sábado, 18 de março de 2017

Como a Bíblia pode declarar a Soberania Divina e, ao mesmo tempo, a Liberdade Humana?



Deus é o governante soberano do universo e de todos os assuntos humanos, e os seres humanos são responsáveis, perante Deus, pelas escolhas morais que fazem e pelas ações que realizam. Sim, a Bíblia ensina as duas coisas, a soberania divina e a liberdade humana, e as duas coisas são verdadeiras.


O que a Bíblia ensina sobre o governo soberano?

Consideremos Daniel 4.35, onde somos instruídos de que Deus, "segundo a sua vontade, opera com o exército do céu e os moradores da terra;não há quem possa estorvar a sua mão e lhe diga: Que fazes?" Com base neste versículo, são necessários três observações. Em primeiro lugar, o governo de Deus é o exercício da "sua vontade". Isto é, Ele decide, de antemão, o que deseja que aconteça, de modo que a sua vontade antecede e orienta tudo o que acontece. Em segundo lugar, Ele exerce a sua vontade universalmente - sobre os que estão no céu e sobre todos os habitantes da terra. Não há nenhum lugar onde a sua vontade não seja pertinente ou exercida. E, em terceiro lugar, nenhuma criatura de Deus pode frustrar o cumprimento da vontade de Dele, ou acusá-lo de injustiça. Em resumo,o governo de Deus, segundo a sua vontade, é absoluto,universal e eficaz.

Consideremos, ainda, os tipos de realidade sobre os quais Deus reina. A Bíblia contém vários textos que exibem o controle supremo de Deus sobre o bem e o mal, a luz e as trevas, a vida e a morte. Em Isaías 45.6, 7, Deus anunciou "Eu sou o Senhor, e não há outro. Eu formo a luz e crio as trevas; eu faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas essas coisas" (Ex 4.11; Dt 32.39; 1Sm 2.6, 7; Ec 7.13, 14; Lm 3. 37, 38). E, embora afirmemos alegremente que Deus é bom (apenas!), e que Deus não aprova o mal, nem o mal habita nele (Sl 5.4), ainda assim devemos afirmar, com as Escrituras, que Ele reina sobre tudo da vida, tanto sobre o seu bem como o seu mal, e que, em tudo o que acontece, "o conselho da sua vontade" (Ef 1.11) é cumprido.

O que as escrituras ensinam sobre a responsabilidade moral humana?

Desde as primeiras páginas da Bíblia, todos os seres humanos são avisados de que Deus nos considera responsáveis pelas escolhas morais que fazemos e pelas ações que realizamos. A lei de Deus - seja a simples lei de não comer o fruto de certa árvore do jardim (Gn 2.16, 17), a lei entregue no Sinai (Ex 20), ou a lei de Cristo (1 Co 9.21;Gl 6.2) -, estabelece a estrutura moral em que as vidas humanas devem ser vividas. Deus "recompensará cada um segundo as suas obras" (Rm 2.6), e este juízo se baseará no fato de que temos perseverança em fazer o bem (Rm 2.7) ou que somos desobedientes à verdade e obedientes à iniquidade (Rm 2.8). Não há como negar que Deus considera a nós, humanos, responsáveis pelas decisões que tomamos e pelas ações que realizamos, e o dia do juízo final trará o testemunho da maneira como decidimos viver a nossa vida.

Assim, Deus é o governante soberano acima de tudo, e os seres humanos são responsáveis diante dele. Mas, como as duas coisas podem ser verdadeiras?

Nós não conseguimos compreender plenamente como as duas coisas podem ser verdadeiras ao mesmo tempo, mas o fato de que elas devem funcionar juntas é exigido pelo claro ensinamento das Escrituras. Consideremos um exemplo escritural em que são vistas as duas coisas - especificamente, uma lição da história de José (Gn 37-45).

Os irmãos de José sentiam uma profunda inveja dele, e passaram a desprezá-lo. Quando se apresentou uma oportunidade, eles o venderam para o Egito (Gn 37.25-36), onde josé foi mal interpretado e maltratado. Apesar disto, a mão de Deus estava sobre José, e ele foi nomeado o segundo no comando do Egito (Gn 41). Durante um período de fome, os seus irmãos viajaram ao Egito para comprar grãos, e ali José se deu a conhecer a eles. O que José lhes disse é tão inacreditável como instrutivo: "Não fostes vós que me enviaste para cá, senão Deus" (Gn 45.8).

"Espere!", poderíamos protestar. "Certamente, eles mandaram José para o Egito!"

Sim, eles fizeram isto, e José o tinha reconhecido anteriormente (Gn45.4). Mas para compreender a plena razão por que foi mandado para o Egito, é preciso considerar não somente os irmãos, mais também, e com maior importância, Deus.

Assim, está claro: Ambos, Deus e os irmãos de José, foram responsáveis por mandá-lo para o Egito. Ambos, o governo soberano de Deus e os atos morais dos irmãos dele, estavam ativos. Como José explicou mais adiante, ao falar com seus irmãos: Vós bem intentaste mal contra mim, porém Deus o tornou bem" (Gn 50.20). Os irmãos de José agiram visando o mal, e Deus, nos mesmos eventos, visando o bem.

Nem todas as perguntas foram respondidas aqui, mas nós verificamos que devemos afirmar tanto o governo soberano de Deus, como a autenticidade da nossa responsabilidade moral. As duas coisas estão unidas nas Escrituras, e o que elas uniram, nenhum homem deve separar.

Bruce A Ware 


 

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