sábado, 29 de julho de 2017

O que dizer sobre aqueles que nunca ouviram falar a respeito de Cristo?






A convicção de que a salvação está disponível apenas por intermédio de Cristo permeia o novo Testamento (Por exemplo, At 4.12; Ef 2.12). Isto suscita a perturbadora questão do destino dos que nunca ouviram o Evangelho.

Qual é, exatamente o problema aqui? O universalista alega que as seguintes declarações são logicamente inconsistentes:

1.      Deus é todo-poderoso e todo-amoroso.

2.    Algumas pessoas nunca ouviram o Evangelho e estão perdidas.

Mas por que pensar que as afirmações 1 e 2 são logicamente incompatíveis? Não existe nenhuma contradição explícita entre elas. Se o universalista está afirmando que elas são implicitamente contraditórias, deve estar supondo algumas premissas ocultas que criaram esta contradição.

Embora os universalistas não apresentam suas suposições ocultas, a lógica do problema sugeriria algo semelhante a estes pontos:

3.    Se Deus é todo-poderoso,Ele pode criar um mundo em que todos ouçam o Evangelho e sejam salvos livremente.
 

4.    Se Deus é todo-amoroso, Ele prefere um mundo em que todos ouçam o evangelho e sejam salvos livremente.

Mas estas premissas são necessariamente verdadeiras?

Considere a afirmativa 3. Parece inquestionável que Deus pudesse criar um mundo em que todos ouvissem o evangelho. Mas enquanto as pessoas forem livres, não existirá nenhuma garantia de que todas as pessoas de tal mundo seriam salvas livremente. Na verdade, não existe nenhuma razão para imaginar que o equilíbrio entre salvos e perdidos em tal mundo seria melhor do que é o equilíbrio no mundo em que vivemos. Portanto, a afirmativa não é necessariamente verdadeira, e o argumento do universalista é falso.

        Mas e a afirmativa 4? É necessariamente verdadeira? Suponhamos, para fins de raciocínio, que haja mundos possíveis que são realizáveis para Deus, em que todos ouvem o Evangelho e o aceitam livremente. O fato de que o Senhor é todo-amoroso o obriga a preferir um desses mundos a um mundo em que algumas pessoas são perdidas? Não necessariamente, pois estes mundos podem ter outras deficiências pedominantes que os tornem menos preferíveis. Por exemplo, suponhamos que os únicos mundos em que as pessoas acreditem livremente no Evangelho e são salvas são mundos em que há apenas um número pequeno de pessoas. Deus deve preferir um desses mundos tão pouco povoados a um mundo em que multidões crêem no Evangelho e são salvas, ainda que outras pessoas rejeitem livremente a sua graça e se percam? Não. Assim, a segunda suposição do universalista não é, necessariamente, verdadeira, de modo que o seu argumento é duplamente inválido.

Como um Deus amoroso, Deus deseja que tantas pessoas quantas seja possível sejam salvas livremente, e tão poucas quantas possível se percam.O seu objetivo, então, é conseguir um equilíbrio ótimo entre estas condições, permitindo que haja um número de perdidos não maior do que o necessário para alcançar determinado número de salvos. É possível que, pra criar este número de pessoas que serão salvas livremente, Deus também tivesse que criar este número de pessoas que serão livremente perdidas.

Haverá objeções de que um Deus todo-amoroso não criaria pessoas que Ele soubesse que seriam perdidas, mas que todas teriam sido salvas, se apenas tivessem ouvido o evangelho. Mas como sabemos que existem tais pessoas? É razoável supor que muitas pessoas que jamais ouviram o Evangelho não teriam crido no evangelho se o tivessem ouvido. Suponhamos, então, que deus tivesse ordenado o mundo de maneira que todas as pessoas que nunca ouviram o evangelho fossem exatamente essas pessoas. Neste caso, quem quer que nunca tivesse ouvido o Evangelho e fosse perdido teria rejeitado o evangelho e teria perdido, ainda que o tivesse ouvido. Assim, o ponto seguinte é possível:

5.    Deus criou um mundo que tem um equilibro ótimo entre salvos e perdidos, e os que nunca ouviram o Evangelho e estão perdidos nunca teriam crido nele, ainda que o tivessem ouvido.

