quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Se não combinar...


Beleza espiritual


A beleza é uma característica que o ser humano busca e tenta manter. Todos querem apresentar uma boa aparência, ter uma casa bonita, um carro bonito, etc. Um dos requisitos para que algo fique bonito é combinar com outros elementos que o circundam. A mulher quer usar um cinto que combine com a bolsa; um anel que combine com o outro. O homem quer uma camisa que combine com a calça. Se não combinar, não fica bem. 

Também na Bíblia encontramos essa preocupação. Porém, com ênfase em outros elementos. Vejamos alguns exemplos:
 
O louvor combina com aqueles que têm uma vida reta - Salmo 32.11 e 33.1.
 
Não fica bem um ímpio falando a Palavra de Deus - Salmo 50.16.
 
Jóia de ouro em focinho de porca não é bonito, assim como não fica bem a beleza física e a loucura reunidas na mesma pessoa - Provérbios 11.22.
 
Por isso, não se deve dar as coisas santas aos cães, nem as pérolas aos porcos - Mateus 7.6. Da mesma forma, não fica bem o jugo desigual, a comunhão da luz com as trevas ou a mistura do santo com o profano. II Coríntios 6.14-18.
 
A palavra certa combina com o tempo certo, assim como combinam maças de ouro com bandejas de prata - Provérbios 25.11.
 
Paulo disso que as contendas, as brigas, não convém aos servos de Deus, mas que a mansidão é bem adequada para nós. II Timóteo 2.24.
 
Em Provérbios 31.4 está escrito: "Não é próprio dos reis beber vinho, nem dos príncipes desejar bebida forte". Enquanto que as pessoas comuns podiam beber, os reis e os príncipes não deveriam fazê-lo (apesar de sempre fazerem). O hábito de consumir bebida forte não é nobre. Um rei precisa estar sempre sóbrio, lúcido, para exercer bem as suas atividades. Não fica bem encontrar um rei, ou príncipe, bêbado pelas ruas. Não combina.
Da mesma maneira, nós cristãos somos príncipes, filhos do Rei. Somos nobres. Devemos então examinar nossas ações, nosso modo de falar, nosso modo de viver. O que é bom ou normal para os ímpios nem sempre fica bem para nós. Não combina. Está escrito: "Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas me convém.." I Coríntios 6.12.

Não fica bem encontrar um cristão caindo pela vida. Somos nobres. Precisamos estar sempre de pé e, se cairmos, que seja de joelhos diante do nosso Deus.
Que o Senhor nos perdoe pelas vezes em que nos esquecemos de nossa linhagem real e que ele nos ajude a viver de modo digno da vocação com que fomos chamados. Esta é uma questão de beleza espiritual.


Anísio Renato de Andrade
anisiorenato@ig.com.br

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Prioridades...





    Planejando seus dias.

   Frequentemente, as mulheres ficam sobrecarregadas com muitas coisas para serem feitas (veja Lc 10.10), porque há diversas opções de como distribuir seu tempo (Ec 3.1-8). Colocar em ordem as prioridades é determinar o que há de mais importante a fazer e como o tempo deve ser melhor aproveitado, isto é, quem e o que vão ter preferências sobre as outras coisas da vida.

   A bíblia traz orientações sobre prioridades que Deus deseja que tenhamos (Sl 119.105-130):
   _ seu relacionamento pessoal com Jesus Cristo (Mt 6.33; Fp 3.8);
   _ seu comprometimento com seu lar e com a família - especialmente com o marido e os filhos (Gn 2.24; Sl 127.3; Ef 5.22,25; 6.4; 1Tm 3.2-5; 5.8; 1Pe 3.7), mas também com os parentes, como fica tão bem exemplificado no relacionamento entre Rute e Noemi (Rt 1.16-17);
   _ suas responsabilidades profissionais e as tarefas assumidas (veja 1Ts 4.11-12); 2,
   _ seu serviço para Deus através dos ministérios da Igreja e do envolvimento com a comunidade (veja Cl 3.17).

   Uma vez que você tenha esses critérios divinamente colocados em mente, estará pronta a escolher as oportunidades que aparecerem (Sl 32.8) e a seguir em frente de um modo mais efetivo, controlando de forma produtiva seu tempo e seus recursos. Um meio muito prático de alcançar isso é alistar todas as tarefas que estão à sua frente e considerá-las diante de Deus em oração, quanto ao seu mérito e ao seu tempo envolvido (vj Cl 2.5). Depois, organizá-las em ordem de importância e partir para fazer a mais importante delas em primeiro lugar (veja 1Co 14.40).

