segunda-feira, 29 de abril de 2013

Por que nós ensinamos aos nossos filhos que Deus existe


   O texto abaixo é interessantíssimo, embora um pouco longo, mas tenha paciência, pois o conteúdo é compensador. Para que não haja dúvida: a primeira parte é uma pergunta dirigida ao Dr. Willian Lane Craig, filósofo e teólogo e, a seguir a resposta. Leiam, realmente vale a pena!

   


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Por que nós ensinamos aos nossos filhos que Deus existe

Caro Dr. Craig,
Obrigado por todo o trabalho que você realiza em nome de Cristo. Eu fiquei chocado com um artigo em posição de destaque no site de notícias CNN.com de uma mãe do Texas intitulado: "Por que estou criando os meus filhos sem Deus." O artigo já foi visto por mais de 500.000 pessoas no site. Eu postei as razões da mãe abaixo e gostaria de saber se você poderia comentar a respeito do conteúdo do artigo (eu sei que isso é atípico, mas o apoio que ela vem recebendo tem sido espantoso):
Quando o meu filho tinha cerca de 3 anos de idade, ele costumava fazer um monte de perguntas sobre o céu. Onde fica? Como as pessoas andam sem corpos? Como vou encontrar você lá? Perguntas típicas de crianças.
Por mais de um ano, eu menti para ele e inventei histórias que eu não acreditava sobre o céu. Como a maioria dos pais, eu amo tanto o meu filho que eu não queria que ele se assustasse. Eu queria que ele se sentisse seguro e amado e cheio de esperança. Mas para conseguir isso, eu teria de ficar inventando coisas, e eu teria de fazer lavagem cerebral nele de modo a fazer com que ele acreditasse em histórias sem sentido, histórias que eu também não acredito.
Um dia ele descobriria isso e não confiaria mais no meu julgamento. Ele saberia que eu construí uma história não verídica – que não é muito diferente de dizer às crianças que o Papai Noel existe – para explicar a lenda inconsistente e ilógica de Deus.
E então eu cheguei à conclusão de que a única coisa correta a se fazer era ser honesta com os meus filhos. Eu não acredito em Deus, e por anos eu tenho estado fora do padrão da minha comunidade. Como blogueira, contudo, eu descobri que há muitos outros pais como eu por aí. Estamos criando a próxima geração de crianças, e há uma onda de jovens agnósticos, ateus, livres pensadores e humanistas ganhando influência e que, esperamos, irão fazer baixar a febre religiosa da nossa nação.
Aqui estão algumas das razões pelas quais eu estou criando meus filhos sem Deus.
Deus é um pai e um modelo ruins.
Se Deus é nosso pai, então ele não é um bom pai. Bons pais não permitem que seus filhos inflijam danos uns aos outros. Pessoas boas não ficam paradas assistindo a atos horríveis cometidos contra inocentes, homens, mulheres e crianças. Elas não toleram violência e abuso. "Ele nos deu o livre-arbítrio," você diz? Nossas crianças têm livre-arbítrio, mas ainda assim intervimos e as orientamos.
Deus não é lógico.
Quantas vezes você já ouviu: "Por que Deus permitiu que isso acontecesse?" E isto: "Não é para nos entender." Traduzindo: Nós não entendemos, por isso não vamos pensar ou lidar com a questão. Tomemos como exemplo a tragédia sem sentido em Newtown. Ao invés de resolver o problema das armas nos EUA, querem passar a responsabilidade para Deus. Ele tinha um motivo. Ele queria mais anjos. Só ele sabe por quê. Nós escrevemos poemas sobre como nós pedimos a Deus que Ele se retirasse de nossas escolas. Agora ele está nos fazendo pagar o preço. Se há um Deus bom, onisciente e todo-poderoso que ama seus filhos, faz sentido que ele permita assassinatos, abuso infantil, guerras, espancamentos brutais, tortura e milhões de atos hediondos a serem cometidos ao longo da história da humanidade? Isso não vai contra tudo o que Cristo nos ensinou no Novo Testamento?
A pergunta que devemos nos fazer é: "Por que nós permitimos que isso aconteça?" Como podemos resolver isso? Nenhuma pessoa imaginária vai nos dar as respostas ou dizer-nos por quê. Somente nós temos a capacidade de ser lógicos e de resolver problemas, e não deveríamos passar essas responsabilidades para "Deus" só porque um tópico é difícil ou desconfortável de se resolver.
Deus não é justo.
