A
psicologia é Bíblica?
John
Coe
A resposta é sim, e não,
dependendo de quatro maneiras diferentes de interpretar esta controversa
pergunta. Mas antes de examinar estas quatro formas, vamos considerar as
definições da palavra psicologia.
Definições: (1) Como tarefa, a psicologia tem a ver com a
observação e a reflexão sobre as pessoas e suas complexas situações, com o
propósito de entender a natureza humana e os seus componentes, crescimento,
disfunção e sabedoria para viver; (2) Como um produto, a psicologia é o conjunto sistemático de informações que
resultam de uma mente envolvida no entendimento da natureza humana, mudanças,
etc. (por exemplo, a psicologia de Freud); (3) Como uma intervenção, a psicologia, ou psicoterapia, é o relacionamento
entre o terapeuta e pessoas, que consiste de ouvir com empatia, entender,
cuidar com afeto e, quando apropriado, interpretar verbalmente as disfunções,
para auxiliar relacionamentos saudáveis, consciência, sabedoria e crescimento.
1. Há uma psicologia contida na Bíblia?
Interpretando a nossa pergunta original com este sentido, a resposta é,
claramente, sim. Durante séculos, os teólogos falaram sobre antropologia do
Antigo Testamento, a psicologia do Antigo testamento, a psicologia do novo
Testamento, a psicologia de Paulo, etc. Os autores bíblicos, sob a inspiração
do Espírito Santo, apresentam inúmeras observações e reflexões sobre a natureza
da alma humana (Gn 2.7; Lv 24.17), o espírito (Is 29.24), o corpo (Is 31.3), a
mente (Fp 2.3), o coração (Sl 90.12), a disfunção (Tg 1.8), o progresso (Ef
3.16-19), o processo de mudança (Rm 12.1, 2), e a sabedoria para viver, como
apresenta o livro de Provérbios. Está claro que Deus, sendo o Criador da
humanidade, tem uma psicologia abrangente e sistemática, e transmitiu muitas
destas noções cruciais por intermédio das reflexões dos autores bíblicos
inspirados.
2.
As psicologias são formadas separadamente
da Bíblia Sagrada e das doutrinas bíblicas? Obviamente, as
reflexões de Sigmund Freud e Carl Rogers não são bíblicas, no sentido de que as
noções não estão incluídas na Bíblia. No entanto, se as suas teorias bíblicas,
no sentido de serem consistenes com a Bíblia ou de estarem refletidas nela, é
uma questão mais complexa. Por exemplo, podemos encontrar correlações entre a
visão de Freud do “inconsciente” e da “repressão”, e a noção bíblica do
“coração oculto” que insiste que sempre há mais nas profundezas de uma pessoa
do que na superfície (Pv 14. 13), frequentemente devido à natureza enganadora
do coração (Jr 17.9; Rm 1.18). Embora Freud tivesse algumas coisas sensatas e
verdadeiras a dizer sobre a natureza dos motivos ocultos do coração, está claro
que a sua visão materialista do “inconsciente” e a sua explicação casualmente
determinista do funcionamento da mente não são bíblicas. Assim, as psicologias
baseadas em observações e reflexões exteriores à Bíblia são uma mistura de
ideias que devem ser criticadas uma a uma.
O benefício da investigação destas psicologias
extrabíblicas é duplo: (1) Elas podem fornecer exemplos concretos para verdades
bíblicas; (2) Elas podem auxiliar a elucidar elementos que os autores bíblicos
expuseram apenas superficialmente (por exemplo, vícios e ira).
3. É
bíblico envolver-se na tarefa da psicologia, que envolve não somente a Bíblia,
mas também a observação e a reflexão extrabíblicas? Os
cristãos contemporâneas não chegaram a um consenso sobre isto. Alguns adeptos
da posição de aconselhamento bíblico negam qualquer autorização bíblica para
isto, ao passo que alguns integracionistas afirmam que existe um precedente
bíblico para esta tarefa de fazer psicologia.
Os autores do livro de Provérbios eram homens
sábios do Antigo Testamento, que tinham a única função de instruir Israel a
viver bem em todas as áreas da vida, submissos a Deus, com base na sua
sabedoria e experiência (Pv 1.1-6, 8, 9; 4.1; 6.20). A essência desta
sabedoria envolve ter um relacionamento correto com Deus (PV 1.7), que é a
fonte suprema de toda a sabedoria (Pv 2.6) e revelação, que é essencial para a
saúde mental de um povo (Pv 29.18). Todavia, os homens sábios também insistiram
que há uma importante fonte extrabíblica de sabedoria para viver, discernível
pela observação e reflexão sobre o mundo natural (Pv 6.6, 30.24-28) e
especialmente sobre as pessoas e suas complexas situações (Pv 24-30-34). Deus
criou o mundo através da sua sabedoria (Pv 3.19-20), de modo que esta sabedoria
está gravada na criação como a ordem natural das coisas (Pv 8.22-31). Pela
observação destas leis da sabedoria, na natureza e na vida humana, é possível
descobrir um conjunto de sábios princípios para semear e colher, de modo a
evitar a tolice e viver uma vida boa, em submissão a Deus, e de acordo com a
maneira criada da natureza humana (Pv 8.32-36).
Consequentemente, os sábios do Antigo
Testamento fornecem precedentes bíblicos e justificativas para a ciência da
psicologia. No caso dos provérbios bíblicos, Deus operou por meio das
experiências dos sábios, para produzir observações inspiradas e princípios para
a vida. Enquanto a sabedoria reunida nas Escrituras tem sanção e autoridade
divinas, a obra continuada da igreja na psicologia está sujeita ao
escrutínio das Escrituras, raciocínio e observação. Embora os incrédulos
possam descobrir a sabedoria para a vida por meio da psicologia, somente o
crente pode conhecer estes princípios e viver de acordo com eles, como é
necessário no relacionamento com Deus.
4. A
psicoterapia é bíblica? Certamente, a intervenção da psicoterapia é bíblica, no
sentido de que as escrituras encorajam a empatia, o entendimento sincero, e
relacionamentos de carinho e interesse entre as pessoas. Isto é evidenciado na
admoestação a respeito de “seguir a verdade em amor” (Ef 4.15, versão RA), nas
instruções “uns aos outros” (Ef 4.32; Cl 3.12-14; 1 Ts 5.11,14), nos dons da
igreja (Rm 12.4-8) e nas reflexões e conselhos para uma vida sábia, encontrados
no livro de Provérbios (4.1-5). Contudo, o conteúdo daquilo que a
psicoterapia transmite, como uma sabedoria, deve ser avaliado pelas
Escrituras (Pv 21.30), pela verdade (Pv 8.7) e pela sua apropriação à
situação (Pv 25.11).
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