantém a existência dos entes que se recusaram a participar conscientemente do SER, o único subsistente por Si mesmo, e sem o qual nada tem real existência: Logo após o Juízo Final, cada ser deste, mesmo não participando dos "Novos Céus e Nova Terra", continuará a existir já que Deus está presente, por meio de Sua Justiça, tb no Inferno.(ou seja, aqueles que condenam a si mesmos não retornam ao nada).                 


E, sendo eu sim um pouquinho cruel: Deus dá a cada homem a oportunidade de se livrarem da consciência da Presença do próprio Deus, eternamente. E tem gente que ainda diz que Ele é tirano. Muito pelo contrário :)