sexta-feira, 26 de junho de 2015

A TRANSGRESSÃO DE LÓ - II


Sodoma: o domicílio do abuso sexual

"Mas antes que se deitassem, cercaram a casa os homens da cidade, isto é, os homens de Sodoma, tanto os moços como os velhos, sim, todo o povo de todos os lados; e, chamando : Ló, perguntaram-lhe: Onde estão os homens que entraram esta noite em tua casa? Trazê-os cá fora a nós, para que os conheçamos. Então Ló saiu-lhes à porta, fechando-a atrás de si, e disse: Meus irmãos, rogo-vos que não procedais tão per­versamente; eis aqui, tenho duas filhas que ainda não conhe­ceram varão; eu vo-las trarei para fora, e lhes fareis como bem vos parecer: somente nada façais a estes homens, porquanto entraram debaixo da sombra do meu telhado. Eles, porém disseram: Sai daí. Disseram mais: Esse indivíduo, como es­trangeiro veio aqui habitar, e quer se arvorar em juiz! Agora te faremos mais mal a ti do que a eles. E arremessaram-se sobre o homem, isto é, sobre Ló, e aproximavam-se para ar­rombar a porta" (Gn. 19:4-9).

Apesar de Sodoma não existir mais fisicamente, essa é uma "cidade" que existe espiritualmente, e está crescendo cada vez mais. Uma das fronteiras que mais se alargam no  mundo é a do abuso sexual, da pedofilia e do homossexualismo. É nesse tipo de fortaleza que uma quantidade inumerável de "justos e crentes", como Ló, estão aprisionados com seus casamentos e famílias.

Sodoma representa um quadro completo do cativeiro  imposto pelo abuso sexual. Muitas pessoas estão aprisionadas nesse território. A intenção daqueles moradores não era outra senão o abuso sexual, a humilhação e a mutilação da dignidade humana. Sodoma não está apenas ligada ao homossexualismo, mas a uma das principais raízes do homossexualismo, que é o abuso sexual. Quando lemos a história de Ló, percebemos uma dificuldade e uma relutância sobre­naturais para sair dessa situação.

Ló realmente era um homem justo e hospitaleiro. Sua ati­tude com os anjos denota seus valores e seu temor a Deus. Porém, ele se encontrava num território maligno. Sua famí­lia já estava sendo destruída e contaminada. Já estavam aco­modados a uma situação depravante de imoralidade. Seus genros eram zombadores.

As resistências espirituais são tão fortes nesse aspec­to, que necessitamos, literalmente, do auxílio dos anjos de Deus. E quando os anjos vêm para nos tirar dessa situação, acontece um grande confronto. É justamente por causa disso que a casa de Ló é repentinamente cercada. Aquelas pessoas revelam suas terríveis intenções, que desvendam a realida­de espiritual daquele território.

No seu desespero, Ló compromete e expõe as suas pró­prias filhas. Pessoas vencidas pela imoralidade estão dando de bandeja seus filhos a esses espíritos. Ele as oferece àque­las pessoas para serem abusadas. Ele se autodegrada, nesse momento. Essa foi a brecha do incesto que veio a sofrer por parte das próprias filhas.

E necessário entendermos que Deus deseja julgar esses "habitantes de Sodoma". Ele quer nos tirar das garras desses demônios de abuso sexual que nos têm escravizado desde a infância. Há um clamor diante do trono de Deus nesse sen­tido.

Os anjos estão nos dizendo agora mesmo: saia desse lu­gar! Saia dessa prisão! Sabemos que todos aqueles morado­res de Sodoma que cercaram a casa de Ló, querendo abusar sexualmente de seus hóspedes, e depois, dele mesmo, repre­sentam forças demoníacas guardiãs do cativeiro em que nos encontramos. Na verdade, quando Ló se apartou de Abraão, que personifica uma vida de obediência e uma herança ben­dita em Deus, ele acabou num dos piores cativeiros que al­guém pode cair.

