quarta-feira, 15 de agosto de 2012

UMA RADIOGRAFIA DA IGREJA NO CONTEXTO ATUAL


UMA RADIOGRAFIA DA IGREJA NO CONTEXTO ATUAL



Neste breve diagnóstico sobre a igreja hodierna, apontarei o que considero a ponta do iceberg da sua conjuntura atual, não me atrevendo a medir as profundezas, detendo-me apenas naquilo que consigo ver e que está na superfície. Posso sim, conjecturar com a analogia da arca de Noé: Se não fosse o juízo lá fora, ninguém suportaria o cheio dentro. Já faz tempo que a igreja está em declínio espiritual. Uma prova disso é o descaso com a pregação – que está cada vez mais descartada e menosprezada em favor de novos métodos, tais como dramatização, danças, imponentes atrações e outras formas de entretenimento. Esses novos métodos são supostamente mais “eficazes”, pois atraem grandes multidões. Hoje o sucesso de uma igreja não é mais medido pela santidade e busca de caráter e vida cristã autênticos, mas é medido pela quantidade de pessoas que vão aos cultos.



Em séculos passados, cidades, povoados e aldeias inteiras eram abaladas pela pregação da palavra de Deus e as mudanças eram percebidas em todos os segmentos da sociedade; havia um batismo de arrependimento e mudanças imediatas e radicais de comportamento aconteciam. Leis eram promulgadas em resposta a veemência da pregação que apontava os valores, que prezava a família e a moral social. Hoje quanto mais cresce o número de igrejas, cresce em proporções maiores a depravação moral, a corrupção, o descaso e a banalização do sagrado, mostrando com isso que o crescimento exponencial da igreja, nos dias de hoje, não tem sido um fator catalisador de transformação de vida e conduta segundo a Palavra de Deus.

A grande maioria dos líderes e pastores tem demonstrado crer que as prioridades da igreja apresentadas em Atos 2.42 que são a doutrina dos apóstolos, a comunhão, o partir do pão e as orações, constituem uma agenda deficiente e ultrapassada para a igreja de nossos dias. Muitos estão permitindo que a dramatização, a música profissionalizada (o estrelismo gospel), o entretenimento e programas semelhantes substituam o culto e a comunhão bíblica tradicional. Essas distrações da pós-modernidade estagnaram e silenciaram a igreja. O nosso grito passou a ser a portas fechadas e por causa desse silêncio e omissão, a igreja condescendeu com a contracultura deste mundo vil e em quase todos os países não se pode mais proclamar de modo claro e simples a verdade do Evangelho e, acredite, em muitos casos, esse ato é visto como ingênuo, ofensivo e ineficaz.

Num contexto geral, grande parte da igreja atual tem menosprezado a importância da doutrina bíblica. O modernismo abriu a porta para o liberalismo teológico desenfreado, o relativismo moral estabeleceu-se em alguns púlpitos e sorrateiramente entrou no seio da família, e como era de se esperar, o resultado é uma incredulidade sem precedentes. Muitos cristãos e até mesmo uma grande parte de pastores e líderes parecem inconscientes a respeito dos sérios perigos que ameaçam a igreja por dentro e não estão se dando conta de que a história está se repetindo, isto é, os ataques mais devastadores desferidos contra a fé cristã sempre começaram com erros sutis e pequenas concessões surgidas dentro da própria igreja.

As mudanças constantes dos valores, fruto desta pós-modernidade tem deixado a liderança eclesiástica perdida não sabendo a quem agradar. E é aí onde mora o grande perigo, pois a liderança e a igreja geral não estão percebendo que se agradarmos ao homem vamos desagradar a Deus e se desagradarmos a Deus pouco interessa a quem estejamos agradando. Meus queridos, a igreja não pode se dar ao luxo de vacilar nestes últimos dias que antecedem a vinda de Jesus. Não podemos negociar a verdade, nem abrandar o holismo do evangelho. Se fizermos parceria com o mundo e os seus abomináveis conceitos e valores efêmeros, nos constituímos inimigos de Deus. Se nos dispusermos a acreditar que os métodos e artifícios mundanos é que trazem resultados satisfatórios para nossas congregações, estaremos abrindo mão da direção e do poder do Espírito Santo em nossas vidas.

Outro fator preocupante nos dias de hoje é o estrelismo gospel que tomou conta da igreja – a música meramente profissionalizante. Não se canta mais para levar vidas ao pés da cruz. O que importa mesmo é arrastar multidões e encher as igrejas, pois este é o termômetro que mede o sucesso de muitas delas nos dias atuais. É só chamar uma estrela do mundo gospel e pronto. Podemos chegar a uma conclusão quanto a este fenômeno: quando não há mais unção do alto no púlpito, lama cai bem. Refiro-me àqueles que cantam apenas por mero interesse financeiro e visam apenas obter sucesso às custas das igrejas.

