Fugu, nada mais é que o nome oriental para o nosso simpático baiacu, aquele conhecido peixe com capacidade para inflar e desinflar como uma bola.
Trata-se de uma iguaria muito apreciada em vários lugares, mas especialmente no Japão.
Trata-se de uma iguaria muito apreciada em vários lugares, mas especialmente no Japão.
O problema com o Fugu, é que além de saboroso, ele também é dotado de um veneno humanamente letal, presente em sua pele e alguns órgãos internos. Por isso, apenas chefs credenciado estão autorizados a preparar o Fugu.
O veneno do Fugu causa uma morte lenta e dolorosa pela paralisa os músculos, mantendo a pessoa em consciência enquanto morre por asfixia.
Morrer por ingestão de Fugu é uma possibilidade concreta, como comprovam as estatísticas anuais dando conta de vítimas desta causa.
Nada disso, porém, impede que pratos com sua saborosa carne continuem sendo preparados e apreciados cada vez mais.
Eu penso que certas práticas do nosso dia-a-dia se comparam a comer Fugu.
Para desfrutar do útil, belo e agradável disponível, algumas vezes é preciso incorrer em um risco até mesmo fatal.
Habilidade e destreza ajudam a minimizar o risco, mas não o eliminam. Ele está sempre presente e o limite para ele é bastante tênue.
Um campo em que isso se torna muito evidente para mim é o cultural. Entenda-se aí como cultura toda informação que chega até nós a cada dia pela imprensa, publicidade, artes e entretenimento, por canais mais variados de mídia, em doses cada vez maiores. Informação trabalhada com técnicas cada vez eficazes em formar opiniões, moldar carácteres e influenciar o comportamento das pessoas.
A cultura, evidentemente, pode ter coisas positivas a oferecer, porém, não deveria ser simplesmente assimilada da forma como é oferecida, em estado bruto, mas considerada, analisada e devidamente selecionada antes de ser consumida, como se faz com o Fugu. Somos criteriosos com a comida que compramos no mercado, com a escola que nossos filhos frequentam, com as pessoas que visitam nossa casa, mas aquilo que entra nela com o rótulo de cultura nem sempre passa por algum critério de seleção e acaba sendo assimilado de forma sutil e, não raro, automática.
A cultura em que estamos imersos – e na qual a oferta de informação é um aspecto cada vez mais relevante – pode ter uma influência grande ou pequena, um peso maior ou menor, dependendo da pessoa e do contexto particular de cada um, mas a única coisa que não se pode negar é que ela nos afeta.
Acreditar no contrário é uma grande ingenuidade. E a diferença entre uma iguaria e um veneno pode ser tão sutil quanto fatal.
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