   Para ficar firme em suas prioridades, considere estas advertências: coloque Deus em primeiro lugar (Mt 6.33); consulte o Pai com regularidade em seu momento devocional (Sl 55.17; Lc 5.15-16); examine seu coração (Ec 3.1); e mantenha sua saúde espiritual (Is 30.15). Jesus encontrava-se com o Pai constantemente em oração e meditação intensas para determinar suas prioridades e para preparar-se para cada dia (veja L 5.15-16).

   Fique atenta também quanto a alguns cuidados: coloque pessoas antes das coisas (vj 2Co 8.5). Não limite seus investimentos em dinheiro e presentes apenas para com aqueles a quem você ama e que cruzam seu caminho. Procure maneiras de investir dedicando-se a si mesma, seu tempo e energia. A família deve ser mais importante que as ocupações, pois a bíblia afirma, com clareza, que não há sucesso se a família se perder (1Tm 3.5; 5.8; Tt 2.4-5). Algumas vezes você deverá dizer "não", porque até mesmo Jesus o fez, quando alguém requisitava seu tempo, e isso não se encaixava em seus planos de ministério (Lc 4.42-43). O princípio que deve determinar nossas prioridades é sempre o de os valores espirituais dvem estar acima dos objetivos desta vida terrena (2Co 4.18).


   Pessoas antes de coisas, pessoas antes de projetos; família antes de amigos; marido ante de pais; dízimo antes de desejos; a Bíblia antes de opiniões; Jesus antes de tudo o mais. - Jo Ann Leavel -


Fonte: bíblia de estudo - editora Mundo Cristão

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Arrependimento.



O Motivo Mais Importante para o Arrependimento


Charles Haddon Spurgeon


"Não há arrependimento salvífico sem a contemplação da cruz".


“Olharão para aquele a quem traspassaram” (Zacarias 12.10).

O quebrantamento santo que faz um homem lamentar o seu pecado surge de uma operação divina. O homem caído não pode renovar seu próprio coração. O diamante pode mudar seu próprio estado para tornar-se maleável, ou o granito amolecer a si mesmo, transformando-se em argila? Somente aquele que estendeu os céus e lançou os fundamentos da terra pode formar e reformar o espírito do homem. O poder de fazer que da rocha de nossa natureza fluam rios de arrependimento não está na própria rocha. O poder jaz no onipotente Espírito de Deus… Quando Deus lida com a mente do homem, por meio de suas operações secretas e misteriosas, Ele a enche com uma nova vida, percepção e emoção. “Deus… me fez desmaiar o coração” (Jó 23.16), disse Jó. E, no melhor sentido, isso é verdade. O Espírito Santo nos torna maleáveis e nos tornamos receptíveis às suas impressões sagradas… Agora, quero abordar o âmago e a essência de nosso assunto.

O enternecimento do coração e o lamento pelo pecado são produzidos por olharmos, pela fé, para o Filho de Deus traspassado. A verdadeira tristeza pelo pecado não acontece sem o Espírito de Deus. Mas o Espírito de Deus não realiza essa tristeza sem levar-nos a olhar para Jesus crucificado. Não há verdadeiro lamento pelo pecado enquanto não vemos a Cristo… Ó alma, quando você chega a contemplar Aquele para quem todos deveriam olhar, Aquele que foi traspassado, então seus olhos começam a lamentar aquilo pelo que todos deveriam chorar – o pecado que imolou o seu Salvador!

Não há arrependimento salvífico sem a contemplação da cruz… O arrependimento cristão é o único arrependimento aceitável. E a essência desse arrependimento é olhar para Aquele que foi moído pelos pecados… Observe isto: quando o Espírito Santo realmente opera, Ele leva a alma a olhar para Cristo. Nunca uma pessoa recebeu o Espírito de Deus para a salvação, sem que tenha recebido dEle o olhar para Cristo e o lamentar por seus pecados.

