PROPENÇÕES E IMPULSOS
Quando discutimos
a estrutura perceptiva, observamos que as sensações eram sempre “carregadas” de
certas sensações positivas ou negativas ou “matizadas” por elas. Moléculas de
açúcar estimulam as papilas gustativas, que passam a enviar impulsos para o “centro
de paladar” no cérebro. Ali, o “gosto” surge: é apercepção consciente do
estimulo. Mas essa percepção de gosto envolve ao mesmo tempo uma avaliação
sensitiva, pois a maioria das pessoas avalia essa doçura como “gostosa”,
enquanto outros sabores são percebidos como de gosto “ruim”. Essa avaliação
sensitiva tem um uso pratico muito importante: por exemplo, quando percebemos o
cheiro de algo queimando, ouvimos gritos e correria, vemos sangue ou sentimos dor,
ou mesmo quando comemos algo cujo gosto estranhamos, ficamos imediatamente
alarmados. Esses são estímulos que, para nós, provoca uma sensação negativa.
Dessa maneira, em
todos esses casos, o nosso senso de alarma é uma reação aprendida. É um reflexo
condicional com base em uma reação sensitiva a estímulos. No entanto, podemos
colocar o problema de outra forma: todas as nossas sensações são aprendidas ou
também existem emoções completamente inatas. Existe, por exemplo, um grande
número de experiências e discussões sobre a existência de um instinto,
“instinto maternal”. É plausível que aquilo que é chamado de “instinto
maternal” também seja algo baseado em um comportamento aprendido, o que
significa que as mães só podem dar “amor” se também o tiverem recebido quando
criança. Em nosso mundo ocidental “civilizado”, centenas de milhares de
crianças foram abusadas pelas mães a cada ano. Parece que muitas dessas mães foram
carentes de uma relação amorosa na infância e talvez tenham sido abusadas
também. Dessa forma, mesmo o amor, em grande medida, é algo que tem q ser
aprendido.
As disposições não
pertencem à estrutura sensível, mas à estrutura espiritiva. E, ao mesmo tempo,
devem estar sob orientação de uma vida espiritiva. O cristão, em particular
deveria ser capaz de entender que é responsável por tudo o que acontece em sua
vida sentimental. E, assim, ser-lhe-ia proveitoso ser mais vigilante contra
todos os tipos de emoções negativas e irracionais, as quais poderiam ser também
chamadas de “preconceitos”: por exemplo, contra negros contra muçulmanos,
contra homens de cabelo comprido. Alguns cristãos ficam satisfeitos em atribuis
tais sensações a um tipo de “intuição espiritual”; por exemplo, afirmando serem
capazes de “sentir “ que determinados artistas não são bons. A verdade da
questão é que essa suposta “intuição” fundamenta-se de fato em emoções
negativas aprendidas e completamente sem fundamento. E, dessa forma, nossa vida
espiritual também tem o seu lado ético, como já vimos. Sob a orientação de um coração
voltado para Deus e seus mandamentos, aprendemos que também somos capazes de
julgar nossas emoções criticamente e, se necessário, condená-las. Da mesma
forma, sob a orientação do coração, também aprendemos a julgar criticamente
nossas emoções positivas – se forem boas – e promovê-las.
Quanto aos
impulsos ou “tendências”, se quisermos, o que foi dito sobre as afeições também
se aplica a eles. À medida que se inserem na estrutura sensível, deveriam estar
sob a orientação da estrutura espiritiva. Tanto os homens quanto os animais têm,
de fato, uma noção de estrutura e, portanto, também possuem necessidades ou
impulsos (desejos, anseios, inclinações), que os “guiam” e antecedem um juízo
sóbrio. Mas a diferença reside no fato de que, no caso dos seres humanos, esses
“impulsos” estão, por assim dizer, “incorporados” em nossas deliberações e
decisões espiritivas. Essa é a razão por que o homem também é responsável por
aquilo que faz com os próprios impulsos. Os impulsos mais importantes são a fome,
a sede e o desejo sexual. É muito difícil determinar exatamente quantos
impulsos existem e se podemos falar de impulsos separadamente em vez de
variantes de um mesmo impulso. Não há necessidade de nos alongarmos com essas
questões por enquanto.
No entanto, por mais
que nossos impulsos pareçam de tipo animal, a forma como lidamos com eles, como
mencionado, é espiritiva e, portanto, completamente humana –ou, de qualquer
maneira, deveria ser espiritiva. Possuímos, naturalmente, um forte desejo de
ratificar nossos impulsos, mas também pode ser muito prazeroso aumentarmos
esses impulsos. E dessa forma (espiritualmente!) Buscarmos diversas maneiras
para aumentar o nosso apetite, mesmo o comportamento sexual não visa a
satisfação imediata do desejo sexual pois isso faria com que agíssemos
exatamente como animais. Em vez disso, o homem procura, antes de mais nada,
aumentar os estímulos sexuais (estimulação sexual). Ele não procura em primeiro
lugar, a gratificação. Por causa de sua estrutura espiritiva, o homem tem a
capacidade de aumentar e refinar o prazer de gratificação reforçando esses
estímulos internos antes de satisfaze-los. E, por essa razão, sabemos algo
muito marcante, ou seja, a sexualidade no homem não é apenas –ou principalmente-
uma função biológica, e sim algo planejado por Deus para ser a expressão do
amor conjugal entre o marido e a esposa. É por isso que é possível, por
exemplo, para um marido abster-se de relações sexuais com a esposa se ela
estiver invalida ou doente, enquanto ele se dedica a cuidar dela. Ou, para
darmos outro exemplo, abster-se completamente do sexo e permanecer solteiro
para se tornar um missionário. No homem, portanto, os impulsos estão em um
plano infinitamente mais elevado do que no caso dos animais, porque esses
impulsos estão incorporados à vida espiritiva do homem. E o que é especialmente
importante de se notar é que os impulsos dos humanos estão sob a orientação do
coração, que serve a Deus ou a um ídolo.
Coração e Alma - uma perspectiva cristã da psicologia.
Willem Ouweneel