Se Deus é justo, então por que ele responde às orações tolas de alguns, enquanto permite que pedidos sérios fiquem sem resposta? Já conheci pessoas que rezaram para consiguir dinheiro para comprar mobiliário novo. (Respondido.) Já conheci pessoas que rezaram para Deus ajudá-los a vencer uma partida de futebol. (Respondido.) Por que as orações dos pais com filhos morrendo de câncer não são respondidas?
Se Deus é justo, então por que alguns bebês nascem com defeitos cardíacos, autismo, membros amputados ou siameses? Claramente, nem todos os homens são criados iguais. Por que um homem de bem é agredido sem sentido na rua enquanto um homem mau fica muito rico tirando vantagem dos outros? Isso não é justo. Um criador de um jogo que permite que a sorte governe a existência humana não criou um jogo justo.
Deus não proteger os inocentes.
Ele não mantém as nossas crianças protegidas. Enquanto sociedade, nós nos manifestamos em favor daqueles que não tem condições de fazer isso por conta própria. Nós protegemos nossos pequeninos, tanto quanto possível. Quando uma criança é sequestrada, trabalhamos juntos para encontrar a criança. Nós não toleramos o abuso e a negligência. Por que Deus não pode, com todos os Seus poderes de onipotência, proteger os inocentes?
Deus não está presente.
Ele não está aqui. Não faz sentido dizer aos nossos filhos que eles devem amar uma pessoa que eles não podem ver, cheirar, tocar ou ouvir. Isso significa que nós ensinamos as crianças a amar uma imagem, uma imagem que vive apenas em suas imaginações. De fato, o que lhes ensinamos é a amar uma idéia que criamos, que é baseada em nossos medos e em nossas esperanças.
Deus não ensina as crianças a serem boas.
A criança deve fazer escolhas morais pelas razões corretas. Ao dizer-lhe que ela deve se comportar bem porque Deus a está observando, isso leva a sua moralidade a se estruturar externamente, ao invés de internamente. É como dizer a uma criança que, se ela não se comportar, o Papai Noel não trará presentes. Ao retirarmos Deus da história, a responsabilidade de fazer a coisa correta é colocada nos ombros dos nossos filhos. Não, eles não irão para o céu ou reinarão sobre os seus próprios planetas quando morrerem, mas eles podem dormir melhor à noite. Eles orgulharão a sua família. Eles se sentirão melhor a respeito de quem eles são. Eles serão pessoas decentes.
Deus ensina narcisismo.
"Deus tem um plano para você." Dizer às crianças que há um cara grande no céu que tem um plano especial para elas torna as crianças narcisistas; faz com que elas pensem que o mundo está à disposição delas e que, não importa o que aconteça, realmente não importa, porque Deus está no controle. Isso dá às crianças uma sensação de falsa segurança e cria egoísmo. "Não importa o que eu faça, Deus me ama e me perdoa. Ele sabe o meu propósito. Eu sou especial". A ironia é que, enquanto nós contamos essa história para os nossos filhos, outras crianças são abusadas e assassinadas, estão famintas e negligenciadas. Isso tudo é parte do plano de Deus, correto?
Quando criamos nossos filhos sem Deus, dizemos-lhes a verdade – não somos mais especiais do que as outras criaturas. Somos apenas uma parte muito, muito pequena de um máquina grande, muito grande; seja essa máquina a natureza ou a sociedade, a nossa influência é minúscula. A aceitação de nossa insignificância nos dá um verdadeiro sentido de humildade.
Eu entendo por que as pessoas precisam de Deus. Eu entendo por que as pessoas precisam de céu. É aterrador pensar que estamos todos sozinhos neste universo, que um dia nós – junto com os filhos que tanto amamos – deixaremos de existir. A idéia de Deus e de vida após a morte dá a muitos de nós estrutura, comunidade e esperança.
Eu não quero que a religião desapareça. Eu somente quero que a religião seja mantida em casa ou na igreja, que é onde ela pertence. É algo pessoal, como uma escova de dentes ou um par de sapatos. Não é algo para ser utilizado ou gasto por estranhos. Eu quero que meus filhos sejam livres para não acreditar e quero que as nossas escolas e o nosso governo tomem decisões com base no que é lógico, justo e correto – não no que eles acreditam que um Deus imaginário quer.
Obrigado, mais uma vez, por todo o seu trabalho duro.
Atenciosamente,
Eric
United States