A fé e o arrependimento são gerados e prosperam juntos. Ninguém deve separar o que Deus uniu! Ninguém pode arrepender-se do pecado sem crer em Jesus, nem crer em Jesus sem arrepender-se do pecado. Olhe, então, com amor para Aquele que derramou seu sangue, na cruz, por você. Por meio desse olhar, você obterá perdão e quebrantamento. Quão admirável é o fato de que todos os nossos males podem ser curados por um único remédio: “Olhai para mim e sede salvos, vós, todos os limites da terra” (Is 45.22). Contudo, ninguém olhará para Cristo sem que o Espírito de Deus o incline a fazer isso. Ele não conduz uma pessoa à salvação, se ela não se rende às suas influências e não volve seu olhar para Jesus…

O olhar que nos abençoa, produzindo quebrantamento de coração, é o olhar para Jesus como Aquele que foi traspassado. Quero me demorar nisso por um momento. Não é somente o olhar para Jesus como Deus que afeta o coração, mas também olhar para este mesmo Senhor e Deus como Aquele que foi crucificado por nós. Vemos o Senhor traspassado, e, em seguida, inicia-se o traspassamento de nosso coração. Quando o Espírito Santo nos revela Jesus, os nossos pecados também começam a ser expostos…

Venham, almas queridas, vamos juntos à cruz, por um pouco, e notemos quem era Aquele que recebeu a lançada do soldado romano. Olhe para o seu lado e observe aquela terrível ferida que atingiu seu coração e desencadeou um duplo fluxo de sangue. O centurião disse: “Verdadeiramente este era Filho de Deus” (Mt 27.54). Aquele que, por natureza, é Deus e governa sobre tudo, sem o Qual “nada do que foi feito se fez” (Jo 1.3), tomou sobre Si mesmo nossa natureza e se tornou homem, como nós, mas não tinha qualquer mácula de pecado. E, vivendo em forma humana, foi obediente até à morte, morte de cruz. Foi Ele quem morreu! Ele, o único que possui a imortalidade, condescendeu em morrer! Ele, que era toda a glória e poder, sim, Ele morreu! Ele, que era toda a ternura e graça, sim, Ele morreu! Infinita bondade esteve pendurada na cruz! Beleza indescritível foi traspassada com uma lança! Essa tragédia excede todas as outras! Por mais perversa que tenha sido a ingratidão do homem em outros casos, a sua mais perversa ingratidão se expressou no caso de Jesus! Por mais horrível que tenha sido o ódio do homem contra a virtude, o seu ódio mais cruel foi manifestado contra Jesus! No caso de Jesus, o inferno superou todas as suas vilezas anteriores, clamando: “Este é o herdeiro; ora, vamos, matemo-lo” (Mt 21.38).

Deus habitou entre nós, e os homens não O aceitaram. Visto que o homem foi capaz de traspassar e matar o seu Deus, ele cometeu um pecado horrível. O homem matou o Senhor Jesus Cristo e O traspassou com uma lança! Nesse ato, o homem mostrou o que fariam com o próprio Eterno, se pudesse chegar até Ele. O homem é, no coração, assassino de Deus. Ele se alegria se Deus não existisse. Ele diz em seu coração: “Não há Deus” (Sl 14.1). Se a sua mão pudesse ir tão longe quanto o seu coração, Deus não existiria nem mesmo por mais uma hora. Isto dá ao traspassamento de nosso Senhor uma forte intensidade de pecado: foi o traspassamento de Deus.

Por quê? Por que razão o bom Deus foi assim perseguido? Oh! pelo amor de nosso Senhor Jesus Cristo, pela glória de sua Pessoa, pela perfeição de seu caráter, eu lhe peço – admire-se e envergonhe-se de que Ele foi traspassado! Não foi uma morte comum. Aquele assassinato não foi um crime comum. Ó homem, Aquele que foi traspassado com a lança era o seu Deus! Na cruz, contemple o seu Criador, o seu Benfeitor, o seu melhor Amigo!

Olhe firmemente para Aquele que foi traspassado e observe o Sofredor que é descrito na palavra “traspassado”. Nosso Senhor sofreu severa e terrivelmente. Não posso, em uma mensagem, descrever a história de seus sofrimentos – as tristezas de sua vida de pobreza e perseguição; as angústias do Getsêmani e do suor de sangue; as tristezas de seu abandono, traição e negação; as tristezas no palácio de Pilatos; os golpes de chicotes, o cuspe e o escárnio; as tristezas da cruz, com sua desonra e agonia… Nosso Senhor foi feito maldição por nós. A penalidade do pecado ou o que lhe era equivalente, Ele a suportou, “carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados” (1 Pe 2.24). “O castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.5).

