Para entendermos com profundidade a ligação entre a perversão sexual e a passividade, vamos considerar a importante história da família
de Ló.
A TRANSGRESSÃO DE LÓ
A mortal transgressão da
passividade
"E
ao amanhecer os anjos apertavam com Ló, dizendo: levanta-te, toma tua mulher e
tuas duas filhas que aqui estão, para que não pereças no castigo da cidade.
Ele, porém, se demorava."
Ao estudar a história de Ló, deparamo-nos com a
situação de um homem e de uma família que tinham tudo para dar certo, mas que acabaram
tendo um final trágico. Infelizmente, não temos aqui uma história de sucesso,
ou o testemunho de alguém que venceu a perversão sexual. Pelo contrário, esse é
um exemplo de uma família que sofreu as inevitáveis consequências da imoralidade. Ló acabou
os seus dias deprimido, bêbado e isolado numa caverna.
Ainda
que Deus tenha tirado Ló de Sodoma
antes que essa fosse destruída, ele não conseguiu tirar Sodoma de Ló. Acabou sendo embriagado, seduzido
e abusado sexualmente pelas
próprias filhas, as únicas
sobreviventes de Sodoma. Porém, apesar da deprimente história de Ló, acredito
que podemos aprender muito com seus erros.
O que assusta é que, por mais que Deus tenha
enviado anjos para resgatar Ló de Sodoma, ainda assim ele procrastinava, e,
simplesmente, não reagia. Precisou ser quase que arrastado
pelos anjos. Ló não conseguiu lidar com a sua passividade. Transgrediu contra
o socorro divino. Isso acabou sendo fatal, como veremos a seguir.
Sodoma: o lugar da corrupção espiritual e da
procrastinação
"Então
disseram os homens a Ló: Tens mais alguém aqui? Teu genro, e teus filhos, e
tuas filhas, e todos quantos tens na cidade, tira-os para fora deste lugar;
porque nós vamos destruir este lugar, porquanto o seu clamor se tem avolumado
diante do Senhor, e o Senhor nos enviou a destruí-lo. Tendo saido Ló, falou com
seus genros, que haviam de casar com suas filhas, e disse-lhes: Levantai-vos,
saí deste lugar, porque o Senhor há de destruir a cidade. Mas ele pareceu aos
seus genros como quem estava zombando. E ao amanhecer os anjos apertavam com
Ló, dizendo: levanta-te, toma tua mulher e tuas duas filhas que aqui estão,
para que não pereças no castigo da cidade. Ele, porém, se demorava; pelo que os
homens pegaram-lhe pela mão a ele, à sua mulher, e às suas filhas, sendo-lhe
misericordioso o Senhor. Assim o tiraram e o puseram fora da cidade... E
subverteu aquelas cidades e toda a planície, e todos os moradores das cidades,
e o que nascia da terra. Mas a mulher de Ló olhou para trás e ficou convertida
em uma estátua de sal" (Gn. 19:l2-26).
Esse
texto abrange pessoas que perderam a disposição espiritual. Gente que se deixou
desgastar de forma errada e por coisas desnecessárias. Isso tem sido uma febre
na igreja e na sociedade, de modo geral. Quando se perde a disposição, a
próxima coisa a ser perdida é a visão. Perdem-se as prioridades. Quando alguém
se desloca da visão, também, ao mesmo tempo em que despreza a unção, abandona a
missão.
Ló saiu
juntamente com Abraão para o seu chamado. Ele havia deixado tudo para começar
uma vida de obediência à visão de Deus. Juntos, eles prosperaram muito e alguns
problemas vieram. Um dos perigos da prosperidade é que ela, muitas vezes, leva
as pessoas a reassumirem direitos que haviam sido entregues a Deus. A consequência
é a contenda. Então foi necessária uma separação entre Abraão e Ló. A separação,
em si, nem sempre é uma coisa ruim, mas a forma como ela se dá é
crucial.
Abraão, como homem de Deus, sabiamente se norteia pela senda do
caminho estreito. Essa talvez foi a maior prova da vida de Ló e, infelizmente,
ele fracassou. "Porventura não está toda a
terra diante de ti? Rogo-te que te apartes de mim. Se tu escolheres a esquerda,
irei para a direita; e se a direita escolheres, irei eu para a esquerda"
(Gn. 13:9).
Ao invés de preferir em honra a Abraão, impulsionado pela ganância, Ló
tem uma nova visão: "Então Ló
levantou os olhos, e viu toda a planície do Jordão, que era toda bem regada
(antes de haver o Senhor destruído Sodoma e Gomorra), e era como o jardim do Senhor,
como a terra do Egito, até chegar a Zoar" (Gn. 13:10).
Esse é o
ponto da ruptura, quando Ló deixa de se conduzir pela visão e passa a ser conduzido pelo desejo. É fundamental discernir a
diferença entre a visão de Deus e o desejo humano. E aqui que muitos se perdem
e acabam tendo que pagar o alto preço que a cobiça cobra.
