quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Prática das virtudes cristãs




Lição prática das virtudes cristãs


A principal lição que aprendemos com a tentativa séria de praticar as virtudes cristãs é que somos falhos. Se restou alguma ideia de que Deus nos tenha submetido a uma espécie de exame e que precisamos tirar notas boas por méritos próprios, devemos apaga-las. Se ficou a ideia de que possa haver algum tipo de barganha – alguma sugestão de que nós estivéssemos em condições de por em prática a nossa parte do trato e, dessa maneira, colocar Deus em dívida conosco, como se não fosse mais do que obrigação dele, por uma simples questão de justiça, fazer a sua parte -, ela deve ser igualmente apagada.

        Acredito que uma pessoa que tem apenas uma fé vaga em Deus, enquanto não se torna um cristão de verdade, fica com a ideia de um exame ou de uma barganha na cabeça. O primeiro fruto do cristianismo verdadeiro é o fim dessa ideia. Mas, quando uns e outros veem essa ideia reduzida a frangalhos, acham que o cristianismo é um erro e desistem. Pessoas assim parecem imaginar que Deus é muito ingênuo. Na verdade, é claro que ele sabe muito bem de tudo isso. Uma das coisas mais importantes que o cristianismo foi designado a fazer foi acabar com essa ideia. Deus sempre espera a hora em que você vai descobrir que não existe essa história de tirar nota boa para passar no exame ou coloca-lo em dívida com você.

        A outra descoberta costuma ser feita logo em seguida: todas as suas faculdades mentais e emocionais, toda a sua capacidade de pensar ou de mover os membros do seu corpo, tudo isso lhe foi dado por Deus. Mesmo se você devotasse cada segundo da sua vida toda ao serviço dele, não estaria dando nada a Deus que, de certa forma, já não tenha sido sempre de sua propriedade. Vou lhe dizer o que acontece realmente sempre que dizemos que uma pessoa fez alguma coisa para Deus ou deu alguma coisa para Deus ou deu alguma coisa por ele. É como se uma criança fosse até o seu pai e pedisse: “Papai, me dá um dinheiro para eu comprar um presente de aniversário para você”. É claro que o pai o faria e se alegraria com o presente do filho. É tudo muito delicado e correto, mas só um idiota pensaria que o pai ganharia algo nessa transação.


C S Lewis – Cristianismo Puro e Simples

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