Irmãos, os sofrimentos de Jesus devem amolecer nosso coração! Nesta manhã, lamento o fato de que não me entristeço como deveria. Acuso a mim mesmo daquele endurecimento de coração que eu condeno, visto que posso contar-lhes essa história sem enternecimento de coração. Os sofrimentos de meu Senhor são indescritíveis. Examinem e verifiquem se já houve tristeza semelhante à de Jesus! A sua tristeza foi abismal e insondável… Se você considerar firmemente a Jesus traspassado por nossos pecados e tudo que isso significa, seu coração se dilatará! Mais cedo ou mais tarde, a cruz desenvolverá todo sentimento que você será capaz de produzir e lhe dará capacidade para mais. Quando o Espírito Santo põe a cruz no coração, o coração se dissolve em ternura… A dureza de coração desaparece quando, com profundo temor, contemplamos a Jesus sendo morto.

Devemos também observar quem foram os que traspassaram a Jesus. “Olharão para aquele a quem traspassaram.” Ambos os verbos se referem às mesmas pessoas. Nós matamos o Salvador, nós que olhamos para Ele e vivemos… No caso do Salvador, o pecado foi a causa de sua morte. O pecado O traspassou. O pecado de quem? Não foi o pecado dEle mesmo, pois Ele não tinha pecado, e nenhum engano se achou em seus lábios. Pilatos disse: “Não vejo neste homem crime algum” (Lc 23.4). Irmãos, o Messias foi morto, mas não por causa dEle mesmo. Nossos pecados mataram o Salvador. Ele sofreu porque não havia outra maneira de vindicar a justiça de Deus e de prover-nos um escape da condenação. A espada, que deveria cair sobre nós, foi despertada contra o Pastor do Senhor, contra o Homem que era o Companheiro de Jeová (Zc 13.7)… Se isso não quebranta nem amolece nosso coração, observemos por que Ele foi levado a uma posição em que poderia ser traspassado por nossos pecados. Foi o amor, poderoso amor, nada mais do que o amor, que O levou até à cruz. Nenhuma outra acusação Lhe pode ser atribuída, exceto esta: Ele era culpado de amor excessivo. Ele se colocou no caminho do traspassamento, porque resolvera salvar-nos… Ouviremos isso, pensaremos nisso, consideraremos isso e permaneceremos apáticos? Somos piores do que os brutos? Tudo que é humano abandonou a nossa humanidade? Se Deus, o Espírito Santo, está agindo agora, uma contemplação de Cristo derreterá o nosso coração de pedra…

Quero dizer-lhes ainda, ó amados: quanto mais olharmos para Jesus crucificado, tanto mais lamentaremos o nosso pecado. A reflexão crescente produzirá sensibilidade crescente. Desejo que olhem muito para Aquele que foi traspassado, para que odeiem cada vez mais o pecado. Livros que expõem a paixão de nosso Senhor e hinos que cantam a sua cruz sempre foram bastante queridos pelos crentes piedosos, por causa de sua influência sobre o coração e a consciência deles. Vivam no Calvário, amados, até que viver e amar se tornem a mesma coisa. Diria também: olhem para Aquele que foi traspassado, até que o coração de vocês seja traspassado.

Um antigo teólogo dizia: “Olhe para a cruz, até que tudo que está na cruz esteja em seu coração”. E acrescentou: “Olhe para Jesus, até que Ele olhe para você”. Olhem com firmeza para o sua Pessoa sofredora, até que Ele pareça estar volvendo sua cabeça e olhando para você, assim como o fez com Pedro, que saiu e chorou amargamente. Olhe para Jesus, até que você veja a si mesmo. Lamente por Ele, até que lamente por seu próprio pecado… Ele sofreu em lugar, em favor e em benefício de homens culpados. Isso é o evangelho. Não importa o que os outros preguem, “nós pregamos a Cristo crucificado” (1 Co 1.23). Sempre levaremos a cruz na vanguarda. A essência do evangelho é Cristo como substituto do pecador. Não evitamos falar sobre a doutrina do Segundo Advento, mas, antes e acima de tudo, pregamos Aquele que foi traspassado. Isso levará ao arrependimento evangélico, quando o Espírito de graça for derramado.

