sábado, 21 de janeiro de 2017

O Sábado como conceito.




Não há dúvida que, para o Antigo Testamento, o sábado era um dia da semana: "seis dias trabalharas... mas o sétimo dia é o sábado (shabbat) do Senhor". Mas, cabe perguntar, tratava-se somente de um dia da semana? Será que o sábado de Israel era só o sétimo dia de uma série de sete? O assunto fica mais interessante conforme a história avança e os desdobramentos da lei começam a surgir. Quatro textos, nesse sentido, todos no livro de Levíticos, nos ajudam a responder a questão sobre a abrangência do significado do sábado para Israel.

O primeiro legisla o seguinte: "Isto vos será por estatuto perpétuo: no sétimo mês, aos dez do mês, afligireis as vossas almas, e nenhum trabalho fareis, nem o natural, nem o estrangeiro que peregrina entre vós. Porque naquele dia se fará expiação por vós, para purificar-vos; e sereis purificados de todos os vossos pecados perante Yahweh. É um sábado de descanso para vós, e afligireis as vossas almas; isto é estatuto perpétuo" (16.29-31). A importância deste texto consiste em que apresenta o shabbat como um dia especial. Ordena que no dia 10, do mês 07, os israelitas guardem um sábado.

Para entendermos o que isso significa, precisamos compreender o funcionamento do calendário judaico. Baseado nas fases da lua, e sem deixar de levar em conta as estações do ano, divide-se em doze ou treze meses com 29 ou 30 dias. O objetivo destas variações é compensar as diferenças do calendário lunar em relação ao solar, já que o mês lunar compreende 29 dias e pouco mais de 12 horas, além de totalizar apenas 354 dias no ano. A cada período, um novo mês é acrescentado, evitando assim que os meses deixem de corresponder às estações.

Essa divisão impossibilita que um dia do ano recaia sobre o mesmo dia da semana em anos diferentes. De forma que o Yom Kipur, nome dado ao sábado especial em questão, transformou-se numa dificuldade prática para os judeus, que tomaram providências para que não caia numa sexta ou num domingo. Neste caso, a proibição de qualquer trabalho inviabilizaria a realização de tarefas de extrema necessidade, as quais não poderiam aguardar a passagem de dois dias seguidos

É claro que um estudo do calendário judaico demandaria mais informações e explicações, o que não é o nosso propósito. Vale, entretanto, reforçar que o sábado como dia especial para os judeus poderia recair sobre qualquer dia da semana, podendo ser uma segunda, uma terça ou uma quinta-feira. Assim, o sábado tornou-se mais que um dia da semana. Tornou-se um conceito.

Essa tese é reforçada por nosso segundo texto:

"E falou o SENHOR a Moisés, dizendo: Fala aos filhos de Israel, dizendo: Aos quinze dias deste mês sétimo será a festa dos tabernáculos ao SENHOR, por sete dias. Ao primeiro dia, haverá santa convocação. Nenhum trabalho servil fareis. Sete dias oferecereis ofertas queimadas ao SENHOR; ao oitavo dia tereis santa convocação. Nenhum trabalho servil fareis... Aos quinze dias do mês sétimo, quando tiverdes recolhido do fruto da terra, celebrareis a festa do SENHOR por sete dias. No primeiro dia haverá descanso, e no oitavo dia haverá descanso... E celebrareis esta festa ao SENHOR por sete dias cada ano. Estatuto perpétuo é pelas vossas gerações. No mês sétimo a celebrareis. Sete dias habitareis em tendas. Todos os naturais em Israel habitarão em tendas, para que saibam as vossas gerações que eu fiz habitar os filhos de Israel em tendas, quando os tirei da terra do Egito. Eu sou o SENHOR vosso Deus" (Levíticos 23.33-36, 39 e 41-43, com grifos meus).
Novamente, dois dias fixos do mês são definidos como dias de descanso (shabbat), nos quais não eram permitidos ao povo quaisquer trabalhos comuns. Não seriam sábados relativos à semana, mas relativos ao mês. A referência, portanto, não é ao sétimo dia, mas ao conceito denominado sábado.

O terceiro texto também merece atenção em nosso roteiro de reflexão (lembrando que, por enquanto, estamos apenas construindo os alicerces para a obra que temos em mente; o leitor, por favor, siga um pouco mais): "Falou mais o SENHOR a Moisés, no monte Sinai: Dize aos filhos de Israel: Quando tiverdes entrando na terra, que eu vos dou, então a terra descansará um sábado ao SENHOR. Seis anos semearás a tua terra, e seis anos podarás a tua vinha, e colheras os seus frutos. Porém ao sétimo ano haverá sábado de descanso para a terra, um sábado ao SENHOR; não semearás o teu campo nem podarás a tua vinha" (Levíticos 25.1-4).

Novamente o sábado de Yahweh aparece como exigência. No entanto, a beneficiária da lei do sábado é a terra e o período que tal sábado compreende é de um ano inteiro. O sábado de descanso da terra deveria ter um ano, e não um dia da semana, como o sétimo. Portanto, estamos, mais uma vez, diante do conceito de sábado e não do sétimo dia.

Como já não bastasse, o quarto texto que separamos acrescenta mais informações às que temos até agora. É, na verdade, a sequência do texto anterior: "Também contarás sete semanas de anos, sete vezes sete anos; de maneira que os dias das sete semanas de anos te serão quarenta e nove anos. Então no mês sétimo, aos dez do mês, farás passar a trombeta do jubileu. No dia da expiação fareis passar a trombeta por toda a vossa terra e santificareis o ano quinquagésimo, e apregoareis liberdade na terra a todos os seus moradores. Ano de jubileu vos será, e tornareis cada um à sua possessão e cada um a sua família" (Levíticos 25.8-10)

Embora a palavra "sábado" não apareça neste texto, o conceito está evidente: ao final de cinquenta anos, todo trabalho em relação a terra deveria ser suspenso. Seria mais um sábado de descanso para a criação. Ano de Jubileu.



Deus em pessoa - Marcelo Gomes -Espaço Palavra Publicações



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