Sodoma: o domicílio do abuso sexual
"Mas antes que se deitassem, cercaram a casa os homens da cidade, isto é, os homens de Sodoma, tanto os moços como os velhos, sim, todo o povo de todos os lados; e, chamando :
Ló, perguntaram-lhe: Onde estão os homens que entraram esta noite em tua casa?
Trazê-os cá fora a nós, para que os conheçamos. Então Ló saiu-lhes à porta, fechando-a atrás de si, e disse: Meus irmãos, rogo-vos que não procedais tão perversamente;
eis aqui, tenho duas filhas que ainda não conheceram varão; eu vo-las trarei
para fora, e lhes fareis como bem vos parecer: somente nada façais a estes
homens, porquanto entraram debaixo da sombra do meu telhado. Eles, porém
disseram: Sai daí. Disseram mais: Esse indivíduo, como estrangeiro veio aqui
habitar, e quer se arvorar em juiz! Agora te faremos mais mal a ti do que a
eles. E arremessaram-se sobre o homem, isto é, sobre Ló, e aproximavam-se para
arrombar a porta" (Gn. 19:4-9).
Apesar
de Sodoma não existir mais fisicamente, essa é uma "cidade" que
existe espiritualmente, e está crescendo cada vez mais. Uma das fronteiras que
mais se alargam no mundo é a do abuso
sexual, da pedofilia e do homossexualismo. É nesse tipo de fortaleza que uma
quantidade inumerável de "justos e crentes", como Ló, estão
aprisionados com seus casamentos e famílias.
Sodoma
representa um quadro completo do cativeiro imposto pelo abuso sexual. Muitas pessoas
estão aprisionadas nesse território. A intenção daqueles moradores não era
outra senão o abuso sexual, a humilhação e a mutilação da dignidade humana.
Sodoma não está apenas ligada ao homossexualismo, mas a uma das principais
raízes do homossexualismo, que é o abuso sexual. Quando lemos a história de Ló,
percebemos uma dificuldade e uma relutância sobrenaturais para sair dessa
situação.
Ló realmente era um homem justo e
hospitaleiro. Sua atitude com os anjos denota seus valores e seu temor a Deus.
Porém, ele se encontrava num território maligno. Sua família já estava sendo
destruída e contaminada. Já estavam acomodados a uma situação depravante de
imoralidade. Seus genros eram zombadores.
As resistências espirituais são
tão fortes nesse aspecto, que necessitamos, literalmente, do auxílio dos anjos
de Deus. E quando os anjos vêm para nos tirar dessa situação, acontece um
grande confronto. É justamente por causa disso que a casa de Ló é
repentinamente cercada. Aquelas pessoas revelam suas terríveis intenções, que
desvendam a realidade espiritual daquele território.
No seu desespero, Ló compromete e
expõe as suas próprias filhas. Pessoas vencidas pela imoralidade estão dando
de bandeja seus filhos a esses espíritos. Ele as oferece àquelas pessoas para
serem abusadas. Ele se autodegrada, nesse momento. Essa foi a brecha do incesto
que veio a sofrer por parte das próprias filhas.
E necessário entendermos que Deus
deseja julgar esses "habitantes de Sodoma". Ele quer nos tirar das
garras desses demônios de abuso sexual que nos têm escravizado desde a
infância. Há um clamor diante do trono de Deus nesse sentido.
Os anjos estão nos dizendo agora
mesmo: saia desse lugar! Saia dessa prisão! Sabemos que todos aqueles moradores
de Sodoma que cercaram a casa de Ló, querendo abusar sexualmente de seus
hóspedes, e depois, dele mesmo, representam forças demoníacas guardiãs do
cativeiro em que nos encontramos. Na verdade, quando Ló se apartou de Abraão,
que personifica uma vida de obediência e uma herança bendita em Deus, ele
acabou num dos piores cativeiros que alguém pode cair.
