O dever terrível
UMA DAS virtudes menos populares foi estabelecida com a regra cristã: "Ame o próximo como a si mesmo". Uma vez que na moral cristã "próximo" inclui o "inimigo", nos deparamos com esse terrível dever de amar nosso inimigo.
Todo mundo diz que perdão é uma idéia adorável, até que tenha alguma coisa para perdoar, como nós tivemos (como soldados) durante a guerra. Ou, só para tocar nos assuntos de passagem, até ter sido recebidos com gritos de ódio. Não que as pessoas achem essa uma virtude sublime e difícil demais de atingir; elas a consideram odiosa e desprezível. "Esse tipo de papo as deixa doentes", dizem. E aposto que você está louco para me perguntar:"Gostaria de saber como se sentiria com a idéia de perdoar a Gestapo se fosse um judeu ou polonês".
Eu também estou ansioso por isso. Eu me questiono muito sobre isso. Da mesma forma que eu me espanto quando o cristianismo me diz que não devo negar a minha religião, nem mesmo para escapar da morte sob tortura, pergunto-me muito o que faria se a coisa chegasse a esse ponto. Este livro não foi escrito para lhe contar o que eu posso fazer quanto a isso - há bem pouca coisa que eu possa fazer. O que eu estou tentando é falar-lhe a respeito do cristianismo. Nem mesmo fui eu quem o inventou. E ali, bem no meio dele, eu encontro: "E perdoe os nossos pecados, assim como nós perdoamos aqueles que pecaram contra nós". Isso não dá margem a pensar que o perdão possa ser-nos oferecido sob qualquer outra condição.
De Mere Christianity (Cristianismo Puro e Simples)
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