O pior desse tipo de situação é que ela pode nos anular em relação ao chamado de Deus. Fico me perguntando: Por que Ló não voltou para a comunidade de Abraão? Por que escolheu Zoar? Por que ele se isolou com suas filhas? Por que ele preferiu não contar a sua vergonhosa história para ninguém? O fracasso diante dessas questões o lançaram no submundo da depressão. Essa é a consequência quando não se vence a passividade residual.
Algumas lições acerca da transgressão de Ló

1 - Discípulo ou sombra? Uma tendência ao comodismo é o maior inimigo do discípulado. A sombra pode ser um lugar tão confortável quanto frustrante. Ló teve um dos me­lhores modelos de liderança que alguém pode ter. Abraão era amigo de Deus. Porém, ao invés de se tomar um discí­pulo, preferiu ficar na sombra.

Ló não aprendeu a levantar altares. Enquanto Ló apenas pensava em se estabelecer melhor, cobiçando privilégios, Abraão pensava em trazer e manter a presença de Deus, le­vantando altares.
2 - A "Lei do desgaste". Em todo relacionamento há um desgaste natural que é facilmente compensado pela unção de Deus. Enquanto regemos nossos relacionamentos em amor, amadurecemos. Quando regemos nossos relaciona­mentos com feridas, envelhecemos e cansamos. Quando a renovação da alma é superada pelo desgaste, a tendência é começar a parar.

3 - A prosperidade, aliada ao desgaste espiritual, pode trazer um comodismo destruidor. Existe um grande perigo na prosperidade que não provém de uma vida tratada e tra­balhada por Deus. Quando a prosperidade se assenta nas feridas de uma vida espiritual gasta, instala-se um sucesso destrutivo, enganoso e efêmero. Esse tipo de sucesso produz um comodismo espiritual tão confortante quanto perigoso. É a passividade se instalando!
4  -  Quando não discernimos a diferença entre a visão de Deus e o nosso desejo vamos acabar fazendo escolhas com­prometedoras. O princípio da decisão errada é quando, ao mesmo tempo em que prosperamos, também perdemos a perspectiva de uma vida de renúncia. Começamos a cobiçar o fértil vale de Sodoma. Esse é o princípio do engano e do encantamento.

Cada vez que renunciamos algo para Deus, nossas motiva­ções são purificadas, nosso espírito é renovado e a alma é capa­citada a servir a Deus em uma nova dinâmica de discernimento e revelação. E dessa forma que andamos nas pegadas de Cristo trilhando, nas alturas, os caminhos de Deus. A renúncia como estilo de vida nos faz andar altaneiramente com o Senhor.

Quando a renúncia sai de cena, a cobiça entra, as priori­dades mudam, o coração endurece. A visão é distorcida por uma motivação que só almeja privilégios. Saímos da sim­plicidade de servir. A vontade passa a ser regida de acordo com uma perspectiva carnal. Não se iluda, de Deus não se zomba; se semeamos na carne, ceifaremos corrupção!
5 - A prosperidade sem responsabilidade espiritual con­duz à imoralidade. A Bíblia define Sodoma como sendo o território da prosperidade sem pagar o preço, da vida fácil e egoísta: "Eis que esta foi a iniqüidade de Sodoma, tua irmã: Soberba, fartura de pão, e próspera ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca fortaleceu a mão do pobre e do necessitado" (Ez. 16:49). Esse também é o território da imoralidade, onde, paulatina­mente, nos apostatamos dos valores do Reino de Deus.

Pode-se observar algo nos escândalos envolvendo líde­res genuinamente chamados e ungidos por Deus. Antes da imoralidade, vem um processo de prosperidade e flacidez espiritual. Pessoas que se deixam desgastar e seduzir pelas conveniências, em detrimento da real vontade divina.

Uma das coisas que explicam o sucesso de Abraão é quando ele deixa que Ló escolha o local para onde ele que­ria ir. Na verdade, ele não entregou a escolha para Ló, mas para o Senhor. Não negociou esse lugar de rendição. Isso o transformou no amigo de Deus.