Jan e eu ensinamos aos nossos filhos que Deus existe; de fato, que o Deus cristão existe. Por quê? Porque nós queríamos ensinar-lhes a verdade. Pela mesma razão, Jan e eu não mentimos para os nossos filhos sobre o Papai Noel. Dissemos-lhes que o Papai Noel (ou Père Noel, uma vez que eles foram criados na Bélgica) era uma figura divertida, de faz de conta, e que poderíamos fazer de conta que ele trazia presentes na época do Natal. Era tudo brincadeira, nada além disso. O Natal dizia respeito, principalmente, ao nascimento de uma pessoa histórica que realmente viveu – Jesus de Nazaré, que nos revelou como Deus é, morreu pelos nossos pecados e ressuscitou dos mortos. Caso eles fizessem alguma pergunta, estávamos preparados para, num estalar de dedos, discutir as razões pelas quais acreditamos nessas coisas. Nenhuma pergunta era desencorajada, o exame crítico era incentivado.
Acreditamos que o cristianismo é verdadeiro. Então, como poderíamos não ensiná-lo aos nossos filhos? Tentar separar as crianças do amor de Deus e da vida eterna seria a pior forma de abuso infantil concebível. O erro fundamental da mãe que escreveu o artigo acima é pensar que, quando "criamos os filhos sem Deus, nós lhes dizemos a verdade." Será que dizemos? Eu acho, pelo contrário, que, ao fazermos isso, nós os desviamos para o que falso. Então, a questão toda pode ser resumida através da seguinte pergunta: o cristianismo é verdadeiro? Bom, que razões essa mãe apresenta para que pensemos que não é? Vejamos brevemente uma de cada vez.
Deus é um pai e um modelo ruins. Essa acusação presume que Deus deva servir de modelo para a paternidade. Mas, enquanto existem analogias entre Deus como nosso Pai celestial e como um pai humano, as diferenças entre esses dois conceitos são tão grandes que minam a suposição de que Deus deva servir como um modelo para os pais humanos. Em primeiro lugar, a analogia deveria ser entre nós e nossos filhos adultos, e, nesse caso, nós deixamos que eles tomem as suas próprias decisões livremente, sem interferência. Mas, mesmo assim, a analogia não é totalmente adequada, pois nós e nossos filhos somos iguais, enquanto Deus é o nosso Criador e Soberano. Um pai humano que se considerasse o fim último da existência de seus filhos seria egomaníaco. Mas o Deus infinito, que é o locus da bondade e do amor, é o fim adequado de todos os seres (até de Si mesmo!), o summum bonum (o bem maior). Eu estou encarregado da educação moral e espiritual dos meus filhos; mas Deus está envolvido na atração de todas as pessoas livremente ao conhecimento salvador de Si. Não é de todo improvável que apenas num mundo repleto de males naturais e morais o número máximo de pessoas venha livremente a conhecê-Lo e a conhecer a Sua salvação. Estou atrelado a certas obrigações morais e proibições em relação aos meus filhos (por exemplo, não feri-los), mas Deus (se é que Ele tem obrigações morais) não está vinculado a muitas delas (por exemplo, Ele pode dar e tirar a vida como quiser). Deus pode pedir-me para suportar sofrimentos terríveis (embora não sem recompensa!), a fim de que outros possam livremente encontrar a vida eterna.
Deus não é lógico. Essa mãe não está, obviamente, ciente de que a versão lógica do problema do mal é atualmente reconhecida como falida até mesmo pelos filósofos ateus e agnósticos. (Veja a discussão sobre o problema do mal nos meu livro Filosofia e Cosmovisão Cristã.) Quando dizemos que não entendemos por que Deus permitiu determinado sofrimento específico, não é porque nós nos recusamos a "pensar ou lidar com esse problema." Pelo contrário, é porque sabemos que não estamos em posição de fazer, com qualquer grau de confiança, avaliação sobre por que Deus permitiu esse incidente específico. Sua razão moralmente suficiente para permitir algum caso específico de sofrimento pode não emergir até centenas de anos a partir de agora, ou talvez em outro país. Cada evento produz um efeito cascata através da história de tal forma que é impossível, para pessoas finitas limitadas no tempo e no espaço, prever quais são as suas conseqüências. Assim, o melhor a fazer é ter a humildade intelectual de dizer que nós não sabemos a razão específica por que Deus permitiu algum caso específico de sofrimento. O que podemos mostrar é que a ocorrência de tal sofrimento não é, como o ateu presunçosamente afirma, incompatível nem improvável em relação à existência de Deus