Extraído do sermão matinal de domingo 18 de 
 setembro de 1887, no Tabernáculo Metropolitano de Londres.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Não sereis como hipócritas...


   E, quando orardes, não sereis como os hipócritas; porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos dos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa.

   Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que estás em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.

   E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos.

   Não vos assemelheis, pois, a eles; porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais.

   Portanto, vós orareis assim:

   Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome;

   venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu;

   o pão nosso de cada dia dá-nos hoje;

   e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores;

   e não nos deixe cair em tentação; mas livra-nos do mal (pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém!)

   Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará;

   se, porém, não perdoardes aos homens (as suas ofensas), tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas.


   Mateus 6

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Carta número I


 

 

CARTA Número I

 

Meu Caro Wormwood:

Prestei bastante atenção no que você disse acerca de conduzir as leituras do seu paciente, tomando cuidado para que ele assimile bastante daquele amigo materialista. Mas você não está sendo um pouquinho ingênuo nesta tarefa? Parece-me que você está se convencendo (não sei baseado em quê) que através da argumentação você pode afastá-lo da influência do Inimigo. Isso até seria aceitável, se seu paciente tivesse vivido alguns séculos atrás, pois naquele tempo os humanos ainda sabiam distinguir quando uma coisa havia sido provada ou não. E se tivesse sido, os homens a aceitavam e mudavam sua maneira de agir e de pensar, somente seguindo uma corrente de raciocínio. No entanto, devido à imprensa semanal e a armas semelhantes, alteramos bastante este contexto. Parta do princípio que sua vítima já se acostumou desde criança a ter uma dúzia de filosofias diferentes dançando em sua cabeça. Ele não usa o critério de "VERDADEIRO" ou "FALSO" para conferir cada doutrina que lhe apareça (seja do Inimigo ou nossa). Ao invés disso, ele verifica se a doutrina é "Acadêmica" ou "Prática", "Antiquada" ou "Atual", " Aceitável" ou "Cruel". O jargão e a expressão feita (e não o argumento lógico) são seus melhores aliados para mantê-lo longe da Igreja. Não perca tempo tentando levá-lo a concluir que o Materialismo seja verdadeiro (sabemos que não é). Faça-o pensar que ele é Forte, Violento ou Corajoso - ou ainda, que é a Filosofia do Futuro! Este é o tipo de coisas que lhe despertarão a atenção. Percebo que você tem intenções produtivas, mas há um problema muito grande quando tentamos persuadir o paciente a passar para nosso lado pelo emprego de argumentos e lógica: isto conduz toda a luta para o campo do Inimigo, que para azar nosso também sabe argumentar (e melhor do que nós). Por outro lado, no que diz respeito à propaganda prática (ainda que falsa) que lhe sugeri, Ele tem se mostrado por séculos bem inferior ao Nosso Pai lá de Baixo. Pela pura argumentação, você despertará o raciocínio do paciente; uma vez que a razão dele desperte, quem poderia prever o resultado? Veja que perigo! Mesmo que uma cadeia de raciocínio lógico possa ser torcida de modo a nos favorecer, isso tende a acostumar o paciente ao hábito fatal de questionar as coisas, analisando as mesmas com visão geral, e desviando-se das experiências ditas "concretas", que na verdade são apenas experiências sensíveis e imediatas. Sua maior ocupação deve ser portanto a de prender a atenção da vítima de modo a jamais se libertar da corrente do "Se eu vejo, creio!". Ensine-o chamar esta corrente "Vida Real", e jamais deixe-o perguntar a si próprio o que significa "Real". Lembre-se que ele não é puramente espírito como você. Nunca tendo sido humano (E abominável a vantagem do Inimigo neste ponto) você não percebe o quanto os humanos são escravizados à rotina. Uma vez, tive um paciente, ateu convicto, que costumava fazer pesquisas no Museu Britânico. Um dia, estando ele a ler, notei que seu pensamento esvoaçava com tendência a um caminho errado. Com efeito, o Inimigo ali estava ao seu lado, naquele momento. Antes que desse por mim, vi o meu trabalho de vinte anos começando a desmoronar. Se tivesse entrado em pânico e tentado argumentar, eu estaria irremediavelmente perdido. Mas não fui tolo a esse ponto! Recordei da parte da vítima que mais estava sob meu controle e lembrei-lhe que estava na hora de almoçar. O Inimigo acho lhe fez uma contra-sugestão (você bem sabe como é difícil acompanhar aquilo que Ele lhes diz) de que a questão que lhe surgira na mente era mais importante do que o alimento. Penso ter sido essa a técnica do Inimigo porque quando lhe disse "Basta! Isto é algo muito importante para se meditar num final de manhã...", vi que o paciente ficou satisfeito. Assim, arrisquei dizer: "E muito melhor se você voltar ao assunto depois do almoço e estudar o problema com cabeça mais fresca. Não havia acabado a frase e ele já estava no meio do caminho para a rua. Na rua, a batalha estava ganha. Mostrei-lhe um jornaleiro gritando "Olha o Jornal da Tarde", e o Ônibus No.73 que ia passando, e antes que ele tivesse dado muitos passos, eu o tinha convencido de que sejam lá quais forem as idéias extraordinárias que possam vir à mente de alguém trancado com seus livros, basta uma dose de "Vida Real" (que ele entendia como o ônibus e o jornaleiro gritando) para persuadi-lo que "Aquilo Tudo" não podia ser verdade de jeito nenhum. A vítima escapara por um fio, e anos mais tarde, gostava de se referir àquela ocasião como "senso inarticulado de realidade, que é o último salva-vidas contra as aberrações da simples lógica". Hoje, ele está seguro, na Casa de Nosso Pai. Começa a perceber ? Graças a processos que ensinamos em séculos passados, os homens acham quase impossível crer em realidades que não lhes sejam familiares, se estão diante de seus olhos fatos mais ordinários. Insista pois em lhe mostrar o lado comum das coisas. Acima de tudo, não faça qualquer tentativa de usar a Ciência (digo, a verdadeira) como defesa contra o Cristianismo. Certamente, as Ciências o encorajariam a pensar em realidades que a visão e o tato não percebem. Tem havido tristes perdas para nós entre os cientistas da Física. Se a vítima teimar em mergulhar na Ciência, faça tudo que você puder para dirigi-la para estudos econômicos e sociais, acima de tudo, não deixe que ela abandone a indispensável "Vida Real". Mas o ideal é não deixar que leia coisa alguma de Ciência alguma, e sim lhe dar a idéia de que já sabe de tudo e que tudo que ele assimila das conversas nas "rodinhas" são resultados das "descobertas mais recentes". Não se esqueça que sua função é confundir a vítima. Pela maneira como alguns de vocês, diabos inexperientes falam, poderiam até pensar (que absurdo!) que nossa função fosse ensinar!