O pior desse tipo de situação é
que ela pode nos anular em relação ao chamado de Deus. Fico me perguntando: Por
que Ló não voltou para a comunidade de Abraão? Por que escolheu Zoar? Por que
ele se isolou com suas filhas? Por que ele preferiu não contar a sua vergonhosa
história para ninguém? O fracasso diante dessas questões o lançaram no submundo
da depressão. Essa é a consequência quando não se vence a passividade residual.
Algumas
lições acerca da transgressão de Ló
1 - Discípulo ou sombra? Uma
tendência ao comodismo é o maior inimigo do discípulado. A sombra pode ser um
lugar tão confortável quanto frustrante. Ló teve um dos melhores modelos de
liderança que alguém pode ter. Abraão era amigo de Deus. Porém, ao invés de se
tomar um discípulo, preferiu ficar na sombra.
Ló não aprendeu a levantar altares. Enquanto Ló apenas pensava em se
estabelecer melhor, cobiçando privilégios, Abraão pensava em trazer e manter a
presença de Deus, levantando altares.
2
- A "Lei do desgaste". Em todo relacionamento há um desgaste natural
que é facilmente compensado pela unção de Deus. Enquanto regemos nossos
relacionamentos em amor, amadurecemos. Quando regemos nossos relacionamentos
com feridas, envelhecemos e cansamos. Quando a renovação da alma é superada
pelo desgaste, a tendência é começar a parar.
3 - A
prosperidade, aliada ao desgaste espiritual, pode trazer um comodismo
destruidor. Existe um grande perigo na prosperidade que não provém de uma vida
tratada e trabalhada por Deus. Quando a prosperidade se assenta nas feridas de
uma vida espiritual gasta, instala-se um sucesso destrutivo, enganoso e
efêmero. Esse tipo de sucesso produz um comodismo espiritual tão confortante
quanto perigoso. É a passividade se instalando!
4 - Quando
não discernimos a diferença entre a visão de Deus e o nosso desejo vamos acabar
fazendo escolhas comprometedoras. O princípio da decisão errada é quando, ao mesmo
tempo em que prosperamos, também perdemos a perspectiva de uma vida de renúncia.
Começamos a cobiçar o fértil vale de Sodoma. Esse é o princípio do engano e do
encantamento.
Cada vez
que renunciamos algo para Deus, nossas motivações são purificadas, nosso
espírito é renovado e a alma é capacitada a servir a Deus em uma nova dinâmica
de discernimento e revelação. E dessa forma que andamos nas pegadas de Cristo
trilhando, nas alturas, os caminhos de Deus. A renúncia como estilo de vida nos
faz andar altaneiramente com o Senhor.
Quando a renúncia sai de cena, a
cobiça entra, as prioridades mudam, o coração endurece. A visão é distorcida
por uma motivação que só almeja privilégios. Saímos da simplicidade de servir.
A vontade passa a ser regida de acordo com uma perspectiva carnal. Não se
iluda, de Deus não se zomba; se semeamos na carne, ceifaremos corrupção!
5 - A prosperidade sem
responsabilidade espiritual conduz à imoralidade. A Bíblia define Sodoma como
sendo o território da prosperidade sem pagar o preço, da vida fácil e egoísta: "Eis
que esta foi a iniqüidade de Sodoma, tua irmã: Soberba, fartura de pão, e
próspera ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca fortaleceu a mão do pobre
e do necessitado" (Ez. 16:49). Esse também é o território da
imoralidade, onde, paulatinamente, nos apostatamos dos valores do Reino de
Deus.
Pode-se
observar algo nos escândalos envolvendo líderes genuinamente chamados e
ungidos por Deus. Antes da imoralidade, vem um processo de prosperidade e
flacidez espiritual. Pessoas que se deixam desgastar e seduzir pelas
conveniências, em detrimento da real vontade divina.
Uma das
coisas que explicam o sucesso de Abraão é quando ele deixa que Ló escolha o
local para onde ele queria ir. Na verdade, ele não entregou a escolha para Ló,
mas para o Senhor. Não negociou esse lugar de rendição. Isso o transformou no
amigo de Deus.
