O Tesouro no Vaso de Barro
Watchman Nee
O Tesouro no Vaso de Barro
Fé Quando há
Dúvida
O que acabamos de dizer é uma
impressionante verdade sobre a fé. Inúmeras pessoas vieram a mim e contaram
seus temores e preocupações mesmo enquanto buscavam confiar no Senhor. Faziam
seus pedidos, tomavam posse das promessas de Deus e, não obstante, sempre
surgiam dúvidas inesperadas. Deixe-me dizer-lhe que o tesouro da verdadeira fé
aparece em um vaso que pode ser dolorosamente atacado pela dúvida, e o vaso de
barro, por causa da presença da dúvida, não invalida o tesouro; pelo contrário,
o tesouro nesse ambiente resplandece com uma beleza maior. Não me entenda mal:
não estou incentivando a dúvida. A dúvida é uma marca da deficiência em um
cristão, mas eu gostaria de deixar claro que o cristianismo não é só uma
questão de fé, mas da fé que triunfa na presença da dúvida.
Gosto de lembrar-me da oração da
igreja primitiva para que Pedro fosse liberto das mãos dos ímpios. Quando Pedro
voltou da prisão e bateu à porta da casa onde a igreja estava reunida em
oração, os cristãos exclamaram: “É o seu anjo!” (AT 12.15). Você vê? Havia fé
ali, a verdadeira fé, o tipo de fé que poderia trazer uma resposta de Deus; e,
não obstante, ainda havia a fraqueza do homem, e a dúvida estava bem ali perto,
por assim dizer. Porém, hoje, a fé que muitas pessoas que fazem parte do povo
de Deus declaram exercer é maior do que a exercida pelos cristãos reunidos na
casa de Maria, mãe de João Marcos. E elas têm certeza disso! Estão certas de
que Deus enviará um anjo, e que todas as portas da prisão se abrirão diante
delas. Se uma rajada de vento soprar: “Há um Pedro batendo na porta!”. Se a
chuva começar a balbuciar: “Há um Pedro batendo na porta de novo!”.
Essas pessoas são muito crédulas,
muito confiantes. Sua fé não é necessariamente um objeto genuíno. Até no
cristão mais consagrado, o vaso de barro sempre está ali, e, pelo menos para
ele, está sempre em evidência, embora o fator determinante nunca seja o vaso,
mas o tesouro dentro dele. Na vida de um cristão normal, só quando a fé aumenta
positivamente de modo a agarrar-se a Deus é que pode surgir ao mesmo tempo uma
questão quanto a se talvez ele possa estar enganado. Quando ele está mais forte
no Senhor, muitas vezes está mais consciente da sua incapacidade; quando ele
está mais corajoso, talvez esteja mais ciente do temor no íntimo; e no ponto em
que ele está mais alegre, uma sensação de angústia prontamente lhe sobrevém
novamente. Somente a excelência do poder o leva às alturas. Porém este paradoxo
é, em si, uma evidência, tanto de que há um tesouro como de que é ali que Deus
gostaria que ele estivesse.
Deveria ser um motivo de grande
gratidão a Deus o fato de que nenhuma fraqueza meramente humana precisa limitar
o poder de Deus. Somos inclinados a pensar que onde há tristeza não pode haver
alegria; que onde há lágrimas não pode haver louvor; que onde a fraqueza é
visível falta poder; que quando estamos cercados por inimigos seremos
confinados; que onde há dúvida não pode haver fé. Entretanto, deixe-me declarar
com força e com confiança que Deus está procurando levar-nos ao ponto onde tudo
que é humano só tem por objetivo prover um vaso de barro para conter o tesouro
divino. Daqui para frente, quando estivermos conscientes da depressão, que não
cedamos a essa depressão, mas nos entreguemos ao Senhor; quando a dúvida ou o
temor surgir em nosso coração, que não nos entreguemos a eles, mas ao Senhor, e
o tesouro resplandecerá ainda mais gloriosamente, por causa do vaso de barro.
(Textos estrados do livro “A
Direção de Deus Para o Homem, de Watchman Nee, Editora dos Clássicos. Julho de
2004).
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