Obviamente, ninguém está defendendo que devemos abdicar da nossa responsabilidade de mitigar ou de eliminar os males que afligem o nosso mundo. Pelo contrário, os cristãos têm liderado as lutas contra a escravidão, a pobreza, a doença, a ignorância e os males que afligem o nosso mundo. O que os ateus têm feito por nós ultimamente?
Deus não é justo. Isso é apenas choradeira infantil. A vida não é justa. Acostume-se com isso. Deus não tem nenhuma obrigação de ser "justo". (Deus não é o Papai Noel, lembra-se?) Isso não implica que Deus permite que "a sorte governe a existência humana." Não, é a soberana providência de Deus que governa os assuntos dos homens. Deus não promete nem fornece uma circunstância de vida igual para cada ser humano. O que Deus faz é dar graça suficiente para a salvação e a vida eterna a cada pessoa que Ele cria. As desigualdades e deficiências desta vida não são sequer comparáveis à glória que Deus nos conferirá no céu. Ele soberanamente ordena o mundo de modo que os seus planos sejam alcançados, e podemos confiar que Ele fará o que é bom.
Deus não proteger os inocentes. Certo! Nem Ele tem qualquer obrigação de fazê-lo. Ele não protegeu o Seu único filho, Jesus Cristo, que foi o mais inocente dos homens, da terrível morte na cruz. Mas Deus ordena o mundo de forma justa de modo a alcançar seus bons propósitos para a raça humana. A morte inocente de Cristo, em particular, trouxe a redenção da humanidade.
Deus não está presente. Como você sabe? Por que nós não podemos “ver, cheirar, tocar ou ouvir" Deus? Se pudéssemos, ele seria, na verdade, um objeto físico finito, um ídolo, não Deus. A física moderna nos ensina que há todos os tipos de realidades que não são acessíveis aos cinco sentidos (Questão da Semana # 273). Não devemos acreditar nelas? Mas nós temos evidência indireta de sua realidade. E da mesma forma temos evidência semelhante com relação a Deus.
Deus não ensina as crianças a serem boas. Esse não é um argumento contra a existência de Deus, mas apenas uma suposta razão para você não ensinar a seus filhos quem é Deus. Concordo que devemos ensinar as crianças a fazer o que é certo porque é certo. Mas a razão pela qual é certo é por que Deus exige que assim façamos. Em contraste, no ateísmo não há base para a obrigação ou proibição moral. É maravilhoso que essa mãe queira ensinar os seus filhos a fazer o que é certo, mas no naturalismo não há nada objetivamente certo ou errado. Se os seus filhos, eventualmente, enxergarem através da farsa, eles podem se tornar relativistas, a despeito do que lhes foi ensinado por ela. Tudo o que ela pode esperar é que eles lhe "deem orgulho" e"se tornem pessoas decentes", porque, uma vez tendo enxergado através da moralidade infundada que ela lhes ensinou, não há nenhuma razão para que eles continuem a se comportar de tal modo.
Deus ensina narcisismo. Que absurdo! Jesus ensinou-nos a amar nosso próximo como a nós mesmos, e até mesmo a amar os nossos inimigos. Eu desafio qualquer um a produzir um estudo psicológico que mostre que crianças cristãs são narcisistas. Ao contrário, uma série de estudos mostram que pessoas religiosas são psicologicamente mais equilibradas e mais felizes do que pessoas não-religiosas.
Por fim, embora essa mãe afirme não querer que a crença religiosa desapareça da vida privada das pessoas, o impulso de todo o seu artigo é completamente o oposto. Ela já tem a liberdade de ensinar a seus filhos o que ela quiser. Então, o que mais ela está querendo? Ela quer convencer os leitores de seu artigo a não ensinarem os seus filhos a acreditar em Deus. Em outras palavras, ela está tentando eliminar a crença religiosa da esfera privada, não apenas da esfera pública. Ela é, assim, parte do Neo-Ateísmo agressivo.
William Lane Craig
Originalmente publicado como: “Why We Raised Our Kids to Believe in God.” Texto disponível na íntegra em: http://www.reasonablefaith.org/why-we-raised-our-kids-to-believe-in-god. Traduzido por Felipe Miguel.


Read more: http://www.reasonablefaith.org/portuguese/Por-que-nós-ensinamos-aos-nossos-filhos-que-Deus-existe#ixzz2RapRQSVZ

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