Constata-se que o período mais perigoso na vida de um líder é entre os 40 e 50 anos. E quando há prosperidade e um desejo maior por privilégios. A pessoa já alcançou uma boa estabilidade e começa a diminuir o ritmo ministerial acentuadamente. Além disso, os pais já morreram, o relacionamen­to conjugal esfriou, a esposa está mais velha em comparação a muitas outras moças ... Isso tudo predispõe a pessoa a su­cumbir em uma cilada de adultério.

Lembre-se de que foi exatamente no tempo em que os reis saíam à guerra e Davi decidiu ficar no palácio, que ele acabou caindo em adultério com Betseba, desencadeando uma série de tragédias na sua vida e família.
6 - 0 que distingue a divisão da multiplicação no reino de Deus são as motivações. Muitas vezes pensamos que, para começar um novo projeto, precisamos apenas de uma equi­pe habilitada profissionalmente. Porém, o maior desafio de uma equipe reside no caráter. Ló tinha uma grande equipe de pastores, porém, traziam consigo uma terrível semente de insatisfação e competição.

A motivação é determinada pela inspiração. Somos res­ponsáveis pela fonte de inspiração a que nos sujeitamos. Por isso, Tiago assevera que, antes de qualquer coisa, precisamos nos sujeitar a Deus. Muitas coisas como a insatisfação, injustiças, feridas podem determinar nossas motivações, induzindo- nos a decisões independentes de Deus. A tendência é nos afastarmos da terra prometida. A obra cresce, mas o proble­ma é que está sendo edificada em um território sob juízo. De um momento para o outro, tudo pode ser destruído.
7 - Quando o governo do lar é corrompido pela insatisfa­ção da mulher, esse lar acaba se instalando em um endereço sob julgamento. Não podemos falar na transgressão de Ló sem deixar de falar na transgressão da mulher de Ló. Ela firmou sua casa e seu coração em Sodoma.

Sodoma era, talvez, o melhor lugar para se viver àquela época. A fama negativa de Sodoma só veio depois do julga­mento divino. Essa é a história de muitas esposas de líderes, missionários e pastores. Elas não se casaram com a missão dos seus maridos. Acredito que a esposa de Ló teve uma grande participação na decisão de se separarem de Abraão e irem para Sodoma. Tanto é que nem os anjos de Deus conse­guiram retirar o seu coração de lá!
8 - Invariavelmente, a imoralidade é a terra do estacio­namento espiritual e conduz à depressão. A imoralidade impõe um retrocesso crônico de paralisia e perdas. Fico ima­ginando como teria sido a descendência de Ló se ele tivesse perseverado com Abraão no seu chamado. Porém, depois de sair com Abraão para um desafio missionário, ele estacio­nou. Acomodou-se. Verticalmente pensando, tudo que para começa a cair. Aqui começam as perdas:

- Ele perde relacionamentos e cobertura espiritual. Deixa os relacionamentos se desgastarem;

- Ele perde a bênção da renúncia. Perde o entendimento acerca do direito de renunciar os direitos. Diante da postura do tio de ceder à vontade, ele consolida sua cobiça;

- Ele perde a visão. Perde a missão. Perde a unção. E o pior de tudo, perdeu a noção do perigo em que se encontra­va. O espírito de Sodoma invadiu sua família. Os moradores de Sodoma queriam arrombar a porta de sua casa;

- Perde todos os seus bens e as riquezas tão cobiçadas;

- Perde todas as pessoas que foram com ele para Sodoma. Estima-se que foram umas três mil pessoas;

- Perde a esposa e a família;


- Perde a honra. Deixa-se embebedar pelas filhas. Torna- se uma pessoa destruída, isolada e deprimida. Tinha que conviver com a face do incesto na pessoa dos netos.


Antonio Carlos Rogoski






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