sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Eu Sei



"Eu sei em quem tenho crido" (II Timóteo 1:12).

Frase de Paulo. Peremptória1. De tom terminante. Que não admite contestação: Eu sei.

É bom lembrar que Paulo não era um homem qualquer, mas um homem excepcional. Culto. Esclarecido. Não era um fanático. Um paranóico. Padecendo de delírios de grandeza. De alucinações. Era teólogo. Escritor. Pregador. Líder respeitadíssimo da igreja apostólica.
Um homem dessa envergadura merece fé: se ele disse que sabia é porque sabia.
E que sabia ele?

Sabia em quem tinha crido. Em quem e não em quê. A sua fé tinha por objeto uma Pessoa e não uma coisa. Era crença, não era crendice. Ele não era prisioneiro de uns tantos artigos de fé, mas de alguém. De Jesus. De Jesus ele era mais do que prisioneiro: era escravo. Como escreveu no prefácio da Epístola aos Romanos: "Paulo, escravo de Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para Evangelho de Deus" (Romanos 1:1).

Ele tinha fé esclarecida. Racional. Consciente. Não apenas dogmática2, mas pragmática3 porque era em quem e não apenas em quê.

Tão esclarecida e racional e consciente e experimental que ela não era um fato passado, mas presente. Porque quando ele disse tenho crido ele estava usando o pretérito perfeito desse verbo e na língua grega o pretérito perfeito associa duas ações: uma que foi completada no passado e outra que se completa no presente. Uma pontilear; outra, linear. Era como se ele dissesse: cri e continuo crendo.

A fé tem que ser assim. Como uma labareda que arde e não como cinzas de uma labareda que ardeu. Atual e não passada.

A fé que é apenas uma reminiscência4 não houve. Foi um simulacro5. Um arremedo6. A fé autêntica não sucumbe nunca, antes evolui sempre. Cresce. Consolida-se.

O crente começa pequeno e acaba grande. Torna-se adulto. Amadurece. Quanto mais crê tanto mais crê. Porque a fé é uma relação entre pessoa e Pessoa. Quanto mais conhecemos a Pessoa de Jesus tanto mais a nossa fé nele se revigora. Por isso a fé é inabalável. Indissolúvel. E crescente.

De sua empregada que se fechara no quarto para orar o patrão indagou irônico: - Mas você ainda crê num Deus que não existe?
Como não existe, senhor, se agora mesmo conversei com ele?
Eis aí: argumento é uma coisa; experiência é outra. Saber, por força de um silogismo7, que Deus existe é uma coisa; ter comunhão pessoal com ele é outra. A fé não é uma noção de Deus, mas uma experiência de Deus. Vida com Deus. Que só podemos ter pela fé - a graça como causa eficiente e a fé como causa mediante:
"Pela graça sois salvos, mediante a fé" (Efésios 2:8)


1 Peremptório: que é terminante, definitivo, decisivo.
2 Dogmático: referente a um ponto fundamental de uma doutrina religiosa, que se apresenta como certo e indiscutível, o qual se espera que as pessoas aceitem como verdade sem questionar.
3 Pragmático: aquilo que está direcionado para objetivos práticos; o que é realista e objetivo.
4 Reminiscência: Lembrança vaga; Uma imagem do passado que se mantém na memória.
5 Simulacro: Imitação; Falso aspecto; de aparência enganosa.
6 Arremedo: Cópia ou imitação deficiente.
7 Silogismo: Lógica aristotélica que diz que a partir de duas proposições obtém-se uma conclusão. Ex: Se A é igual a B e B é igual a C então se conclui que A é igual a C.



Pastor Rubens Lopes

Um comentário:

  1. Fiz questão da cruz na imagem... mas a cruz vazia, aquela que representa em quem tenho crido!

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