Ló se
encanta com a possibilidade de uma vida fácil. Ele cobiça as campinas do
Jordão, que significavam um tipo de prosperidade misturada com soberba, fartura
e abundância de ociosidade (Ez. 16:49). Na verdade, estava barganhando o seu
chamado.
Traído
pelos olhos, acabou tomando uma decisão errada que comprometeu o seu chamado e
o futuro da sua família. Queria facilidades e encontrou problemas. Cobiçou o
fértil vale de Sodoma e acabou terminando seus dias entocados numa caverna,
totalmente derrotado.
A
prosperidade, muitas vezes, oferece um ambiente de ociosidade espiritual em que
floresce a decadência e a depravação. Será só uma questão de tempo, e juízo
virá. Precisamos sair desse endereço. O mais perigoso desse lugar é que ele
tem o incrível poder de prender a alma e algemar o coração. Aqui mora a passividade.
E muito
importante entendermos o retrocesso da família de Ló, pois ele reflete
fortemente um aspecto real da atual igreja. Pessoas que começaram muito bem e,
de repente, começam a parar. Como
aqueles que dão tudo no início de uma maratona, para,
rapidamente, verem suas forças terminarem e seu fôlego se exaurir. Não
souberam administrar seus esforços, e agora, encontram-se num lugar perigoso e,
ao mesmo tempo, sem ter a consciência do perigo em que vivem. Esse foi o drama
de Ló e sua família, que é a tipologia da igreja que começou bem e,
simplesmente, estacionou e apostatou.
Eles
haviam saído para o chamado de Deus e aprenderam a viver pela fé. Enquanto
estavam com Abraão, tinham uma vida de beduínos. Moravam em tendas e viviam
assim, de lugar em lugar, pastoreando rebanhos cada vez maiores, desfrutando o
potencial da terra. A esposa de Ló lavava sua roupa no riacho, improvisava,
muitas vezes, o alimento, e, dessa forma, enquanto dependiam de Deus,
prosperavam tremendamente.
Mas
agora, em Sodoma, tinham uma vida espiritual confortável. Tudo era mais fácil.
Ela se sentia muito bem. As pessoas ali não eram tão taxativas. Sentiam-se
melhor em relação à consciência. Suas debilidades morais nem eram mais
notadas. Afinal, aquelas pessoas eram liberais até demais. É quando o
discernimento espiritual vai sendo silenciado.
O seu
coração foi criando raízes e se acomodando à nova situação. Uma sonolência
espiritual a envolve, como um cobertor quente numa cama macia. Porém, estavam
se detendo num domicílio espiritual perigoso, totalmente absorvido pela
passividade, num ambiente onde a perversão sexual reinava.
É quando
falamos: "Já sofri demais, quero apenas conforto! Não tem problema abrir
algumas concessões à imoralidade; ninguém é de ferro!" Vivemos uma
"nova" ética, a do não-sacrifício. Existe uma ética, desde que não
exija nada de mim - nenhuma renúncia. Ninguém quer pagar o preço. Enquanto for
bom para mim, eu permaneço. Se já não me sinto bem, rompo o compromisso. Não
existe mais fidelidade ao casamento, mas ao sentimento. Não somos mais fiéis ao
outro, e, muito menos, a Deus, mas ao que "eu sinto". Essa, também,
foi a saga da esposa de Ló.
Quando
precisou sair desse domicílio espiritual, olhou para trás. Não podia deixar
tudo aquilo que a fazia se sentir tão bem. Por fim, virou uma estátua de sal, um
ícone da apostasia, uma mensagem a nunca ser esquecida, como Jesus disse: "Lembrai-vos
da mulher de Ló" (Lc. 17:32).
Pouco
antes, Deus levantou Abraão como intercessor, e então veio uma mensagem muito
clara para Ló. Saia desse domicílio! Há perigo onde vocês estão. Mesmo assim,
eles estavam se detendo. Deus estava dizendo: Ló, você tem que mudar de
endereço. Santifique sua vida. Sua esposa está contaminada, suas filhas já
estão contaminadas, e se você não sair, você vai morrer também! Porém, eles
estavam demasiadamente acomodados. Começaram a procrastinar.
Os anjos
estavam empurrando-os para fora daquele lugar, e eles ainda estavam tentando
algum jeito de ficar: "...os anjos apertavam com Ló
... Ele, porém, se demorava". É quando Deus já nos falou
quinhentas vezes o que devemos fazer, mas não fazemos. Não reagimos. Não nos
posicionamos. Não decidimos. Estamos distraídos e conformados demais na nossa
ociosidade espiritual e na próspera tranquilidade.
Ló não era um grande pecador. A
Bíblia o descreve como justo. Porém, um justo que se acomodou. Por causa dessa
transgressão, consequências catastróficas atingiram sua família. Sua esposa
foi fulminada. Depois disso, transformou- se em um homem deprimido, bêbado e
que se deixou perverter pelas próprias filhas. Deixou um terrível legado
maldição sobre sua descendência. Seus filhos, que também eram netos, Amom e
Moabe, tomaram-se grandes inimigos de Israel e povos avessos à salvação.
Antonio Carlos Rogoski
cont.
Nenhum comentário:
Postar um comentário