A
convicção de que a salvação está disponível apenas por intermédio de Cristo
permeia o novo Testamento (Por exemplo, At 4.12; Ef 2.12). Isto suscita a
perturbadora questão do destino dos que nunca ouviram o Evangelho.
Qual
é, exatamente o problema aqui? O universalista alega que as seguintes declarações
são logicamente inconsistentes:
1.
Deus é todo-poderoso e todo-amoroso.
2. Algumas
pessoas nunca ouviram o Evangelho e estão perdidas.
Mas
por que pensar que as afirmações 1 e 2 são logicamente incompatíveis? Não
existe nenhuma contradição explícita entre elas. Se o universalista está
afirmando que elas são implicitamente contraditórias, deve estar supondo
algumas premissas ocultas que criaram esta contradição.
Embora
os universalistas não apresentam suas suposições ocultas, a lógica do problema
sugeriria algo semelhante a estes pontos:
3. Se Deus é
todo-poderoso,Ele pode criar um mundo em que todos ouçam o Evangelho e sejam
salvos livremente.
4. Se Deus é
todo-amoroso, Ele prefere um mundo em que todos ouçam o evangelho e sejam
salvos livremente.
Mas
estas premissas são necessariamente verdadeiras?
Considere
a afirmativa 3. Parece inquestionável que Deus pudesse criar um mundo em que
todos ouvissem o evangelho. Mas enquanto as pessoas forem livres, não existirá
nenhuma garantia de que todas as pessoas de tal mundo seriam salvas livremente.
Na verdade, não existe nenhuma razão para imaginar que o equilíbrio entre
salvos e perdidos em tal mundo seria melhor do que é o equilíbrio no mundo em
que vivemos. Portanto, a afirmativa não é necessariamente verdadeira, e o
argumento do universalista é falso.
Mas e a afirmativa 4? É necessariamente
verdadeira? Suponhamos, para fins de raciocínio, que haja mundos possíveis que
são realizáveis para Deus, em que todos ouvem o Evangelho e o aceitam
livremente. O fato de que o Senhor é todo-amoroso o obriga a preferir um desses
mundos a um mundo em que algumas pessoas são perdidas? Não necessariamente, pois
estes mundos podem ter outras deficiências pedominantes que os tornem menos
preferíveis. Por exemplo, suponhamos que os únicos mundos em que as pessoas
acreditem livremente no Evangelho e são salvas são mundos em que há apenas um número
pequeno de pessoas. Deus deve preferir um desses mundos tão pouco povoados a um
mundo em que multidões crêem no Evangelho e são salvas, ainda que outras
pessoas rejeitem livremente a sua graça e se percam? Não. Assim, a segunda
suposição do universalista não é, necessariamente, verdadeira, de modo que o
seu argumento é duplamente inválido.
Como
um Deus amoroso, Deus deseja que tantas pessoas quantas seja possível sejam
salvas livremente, e tão poucas quantas possível se percam.O seu objetivo, então,
é conseguir um equilíbrio ótimo entre estas condições, permitindo que haja um número
de perdidos não maior do que o necessário para alcançar determinado número de
salvos. É possível que, pra criar este número de pessoas que serão salvas
livremente, Deus também tivesse que criar este número de pessoas que serão
livremente perdidas.
Haverá
objeções de que um Deus todo-amoroso não criaria pessoas que Ele soubesse que
seriam perdidas, mas que todas teriam sido salvas, se apenas tivessem ouvido o
evangelho. Mas como sabemos que existem tais pessoas? É razoável supor que
muitas pessoas que jamais ouviram o Evangelho não teriam crido no evangelho se
o tivessem ouvido. Suponhamos, então, que deus tivesse ordenado o mundo de
maneira que todas as pessoas que nunca ouviram o evangelho fossem exatamente
essas pessoas. Neste caso, quem quer que nunca tivesse ouvido o Evangelho e
fosse perdido teria rejeitado o evangelho e teria perdido, ainda que o tivesse
ouvido. Assim, o ponto seguinte é possível:
5. Deus criou
um mundo que tem um equilibro ótimo entre salvos e perdidos, e os que nunca
ouviram o Evangelho e estão perdidos nunca teriam crido nele, ainda que o
tivessem ouvido.
Enquanto
a argumentação 5 for possivelmente verdadeira, ela mostra que não existe
nenhuma incompatibilidade entre um Deus todo-poderoso e todo-amoroso, e o fato
de que algumas pessoas nunca ouviram o Evangelho e se perderam.
Willian Lane Craig