Enquanto a argumentação 5 for possivelmente verdadeira, ela mostra que não existe nenhuma incompatibilidade entre um Deus todo-poderoso e todo-amoroso, e o fato de que algumas pessoas nunca ouviram o Evangelho e se perderam.



Willian Lane Craig



quarta-feira, 26 de julho de 2017

sábado, 22 de julho de 2017

A Verdade e a Bíblia XI - Teste Bibliográfico





O teste bibliográfico é um exame da transmissão textual que permite que os documentos cheguem até nós. Em outras palavras, como não temos os documentos originais, até que ponto são confiáveis as cópias que possuímos em relação ao número de manuscritos (MSS) e o intervalo de tempo entre o original e a cópia existente?


Podemos apreciar a enorme riqueza de autoridade dos manuscritos do Novo Testamento, comparando-a com o material textual de outras fontes antigas importantes.

A história de Tucídides (460-400 a.C.) pode ser encontrada em oito MSS datados de cerca de 900 A.D., quase 1300 anos depois de ele ter escrito. Os MSS da história de Heródoto são igualmente tardios e escassos; e até agora, como conclui F. F. Bruce: "Nenhum erudito clássico daria atenção a um argumento afirmando que a autenticidade de Heródoto ou de Tucídides é duvidosa porque os primeiros manuscritos de suas obras utilizados por nós tem mais de 1300 anos que os originais".

Aristóteles escreveu seus poemas cerca de 343 a. C., todavia, a primeira cópia que temos é datada de 1100 A. D., um intervalo de quase 1400 anos, e só existem cinco MSS.


César compôs sua história das Guerras Gálicas entre 58 e 50 a. C., e a autoridade do manuscrito repousa em nove ou dez cópias datadas de mil anos após sua morte.


Quando se trata de autoridade dos manuscritos do Novo Testamento, a fartura de material é quase embaraçosa. Depois de os primeiros manuscritos em papiro terem sido descobertos, os quais preenchiam a brecha entre os dias de Cristo e o segundo século, surgiram muitos outros MSS. Mais de 20.000 cópias dos MSS do Novo Testamento existem hoje. A Ilíada possui 643 MSS e está em segundo lugar na questão de autoridade depois do Novo Testamento. Sir Frederic Kenyon, que foi diretor e bibliotecário-chefe do Museu Britânico, uma autoridade ímpar em suas declarações sobre manuscritos, conclui: "O intervalo entre as datas da composição original e a primeira evidência existente se torna tão pequeno a ponto de ser realmente desprezível, e o último fundamento para qualquer dúvida sobre as Escrituras terem chegado até nós substancialmente como foram escritas foi agora removido. Tanto a autenticidade como a integridade geral dos livros do Novo Testamento podem ser consideradas como finalmente estabelecidas".

O erudito do Novo Testamento Grego, J. Harold Greenlee, acrescenta: "Desde que os estudiosos aceitam como geralmente dignos de crédito os escritos dos clássicos antigos, apesar de os primeiros MSS terem sido escritos tanto tempo depois dos originais e o número de MSS existentes ser em muitos casos bem pequeno, fica claro que a credibilidade do teste do Novo Testamento está igualmente assegurada".

A aplicação do teste bibliográfico ao Novo Testamento nos assegura que ele possui mais autoridade de manuscrito do que qualquer peça de literatura antiga. Somando a essa autoridade os mais de cem anos de crítica textual (comparação de manuscritos para determinar qual leitura de uma passagem específica é a mais provavelmente correta) intensiva do Novo Testamento, pode-se concluir que um texto autêntico do Novo Testamento foi estabelecido.


