Por que Deus simplesmente não perdoa a todos?
Olá, Dr. Craig.
Minha pergunta diz respeito à necessidade de fé para a salvação. Em específico, se Deus é perfeitamente amoroso e a expiação dos pecados do mundo feita por Cristo é suficiente para a justificação de todos os seres humanos, como é possível que Deus requeira fé por parte do indivíduo para que ele seja salvo? Se Deus realmente tem uma vontade salvífica universal, e o sangue de Cristo tem o potencial de cobrir todos os pecados da humanidade, o que impede Deus de perdoar todos os pecados de todas as pessoas? Parece que tanto o amor quanto a justiça de Deus poderiam, ainda assim, ser satisfeitos nesse cenário: amor, pois a vontade salvífica universal de Deus está plenamente realizada; justiça, pois o sangue de Cristo faz expiação por todos os pecados da humanidade, independentemente do arrependimento individual pelos pecados e da aceitação de que tal expiação exista.
Pergunto porque, em seu debate sobre a natureza de Deus com Shabir Ally, o senhor indicou que a concepção muçulmana de Deus enxerga sua onipotência como que se sobrepusesse à sua justiça, de modo que sua justiça possa ser subvertida se assim lhe aprouver. Indicou também que, então, torna-se inexplicável por que Deus perdoa apenas os pecados de certas pessoas, a menos que ele apenas ame certas pessoas. Parece-me que, para o cristão, este dilema também é aplicável, uma vez que a expiação feita por Cristo satisfaz a justiça de Deus. Sem sua justiça prevenindo-o de perdoar pecados, torna-se inexplicável por que Deus não perdoa os pecados de todas as pessoas, a menos que ele ame apenas certas pessoas.
Obrigado.
Aidan
Canadá
Canada
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DR. CRAIG RESPONDE
Conforme explico em meu livro mais extenso sobre a expiação, agora no prelo, penso que Deus já perdoou os pecados de todos com base no pagamento substitutivo de nossa pena feito por Cristo e que, portanto, as exigências tanto de seu amor quanto de sua justiça essenciais estão satisfeitas. No entanto, como um indulto presidencial, o perdão divino deve ser livremente aceito para que se torne eficaz. As cortes americanas determinaram que um indulto não pode ser forçado sobre o criminoso; ele deve aceitá-lo para que tenha efeito. O presidente “não pode, sob a lei existente, tornar eficaz o indulto pleno sem o consentimento do prisioneiro. Este deve estar disposto a receber e aceitar o indulto pleno antes que ele seja posto em vigor”.[1] É por isso que, antes de seu indulto a Richard Nixon, o presidente Ford enviou um emissário secreto até Nixon para se assegurar de que ele estava disposto a aceitar tanto o indulto quanto a culpa nele subentendida. Nixon disse que estava disposto. Caso Ford tivesse declarado o indulto e Nixon o tivesse rejeitado porque queria esperar por seu julgamento na corte, o indulto teria sido nulo.
O correspondente teológico desta situação diz respeito ao indulto divino e sua aceitação para ser eficaz. Dado meu compromisso com a liberdade humana da vontade, penso que deve ser aceito. Obviamente, Deus não fica restrito a alguma lei superior, mas à liberdade humana. Teólogos diferem neste ponto: a graça de Deus é intrinsecamente eficaz e, portanto, irresistível por parte daquele sobre o qual ela é outorgada; ou a graça é extrinsecamente eficaz e, portanto, requer o livre consentimento da vontade da criatura para produzir seu efeito. Adoto a segunda visão. Deus nos trata como agentes morais judiciosos que fazem escolhas morais livres. Ele violaria sua própria justiça essencial caso nos forçasse a um indulto.
Como é Cristo, e não nós, quem cumpriu a sentença por nossos pecados, nossa redenção não se conclui a menos e até que livremente recebamos o indulto de Deus. Em contraste com o criminoso que recebeu o indulto após servir plenamente sua sentença, nós permanecemos em nosso estado de condenação judicial até que aceitemos o indulto a nós oferecido por Deus. Se alguém recusa o indulto oferecido por Deus, o sacrifício de Cristo de nada lhe serve, pois rejeitou a satisfação da justiça de Deus efetuada por Cristo. Assim, “os que recebem da transbordante suficiência da graça e da dádiva da justiça reinarão muito mais em vida por meio de um só, Jesus Cristo” (Romanos 5.17).
Em comparação, segundo a visão muçulmana, a onipotência divina se sobrepõe à justiça divina. Ele pode tratar os seres humanos não como agentes morais judiciosos cujas escolhas ele respeita, mas como meros fantoches a serem por ele manipulados. Aqui, mais uma vez, vemos a superioridade teológica da concepção cristã de Deus em relação ao entendimento muçulmano.
[1] W. H. Humbert, The Pardoning Power of the President, com prefácio de W. W. Willoughby (Washington, D.C.: American Council on Public Affairs, 1941), p. 135.
- William Lane Craig
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