Seu afetuoso tio,
Screwtape


 Fonte: C S Lewis - cartas do inferno

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Revelação e conhecimento...

   

   Não sou teólogo, mas amo a boa teologia. Aprendi que teologia não é "estudo" de Deus (como se pudéssemos manuseá-lo, feito objeto de interesse científico), mas um discurso a seu respeito: discurso humano, apaixonado, movido por fé, baseado na revelação de Cristo e limitado. Absolutamente limitado. "Devemos falar de Deus; mas somos humanos e, por isso, não podemos falar de Deus. Devemos entender ambos: nosso dever e nosso não poder, e assim dar toda a glória a Deus" (Karl Barth). Aprendi que na boa teologia os princípios, não as formas, são fundamentais. A revelação e o conhecimento de Deus não consistem de um conjunto arbitrário, rígido e desumano de leis, regras, cerimônias e sacrifícios, impossíveis de serem cumpridos, mas no grande convite a intimidade de Deus, pois deseja relacionar-se conosco.

   Aprendi que o AMOR não é apenas um atributo de Deus (como justiça, bondade, onipotência, entre outros), mas sua essência. Deus é amor (1 Jo 4:8 e 16). "Não somente a fonte de todo verdadeiro amor; mas amor em Seu Ser mais profundo" (John Stott). Essa manifestação concreta do Deus-Amor em nossa humanidade recebe o nome de GRAÇA (favor imerecido): "Deus prova o seu amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores" (Rm 5.8). E graça deve ser recebida com gratidão, alegria, pois conduz à participação na intimidade. Remove a culpa e aniquila o desejo de autoflagelação, transformando pecadores assustados - a exemplo de Pedro, na pesca maravilhosa - em verdadeiros agentes do Reino de Deus (pescadores de homens).