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sábado, 15 de julho de 2017

A Verdade e a Bíblia X - Crítica de Forma



Os críticos de forma atuais dizem que o material foi transmitido oralmente até ser escrito na forma dos evangelhos, e concluíram que esses relatos tomaram a forma de literatura popular (lendas, fábulas, mitos e parábolas). Uma das principais objeções contra a ideia dos críticos de forma sobre o desenvolvimento da tradição oral é que o período da tradição oral (como definido por eles) não seria suficiente para ter permitido as alterações na tradição que esses críticos supuseram.

A. H. McNeile, ex-professor régio de Teologia na Universidade de Dublin, desafia o conceito da tradição oral dos críticos de forma.Ele salienta que esses críticos não tratam com a tradição das palavras de Jesus tão perto quanto deveriam. Na religião judaica, era costume que o estudante decorasse os ensinamentos do rabi. Um bom aluno era como "uma cisterna bem feita que não deixa vazar uma gota sequer" (Mishna, Aboth, ii, 8). Um exame minucioso de 1Coríntios 7.10, 12, 25 mostra cuidadosa preservação e a existência de uma tradição genuína do registro dessas palavras. Se confiarmos na teoria de C. F. Burny (na obra The Poetry of our Lord (A Poesia do Senhor) 1925), poderemos supor que muitos dos ensinos do Senhor estão em aramaico poético, facilitando a memorização.

Ao analisar a crítica de forma, Willian Albright escreveu: "Só os eruditos modernos que não possuem método nem perspectiva histórica podem fabricar tal rede de especulação como a que os críticos da forma usaram para cercar a tradição do evangelho". A conclusão pessoal de Albright era que "um período de vinte a cinquenta anos é muito pequeno para permitir qualquer corrupção apreciável do conteúdo essencial e até das palavras específicas dos pronunciamentos de Jesus".

A credibilidade histórica das escrituras deve ser testada pelos mesmos critérios com que se testam todos os documentos históricos. O historiador militar C. Sanders lista e explica os três princípios básicos de historiografia, ou seja: teste bibliográfico, teste da evidência interna e teste da evidência externa.



sábado, 8 de julho de 2017

A verdade e Bíblia IX - Evidência para a Credibilidade Histórica da Bíblia



O Novo testamento é a principal fonte histórica de informação sobre Jesus. Em vista disto, muitos críticos durante os séculos XIX e XX atacaram a credibilidade dos documentos bíblicos. Parece haver uma barreira constante de acusações sem nenhuma base histórica ou que se acha agora superada pelas descobertas e pesquisas arqueológicas.

Grande parte das críticas sobre os registros relativos a Jesus tem como origem as conclusões do crítico alemão F. C Baur. Baur que supôs que a maioria das Escrituras do Novo Testamento não foi escrita até o segundo século A.D. Ele Concluiu que esses escritos apoiavam-se basicamente em mitos ou lendas desenvolvidos durante o longo espaço de tempo entre a vida de Jesus e a época em que os relatos foram consignados ao papel (1212). No século XX, porém, descobertas arqueológicas confirmaram a exatidão dos manuscritos do Novo Testamento. A descoberta de manuscritos primitivos em papiro (manuscrito de John Ryland, 130 A.D.; Papiros Chester Beatty e papiros Bodmer, 200 A.D.) preencheu a brecha entre os dias de Cristo e os manuscritos existentes de uma data posterior. Millar Burrows, de Yale, diz: "Outro resultado de comparar o grego do Novo Testamento com a linguagem dos papiros (descobertos) foi o aumento da confiança na transmissão exata do texto do Novo testamento". Descobertas como essa aumentaram a confiança dos eruditos na credibilidade da Bíblia.