Constata-se
que o período mais perigoso na vida de um líder é entre os 40 e 50 anos. E
quando há prosperidade e um desejo maior por privilégios. A pessoa já alcançou
uma boa estabilidade e começa a diminuir o ritmo ministerial acentuadamente. Além
disso, os pais já morreram, o relacionamento conjugal esfriou, a esposa está
mais velha em comparação a muitas outras moças ... Isso tudo predispõe a pessoa
a sucumbir em uma cilada de adultério.
Lembre-se de que foi exatamente no
tempo em que os reis saíam à guerra e Davi decidiu ficar no palácio, que ele
acabou caindo em adultério com Betseba, desencadeando uma série de tragédias na
sua vida e família.
6 - 0 que distingue a divisão da
multiplicação no reino de Deus são as motivações. Muitas vezes pensamos que,
para começar um novo projeto, precisamos apenas de uma equipe habilitada
profissionalmente. Porém, o maior desafio de uma equipe reside no caráter. Ló
tinha uma grande equipe de pastores, porém, traziam consigo uma terrível
semente de insatisfação e competição.
A motivação é determinada pela
inspiração. Somos responsáveis pela fonte de inspiração a que nos sujeitamos.
Por isso, Tiago assevera que, antes de qualquer coisa, precisamos nos sujeitar
a Deus. Muitas coisas como a insatisfação, injustiças, feridas podem determinar
nossas motivações, induzindo- nos a decisões independentes de Deus. A tendência
é nos afastarmos da terra prometida. A obra cresce, mas o problema é que está
sendo edificada em um território sob juízo. De um momento para o outro, tudo
pode ser destruído.
7
- Quando o governo do lar é
corrompido pela insatisfação da mulher, esse lar acaba se instalando em um
endereço sob julgamento. Não podemos falar na transgressão de Ló sem deixar de
falar na transgressão da mulher de Ló. Ela firmou sua casa e seu coração em
Sodoma.
Sodoma era, talvez, o melhor lugar
para se viver àquela época. A fama negativa de Sodoma só veio depois do julgamento
divino. Essa é a história de muitas esposas de líderes, missionários e
pastores. Elas não se casaram com a missão dos seus maridos. Acredito que a
esposa de Ló teve uma grande participação na decisão de se separarem de Abraão
e irem para Sodoma. Tanto é que nem os anjos de Deus conseguiram retirar o seu
coração de lá!
8 - Invariavelmente, a imoralidade é a terra do
estacionamento espiritual e conduz à depressão. A imoralidade impõe um
retrocesso crônico de paralisia e perdas. Fico imaginando como teria sido a
descendência de Ló se ele tivesse perseverado com Abraão no seu chamado. Porém,
depois de sair com Abraão para um desafio missionário, ele estacionou.
Acomodou-se. Verticalmente pensando, tudo que para começa a cair. Aqui começam
as perdas:
- Ele perde relacionamentos e cobertura
espiritual. Deixa os relacionamentos se desgastarem;
- Ele perde a bênção da renúncia. Perde o
entendimento acerca do direito de renunciar os direitos. Diante da postura do
tio de ceder à vontade, ele consolida sua cobiça;
- Ele perde a visão. Perde a missão. Perde a
unção. E o pior de tudo, perdeu a noção do perigo em que se encontrava. O
espírito de Sodoma invadiu sua família. Os moradores de Sodoma queriam arrombar
a porta de sua casa;
- Perde todos os seus bens e as riquezas tão
cobiçadas;
- Perde todas as pessoas que foram com ele para
Sodoma. Estima-se que foram umas três mil pessoas;
- Perde a esposa e a família;
- Perde a honra. Deixa-se embebedar pelas
filhas. Torna- se uma pessoa destruída, isolada e deprimida. Tinha que conviver
com a face do incesto na pessoa dos netos.
Antonio Carlos Rogoski