   Aprendi que PECADO não é um problema simplesmente ético (como as preocupações relativas à clonagem, pesquisas com célula-tronco, crimes de internet, nepotismo, etc.) mas um problema relacional. Faz separação entre nós e o nosso Deus (Is 59.2). Sua fonte é o orgulho. Todo pecado é orgulho (Reinhold Niebuhr). Como orou Davi: "da soberba livra o teu servo, para que não se assenhoreie de mim; então serei limpo e ficarei livre de grande transgressão" (Sl 19.13). A prática do pecado é rebeldia e não pode ser vencida naturalmente. É vencida na sede de intimidade, santidade e perseverança, o que fortalece na luta contra a tentação. Faz com que, como José, resistamos aos desejos da carne e paguemos o preço da calúnia, da difamação e da perseguição. É o temor ao Senhor.

   Aprendi que ADORAÇÃO não é apenas questão de liturgia (cultos públicos, cerimônias, etc.), mas de contemplação: "tributai ao Senhor a glória devida ao seu nome; adorai-O na beleza da Sua santidade" (Sl 29.2). Uma das principais características da contemplação é o silêncio. Interrompemos a agitação e a preocupação próprias da vida contemporânea para dedicarmos o ser inteiro a Deus. Note: "o SENHOR, porém, está no seu santo templo; cale-se diante dEle toda a terra"(Hc 2.20). Ainda: "Cale-se toda carne diante do SENHOR, porque ele se levantou da Sua santa morada" (Zc 2.13). Na participação da intimidade somos convocados à luta contra uma religião pragmática-esotérica, focada em resultados e baseada em receitas "mágicas", que não podem, em hipótese alguma, preencher o vazio do coração.

   Aprendi que FÉ é muito mais que convicção (na existência de deus, na Bíblia, no Jesus histórico). Fé é Decisão. O justo não somente acredita, mas vive por sua fé (Hb 2.4). "A fé é a selva que cria a árvore da vida, com todos os seus ramos, grandes e pequenos. Como é a seiva, assim é a árvore. Como é a fé - real, e não simplesmente fé pública - assim é a vida "Emil brunner). E fé como decisão é caminhada diária, corajosa. Não deve ser reivindicada para projetos egoístas ou apelos de orgulho. E ousadia e ação transformadora: "Se tiverdes fé como um grão de mostarda podereis dizer ao monte: passa daqui para lá! e ele obedecerá"(Mt 17.20). Deve fazer-nos aptos para o serviço de Deus e do próximo, na certeza de que o impossível não é o limite.

   Enfim, aprendi que JESUS CRISTO não é apenas o salvador da humanidade (como afirma todo o Novo Testamento em cerca de vinte ocasiões diferentes), mas o próprio SENHOR da criação: "se com a tua boca confessares Jesus como Senhor, e em teu coração credes que Deus ressuscitou dos mortos, será salvo"(Rm 10.9). Jesus é de nominado "Senhor", só nas epístolas paulinas, mais de setenta vezes. Faz toda diferença. A participação na intimidade de Deus evidencia-nos seu caráter e senhorio, ajudando-nos a superar a arrogância de uma vida independente e auto-suficiente. Faz-nos lembrar que a verdadeira honra e o verdadeiro poder encontram-se disponíveis ao coração quebrantado e contrito. É convite ao serviço, com disposição e alegria, pois é no serviço que nos identificamos com aquele que é Senhor de todos nós.


   Pr Marcelo Gomes
   I Igreja Presbiteriana Independente de Maringá


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O ponto essencial...




Comunicação

Oficina G3

Deter a sua mão,
Não dar o tato inerte
O suor no coração,
Viver o sentimento vizinho
Solitária locação de nem mesmo ter,
Os pés na conclusão
De intimamente
Ser o amigo sobrenatural
Responder ao emissor do receptor,
Vem comigo sem ruído


O fator ideal,
O ponto essencial, de tornar real o feedback
A fé tão ilógica, racional, se materializar
Sem mesmo ver, possivelmente sentir
Indiscutivelmente crer
Que há sol no meu jardim
O canto dos lírios,
Rosa de Saron, Jesus me respondeu.