William Albright, o maior arqueólogo bíblico do mundo, escreve: "Já podemos afirmar enfaticamente que não existe mais base sólida para datar nenhum livro do Novo Testamento depois de 80 A.D., duas gerações completas antes da data entre 130 e 150 A.D. estabelecido pelos críticos mais radicais do Novo Testamento hoje". Ele reiterou este ponto de vista numa entrevista para a Cristianity Today. "Em minha opinião, cada livro do Novo Testamento foi escrito por um judeu batizado entre os anos 40 e 80 do primeiro século A.D. (muito provavelmente em algum período entre 50 e 75 A.D.).

Sir William Ramsay é considerado um dos maiores arqueólogos que já viveram. Era aluno de uma escola histórica alemã que ensinava que o livro de Atos foi produto de meados do segundo século A.D., e não do primeiro como pretende ser. Depois de ler as críticas modernas sobre o livro de Atos, ficou convencido de que não era um relato fidedigno dos fatos daquela época (50 A.D.) e, portanto, não merecia a consideração de um historiador. Em sua pesquisa da História da Ásia Menor, Ramsay deu portanto pouca atenção ao Novo Testamento. Sua investigação, porém, o compeliu eventualmente a considerar os escritos de Lucas. Ao observar a exatidão minuciosa dos detalhes históricos, sua atitude em relação ao livro de Atos começou a mudar gradualmente. Viu-se forçado a concluir que "Lucas é um historiador de primeira classe... este autor deve ser colocado no mesmo nível que os maiores historiadores". Levando em conta a exatidão dos menores detalhes, Ramsay finalmente admitiu que Atos não podia ser um documento do segundo século, mas na verdade era um relato de meados do primeiro século.

Muitos dos eruditos liberais estão sendo compelidos a considerar datas mais antigas para o Novo Testamento. As conclusões do Dr. John A. T. Robinson em seu livro Redating the New Testament (Redatando o Novo Testamento) são surpreendentemente radicais. Sua pesquisa o levou à convicção de que todo o Novo Testamento foi escrito antes da queda de Jerusalém em 70 A.D.




sábado, 1 de julho de 2017

A verdade e a Bíblia VIII



O Corpo foi Roubado? Outra teoria afirma que o corpo foi roubado pelos discípulos enquanto os guardas dormiam (MT 28.1-5). A depressão e a covardia dos discípulos ofereceram um argumento forte contra a ideia deles se tornarem corajosos e ousados a ponto de enfrentarem um destacamento de soldados junto ao túmulo e roubaram o corpo. Eles não estavam com disposição para tentar algo assim - supondo, além disso, que os discípulos fossem capazes de transportar uma pedra de duas toneladas morro cima sem acordar os guardas!

I.N.D. Anderson, ex reitor da faculdade de direito da Universidade de Londres, comentou sobre a opinião de que os discípulos roubaram o corpo de Cristo. "Isto seria totalmente contrário a tudo o que sabemos deles: seu ensino ético, sua qualidade de vida, sua perseverança no sofrimento e perseguição. Isso também não explicaria sua dramática mudança de escapistas abatidos e desanimados em testemunhas que oposição alguma podia amordaçar".

A teoria de que autoridades judaicas ou romanas removeram o corpo de Cristo não é uma explicação mais satisfatória para o túmulo vazio do que o roubo por parte dos discípulos. Se as autoridades ficaram com o corpo ou sabiam onde ele estava, por que não revelaram isso quando os discípulos estavam pregando a ressurreição em Jerusalém? Se estavam de posse do corpo, por que não explicaram exatamente onde ele  se achava? Por que não recobraram o cadáver, colocaram num carro e o fizeram rodar pelo centro de Jerusalém? O dr. John Warwick Montgomery comentou sobre essa possibilidade: "A ideia de que os primeiros cristãos poderiam ter inventado e espalhado tal história entre aqueles que tinham condições de refutá-la simplesmente apresentando o corpo de Jesus ultrapassa os limites da credibilidade". Tal atitude teria certamente destruído o cristianismo.