E aí, o show termina e o templo fica cheio de vidas vazias, fruto de uma musicalidade medíocre e poesia pobre e, pior, montada em cima de interesse meramente comercial e financeiro. A grande soma de dinheiro cobrado por estes cantores, dinheiro muitas vezes proveniente dos dízimos e ofertas trazidos por aqueles que realmente amam a causa do Mestre, poderia ser aplicado em projetos missionários para o avanço do evangelho, na melhoria da qualidade de vida de obreiros dessas mesmas igrejas e até mesmo nos próprios músicos da igreja que dão o seu melhor como voluntários. Mas não! Muitos líderes têm levado suas denominações a serem ministradas por esses oportunistas do mundo gospel e não se dão conta de que boa parte da música cantada por essas “estrelas errantes” é feita por pessoas não convertidas, sendo raras as que são forjadas na fornalha da comunhão e da intimidade com o Espírito Santo. A liderança está caindo no mesmo erro e simplismo dos dias do profeta Amós que denunciou o conceito de Deus a respeito da liturgia e o culto daqueles dias. Assim nos diz o texto:

“Aborreço, desprezo as vossas festas, e as vossas assembleias solenes não me dão nenhum prazer. E, ainda que me ofereçais holocaustos e ofertas de manjares, não me agradarei delas, nem atentarei para as ofertas pacíficas de vossos animais gordos. Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos; porque não ouvirei as melodias dos teus instrumentos”. Amós 5.21-23

Enfim, conscientes ou não, somos nós pastores que estamos “criando” as “estrelas errantes” (Judas v.13) do mundo gospel e consequentemente absorvendo os seus artifícios egoístas e venenosos. E como é de se esperar, o louvor que cura e liberta está cada vez mais distante de nossos púlpitos. A música hoje, diferentemente da esperada pela Palavra de Deus, só atrai em vez de libertar. Sabemos que a música tem o poder de trazer quebrantamento e conversão como nos diz o Salmo 40.3: “E me pôs nos lábios um novo cântico, um hino de louvor ao nosso Deus; muitos verão essas coisas, temerão e confiarão no SENHOR”.

A mim me parece que, em muitas ocasiões não mais podemos dizer que “Deus habita no meio do louvor do seu povo”. A prova disso é a atenção que é dada quando a Palavra vai ser ministrada; o tempo que restou é pouquíssimo, o pregador tem que resumir a mensagem e se ele orar de olhos fechados, ao abri-los, metade do público foi embora ou está sendo distraída com alguma coisa nos bastidores. A “estrela” da noite com certeza já está em uma sala qualquer ou a caminho do aeroporto, porque tem outro e sempre “grande compromisso”. O meu alerta é que nós líderes e pastores, sejamos criteriosos a bem de nossas orações feitas em favor da igreja. A Palavra já nos alerta sobre isto:

Ora, o fim de todas as coisas está próximo; sede, portanto, criteriosos e sóbrios a bem das vossas orações. 1 Pedro 4.7

Apesar de tudo e de nós mesmos, temos ainda um modelo para nos espelhar. O mundo está para conhecer uma comunidade, uma igreja do quilate da igreja de Atos 2.41-47; 4.32-37. Uma igreja que nada temia a não ser o pecado, que nada desejava a não ser Deus e que a todo custo pregava a palavra com ousadia e amor para que pudesse de alguma maneira resgatar o maior número de perdidos para o Reino de Deus. Eu creio que este quadro ainda pode ser revertido por mim e por você. Meu maior sonho é ver e fazer parte de uma igreja encharcada de amor, de comunhão, de ousadia e poder. Sabem quando podemos influenciar a sociedade com o evangelho e quando o nosso testemunho e influência se tornam eficazes? Quando o povo entrar nos nossos templos e sair impactados com o que somos e vivemos e não pela beleza dos nossos templos. Nada vale entrar no lugar de nossas reuniões e dizer: Que templo! Que casa! Que cadeiras! Que bancos! E em seguida
comentar: Que gente antipática e fria! Que gente individualista e metida! Que gente sem amor!

Finalizo esta reflexão afirmando que não sou defensor de uma igreja estagnada. Desejo e trabalho por uma igreja dinâmica que se atualize sem modernizar-se, se contextualize, mas não se comprometa com o mundo. Minha denuncia é a de quem está cansado de uma igreja que prima por uma filosofia que banaliza Deus e sua Palavra. Pode ser que outros estejam tão cansados quanto eu. Se for o seu caso, convido-o então a mudarmos nossa agenda; rompermos com a roda viva religiosa que suga nossas energias; voltarmos ao primeiro amor e orarmos para que o Senhor livre Sua igreja do mesmo tipo de desmoronamento que levou a igreja de séculos passados ao mundanismo e à incredulidade e esgotou seu vigor espiritual. Oremos para que não nasça uma geração vacinada contra a igreja, e que venha a dizer como disse Mahatma Gandhi para os ingleses: “O vosso Cristo eu quero, o que não quero é o vosso cristianismo”.


Hamilton Paulino de Carvalho
Pastor Sênior do Ministério Betesda
prhamiltonpc@hotmail.com
Maringá – Paraná



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